4 de novembro de 2014

Interestelar

Interstellar, EUA, 2014. Direção: Christopher Nolan. Roteiro: Jonathan e Christopher Nolan. Elenco: Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Wes Bentley, Jessica Chastain, Casey Affleck, Topher Grace, John Lithgow, Michael Caine, Mackenzie Foy. Duração: 169 min.

Ao final da sessão da nova obra de Christopher Nolan, Interestelar, pode-se reclamar da mesma atmosfera que David Fincher tentou criar no discutível O Curioso Caso de Benjamin Button: sabotar a racionalidade da obra, ao se entregar diretamente ao melodrama. Algo que culmina num longa-metragem que é um apanhado de inúmeros filmes de ficção liquidificados, com seus condimentos, em uma estrutura sem muita inspiração.

É uma missão complicada, claro, conciliar o drama familiar vivido pelos personagens com o aspecto social enxergado na missão de sobrevivência – e, desta forma, a tentativa de Nolan em criar fragilidades emocionais que suscitarão no clímax do filme só não são mais caricatas que os diálogos reflexivamente nulos, como quando Anne Hathaway afirma que o amor é uma constante universal, algo que poderia certamente lembrar o roteiro de Lindelof em Prometheus. 

Abordando um cenário apocalíptico, onde a terra está afetada por ondas de poeiras que debilitam as plantações e a profissão mais bem quista acaba virando a de fazendeiro-agricultor, o personagem de Matthew McConaughey, Nolan embarca no mesmo caminho que outros tantos diretores se aventuraram esse ano e com o mesmo êxito: o argumento é mais interessante que seu desenvolvimento.

Desta forma, o primeiro ato extremamente maçante e explicativo apenas serve para indicar o relacionamento entre pai e filha e almejar um drama intenso que não existirá em instante algum, principalmente pela jornada futurista vivida por Chastain e seu orgulho quase que mimado. Ao mesmo tempo, a fragilidade na composição dos personagens femininos é novamente denunciada na figura de Murph, que chega a dizer que todo o trabalho foi de seu pai, ela só foi o instrumento de sua inteligência. É igualmente engraçado perceber que o relacionamento interfamiliar é inexistente, quando num específico reencontro ninguém troca nenhum tipo de aceno.

Por outro lado, as homenagens de Interestelar são no mínimo curiosas: o relacionamento paternal de Contato, as cápsulas e o computador de 2001, além da abordagem "howardiana" com os sacrifícios humanos e uma sequência que poderia remeter ao filme Alien - O Oitavo Passageiro. Mas sem muito aprofundamento ou coragem, especificamente na maneira com que Nolan lida com o surgimento do personagem do Doutor Mann (!!), ainda que exiba tensão numa luta corporal.

Nem mesmo um grande espetáculo visual a narrativa de Nolan consegue ser desta vez, priorizando sempre uma fórmula dramática que não combina com a pretensão. Esquecendo a brilhante cena em que finalmente a teoria das cordas é alcançada de forma ímpar (numa das melhores sequências da filmografia do cineasta) e o formato da nave espacial lembrar as engrenagens de um relógio (eles mexem com tempo, afinal), a entrada no buraco de minhoca é previsível e nada imaginativa, bem como a fotografia parece reaproveitar filtros de Inception (o planeta "residido" por Mann, por exemplo).

Numa linha tênue entre piegas, constrangedor, sentimental e exótico, Interestelar sofre especialmente pelo medo de seu realizador em criar mundos científicos que personagens não precisam explicar cada detalhe e arquitetar tragédias dramáticas para estabelecer vínculo emocional com o espectador. Com isto, instantes inegavelmente comoventes (como o que Dr. Mann chora ao reencontrar um humano em sua frente) nascem aprisionados pela estrutura. Acaba se transformando numa calamidade, a qual nem o script seria capaz de imaginar.
 
 

 

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