14 de abril de 2014

Rio 2

Idem, EUA, 2014. Direção: Carlos Saldanha. Roteiro: Jenny Bicks, Yoni Brenner, Carlos Kotkin e Carlos Saldanha, baseado numa história de Don Rhymer e Carlos Saldanha. Duração: 101 min.

Ainda que possuísse uma visão deturpada e unilateral do território brasileiro explorado, Rio era dono de certa urgência social: a compra e venda de espécimes em extinção, além de versar com desigualdades sociais. Não à toa, o diretor Carlos Saldanha explorava o contraste entre as favelas e as grandes riquezas das praias, prédios gigantescos e a ostentação de alguns poucos – o que, de certa forma, repete na continuação da animação. Claro que, nesta sequência, a paisagem muda, assim como a mensagem. Agora é na Amazônia que embarcamos e é o desmatamento o ponto de partida. Mesmo assim, o paralelo entre mundos diferentes (as duas personalidades humanas observadas quanto à extinção), a ganância e, é claro, o samba não ficam de fora da proposta. A própria sequência inicial resgata o clima de festa do primeiro, onde durante o ano novo todos dançam ao som de uma música pop que simboliza a união de todos os povos – inclusive com os pássaros entrando na dança ao redor do Cristo Redentor. O próprio logo da Fox já é tomado por pandeiros e apitos.

Entretanto, com um apuro técnico muito mais interessante em Rio 2, Saldanha oferece bons momentos na maneira criativa com que conduz seus números musicais – nunca estabelecendo alguma lógica. Seja um jogo de futebol entre pássaros azuis contra vermelhos, que deve ser a única razão para estes existirem na história; seja nas fusões durante as festividades: a melhor delas é quando um grupo de pessoas dançando de branco viram flores brancas lançadas ao mar para “agradecer” à Iemanjá. Da mesma forma, o diretor investe nos maiores sucessos de seu primeiro filme: retomando a trama de Nigel, a cacatua, que rouba completamente a cena com a ótima rã venenosa chamada Gabi – as citações shakespearianas são sempre bem colocadas. Além disso, Saldanha tem seu melhor momento na direção ao acompanhar uma sequência de voo pelo Rio de Janeiro com uma castanha do Pará, que igualmente diz muito sobre o que assistiremos a seguir. Em Rio 2, o brasileiro torna a valorizar a mensagem social e seus números musicais, criando uma revolta de pássaros que é bem significativa. Não é um filme brilhante, mas uma melhora considerável ao seu original.

* Publicada originalmente no Diário Catarinense

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