12 de fevereiro de 2015

Whiplash: Em Busca da Perfeição

Whiplash. EUA, 2014. Direção: Damien Chazelle. Roteiro: Damien Chazelle. Elenco: Miles Teller, J.K. Simmons, Melissa Benoist, Paul Reiser, Nate Lang. Duração: 107 min. 

Há uma veia temática de Aronosfky muito forte no filme de Damien Chazelle, Whiplash, que está escancarado na pele do jovem Andrew: a entrega absoluta em busca da perfeição. “Os suplentes limpem o sangue da bateria, pois está na hora de começarmos”, repreende o inesquecível Fletcher, interpretado com uma dureza avassaladora por J.K. Simmons. Para ambos, o cineasta e o professor, não interessa o passado, o trabalho ou a vida pessoal, mas o que você produz num espaço curto de tempo, após uma dedicação completa. Um caminho árduo, mas necessário – na visão deles.

Andrew é a cobaia perfeita. O jovem prodígio que serve para denunciar uma promessa que todos buscam encontrar, cujo dom reside na sua cobiça por reconhecimento, manter-se na memória, ser motivo de discussão. O próximo Buddy Rich. É quem parece compreender e complementar Fletcher, quem o “entende”. A pessoa que pode introjetar algo entre a relação mestre/aprendiz. Sua arrogância está lá, tão dúbia quanto a sua paixão pela sua arte – o que nos remete a uma sensação estranha. A situação na mesa de jantar, por exemplo, é um bom exemplo: o garoto é claramente a vítima de um preconceito velado com a música, mas que, em situação de defesa egocêntrica, não parece se importar com empatia/educação; assim sendo, transformando-se no agressor. Tanto no seu descaso com os adolescentes titulares de um time de futebol americano (“essas serão palavras que você nunca ouvirão na NFL” é hilário, mas cruel), como com sua relação intransigente com a personagem de Melissa Benoist.

E é importante o tato do roteiro com a situação, já que a maneira como o romance se desenvolve é bastante singular: se num momento Andrew parece finalmente estar conquistando algo, e fica confiante o bastante para convidá-la para sair; noutro, ele se comporta como seu próprio mestre, ao tratá-la com uma profunda indiferença.

São rostos de uma mesma moeda, e Milles Tiller é competente o suficiente para produzir um elo de ligação com a aspereza de J.K. Simmons, a qual é aliada ao tom milimetricamente sensível que é pontuado por este: por vezes, no tom de voz ao falar com carinho em alguém ou no tratamento dado aos amigos; noutras, em acordes tristes de um piano ou no olhar recompensador, ao encontrar o que buscava, no maravilhoso clímax. 

Fletcher carrega uma honestidade brutal. Enquanto Andrew é o suprassumo da exigência para Chazelle, que chega ao ponto de mostrar o personagem abandonando um acidente de carro para ir fazer seu trabalho. Idem, é um filme onde o tempo e a singularidade são sempre importantes, e os enquadramentos aproveitam para indicar esse fato a cada instante – note os relógios que sempre os cercam.

Na história de Chazelle, a busca pela afirmação é obtida no palco, fruto de uma razão de viver para aquelas pessoas. À distância de um olhar de aprovação está o limite tênue entre a entrega e a abnegação. Um solo é o bastante. E sangue e suor são consequências.


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