28 de novembro de 2014

Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1


The Hunger Games: Mockinglay - Part 1, EUA, 2014. Direção: Francis Lawrence. Roteiro: Peter Craig e Danny Strong, baseado no livro de Suzanne Collins. Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Woody Harrelson, Donald Sutherland, Julianne Moore, Philip Seymour Hoffman. Duração: 123 min.

É uma evolução curiosa, ainda que frustrante, a de Katniss ao decorrer dos três filmes da franquia Jogos Vorazes. Se no primeiro longa, a personagem se desprendia do uso feminino nos filmes do gênero como "protegida dos interesses românticos" e usava sua força para criar uma empatia interessantíssima; no segundo, a profundidade da trama ia ao encontro das expectativas futuras para a maturidade adquirida pelo tom sanguinário dos confrontos anteriores. É uma pena que no terceiro filme, o roteiro de Peter Craig e Danny Strong, que não estavam no controle do segundo (o melhor dos três), rendam-se a um romance tolo e infantil, perdendo forças no que a trama havia de melhor: um estudo do uso do instrumento político e sua fragilidade.

Não só falhando em acrescentar uma atmosfera burocrática e nada tensa, mas transformando a guerra civil em algo publicitário, ambos ainda julgam que seria muito interessante adicionar algo "bondiano" para a estrutura narrativa: assim, as cenas em que Katniss e Gale testam roupas e arsenais não conseguem ser mais do que constrangedoras. Da mesma forma, a fotografia pouco inspirada de Jo Willems se encarrega de mudar cenários com um exagero abusivo - e basta observar a diferença da paleta de cor escura dos campos para o branco quase ofuscante da sala de Snow. O design de produção, todavia, oferece um trabalho eficiente na composição dos terrenos devastados pelo governo e os esqueletos nas estradas, embora use um artifício pedestre e grosseiro: deixar a casa de Katniss completamente intacta.

Francis Lawrence, por sua vez, compreende o progresso tomado pela história e procura administrar a ótica ditatorial versus a revolução popular, trabalhando a arte de vender uma revolta e construir um ícone adequadamente. Além disso, o diretor constrói o sensacionalismo novamente de maneira eficiente e possui seu auge na cena do hospital, apesar de continuar com suas insistentes tomadas nas costas dos personagens, as quais não acrescentam coisa nenhuma. Sem contar a utilização cômica de um gato, sempre deslocada.

Entretanto, se o cerne político do longa-metragem é bem mais precário que no anterior, as atuações continuam sendo o centro principal de Jogos Vorazes. E, neste sentido, o genial Philip Seymour Hoffman outra vez aproveita seu pouco tempo de tela para denunciar suas inúmeras facetas: principalmente a de articulador (gosto muito da repetição das falas por ele durante um discurso) e sua compaixão com a causa - a cena em que ele sente cada um dos bombardeios é tocante. Ao passo que Julianne Moore e Donald Sutherland se mostram igualmente coadjuvantes de luxo.

Mas é Jennifer Lawrence, que num overacting ainda mais gritante que no segundo Jogos Vorazes, rouba a atenção para ela, por destoar do restante. Desde suas expressões de choque exageradas ao se deparar com as mortes no seu distrito, passando pelo reprimido grito de guerra num estúdio, até uma corrida desengonçada pelo refeitório; a atriz parece imaginar que emoções à flor da pele necessariamente significam exceder todos os seus sentimentos, o que acaba caindo numa constrangedora caricatura. Além do mais, distanciando-se cada vez mais de alguém que foi jogada numa situação que não gostaria de estar (o primeiro filme) ou servindo como um pária social (o segundo), Katniss indica pela primeira vez na franquia um tom mimado que não condiz com sua persona, como evidencia todos os momentos em que se preocupa com Peeta, mostrando que, para ela, ele é mais importante que todo o resto. Além de, ao mesmo tempo, passar a se tornar alguém dependente da figura masculina, o que conflita com tudo o que entendíamos sobre ela até então. Neste caso, vale apontar as cenas em que Katniss é acuada por Gale, que se transforma num grande herói, sua preocupação adolescente com Peeta (prestes a entrar numa grande guerra, a primeira coisa que ela pergunta é o que acontecerá com sua paixãozinha platônica), além de precisar de proteção quando tem um pesadelo.

Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1 retrocede em sua própria essência para preterir a ação futurista por uma novela infanto-juvenil problemática e desestimulante. Assim, uma personagem que parecia estar evoluindo para se tornar uma Ripley moderna acaba se tornando uma versão mais estilizada da protagonista de Crepúsculo.


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