2 de fevereiro de 2015

Cássia Eller


Idem, Brasil, 2014. Direção: Paulo Henrique Fontanelle. Duração: 120 min.
Caso pegarmos para comparação Loke, Dossiê Jango e Cássia Eller, eu acredito que não conseguiríamos definir quem é Paulo Henrique Fontanelle. Adaptando-se a cada resgate histórico que faz sobre seus protagonistas, o diretor transmite mudanças genuínas conforme a obra é tratada – no filme sobre o ex-presidente, por exemplo, as nossas dúvidas giravam sobre a morte de João Goulart, enquanto em Cássia Eller somos envolvidos por uma figura que simplesmente não conhecíamos. Não desta forma, ao menos.
Fazendo um apanhado sobre toda a vida de Eller, numa linearidade maravilhosa, o diretor nos transporta às fotos de Cássia e Eugênia, a fim de nos deixar mais íntimos de uma mulher que divergia da vida para o palco, onde era seu verdadeiro lar. Repetindo a sua já conhecida montagem dinâmica, imprimindo elegância de uma transição para outra – como nas das fotos, a do cd acústico e, a minha favorita, de um show para uma foto de Cássia cantando (um simbolismo belo), Fontanelle é calmo ao trazer a vida dessa personagem para as telas, o que faz com que pareça estarmos realmente vendo uma carreira sendo construída em tempo real.
Desta forma, a comovente entrevista com Nando Reis fica para o final, bem como a do filho da cantora, que influencia muitas escolhas. O cineasta não tem medo de colocar o passado experimental da cantora, idem, onde muitos falam sobre envolvimentos com drogas, relacionamentos abertos e uma futura depressão começando a se instalar. Pelo contrário, Fontanelle gosta de evidenciar essas inúmeras facetas de Cássia, que nos aproximam de sua principal: o amor pela música. Assim sendo, o vínculo se torna mais forte a medida que vamos reconhecendo mais a genuinidade da cantora, bem como seus momentos polêmicos. Além disso, o diretor ainda arranja tempo para desarticular manchetes sensacionalistas sobre a morte de Cássia Eller, em sequências politicamente engajadas que soam excelentes.
Eu me lembro que existia uma cena antológica em Dossiê Jango, logo no começo, que apontava para as águas pertencentes ao famoso Rio Uruguai sendo observadas pela figura de Jango tomando chimarrão à beira do rio, o seu único confidente. Em Cássia Eller, o microfone aponta certeiramente para a resposta: quem era aquela mulher!?

 

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