24 de novembro de 2014

Boa Sorte

Idem, Brasil, 2014. Direção: Carolina Jabor. Roteiro: Jorge e Pedro Furtado, baseado numa história do primeiro. Elenco: Deborah Secco, Edmilson Barros, Fabrício Belsoff, Felipe Camargo, Cássia Kiss. Duração: 90 min.

Priorizando planos centrais e poucos cortes, Boa Sorte é uma obra que tenta extrair o máximo de seus ambientes, sem que para isso use tanto invencionismo gráfico. A princípio, o filme da interessante Carolina Jabor busca dizer muito com pouco, ainda que o roteiro frustre essas intenções.
Girando em torno de uma clínica de psiquiatria, lugar em que João conhece Judite, o longa-metragem investe em temas como HIV, crises existencialistas e tempo, mas buscando encontrar um equilíbrio numa ingenuidade que já nasce morta. Assim, as divagações dos personagens sobre saliva, invisível e a fanta misturada com remédio só não soam piores porque Secco e Zappa acreditam no papel que desempenham, fazendo com que consigamos observar nascer uma química entre eles.
Igualmente, o roteiro expositivo abusa das soluções fáceis no relacionamento entre João e Judite, inclusive, colocando o tão esperado flagra e usando uma superficialidade confortável para gerar o ponto de virada necessário. Mesmo destino que encontra o raciocínio entre corpo e mente, que é discutido continuamente no longa, aliás.
Por outro lado, Jabor é perfeccionista em seus movimentos de câmeras: chegando a usar a imagem para diagnosticar o que está acontecendo entre os protagonistas na piscina – note, neste caso, o plano/contra plano que nos indica a desconfiança de João e a tentativa dele fugir do tópico que o faz assim; e, após isto, como a diretora enquadra os dois nas mesmas condições, como se João compreendesse o que precisava ser compreendido: ele a amava, e isto basta. Jabor, ao mesmo tempo, consegue introduzir a “sorte” de seu título na trama: a intercalação entre bem-vindo e os créditos iniciais ou o pensamento final refletem bem. Além do meu momento favorito, o plano sequência da dança. Todas elas, cenas que ofuscam as outras falhas, como o uso da câmera em primeira pessoa no protagonista, de vez em quando, ou a conversa por pensamento.
Boa Sorte é um filme simpático, mas levemente frustrante por ter podido oferecer mais. Ainda que seja um drama em sua essência, é a tentativa de uma grande história de amor vivida por duas mentes perdidas.
 
 

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