Nymphomaniac: Vol. II,
Dinamarca/Alemanha/França/Inglaterra, 2013. Direção: Lars Von Trier. Roteiro: Lars Von Trier.
Elenco: Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgard, Stacy Martin, Shia LaBeouf, Jamie
Bell, Mia Goth, Michael Pas, Willem Dafoe.
Duração: 123 min.
“Como combater a
sexualidade?”, Joe começa a pensar quando se encontra num momento de sua vida
que o prazer já não existe mais, apenas o sofrimento. Como contar a sua
história? Quais as diretrizes que a levaram até àquele instante? É interessante
e chocante, assim sendo, como Von Trier não se restringe a abordar a
sexualidade infantil em diversos momentos e a beleza quase que divina do
orgasmo. Diferente do primeiro volume, o sexo passa a ser mais profundo, não
somente algo exato – ainda que a combinação dos números seja vista, outra vez,
numa cena derradeira. O alvo do dinamarquês passa a ser a solidão e a liberdade
sexual. Mas como contrapor a dinâmica extremamente sexual de alguém que chega
ao prazer da forma mais liberal possível? A solução chega no assombroso desenvolvimento
moral de Seligman, que, personificado por um irrepreensível Stellan Skarsgard, surge
exatamente como a primeira pessoa que pode ouvir o que Joe tem a dizer por não
possuir desejos ou olhares julgadores. Seligman não é celibato, mas não existe
sexualmente. Considera-se assexuado. É exatamente o oposto da protagonista.
Da mesma forma, o equilíbrio
do primeiro filme é trocado por uma atmosfera muito mais intensa e madura, como
não poderia deixar de ser, a medida que Joe se desprende de interesses sociais
(marido, filho, emprego, ser alguém “normal”) e procura apenas ser feliz
satisfazendo os seus desejos. Os primeiros minutos que a personagem perde a
sensação sexual, por exemplo, é um dos episódios mais assustadores e dramáticos
de sua vida – o que causa uma ironia posterior belíssima. Todavia, se Von Trier
acerta no timing dessa segunda parte, o mesmo não se pode dizer de suas metáforas,
que – novamente – travam na forma explicativa com que se evidenciam. A pior delas,
certamente, envolve a menina de cinco anos num orgasmo espontâneo. É vergonhosa
a iniciativa de Seligman indicar o que seria a garota flutuando. Por outro
lado, é brilhante a forma que o diretor exprime o relacionamento de Joe e P,
bem como a descoberta da almejada árvore – a última lembrança do pai. Sem
falar, claro, nos problemas físicos que a vida desregrada cultiva, envolvendo-a
na criminalidade, além de oferecer sequências fantásticas de BDSM: desde os
hematomas até chegar ao prazer proporcionado num equilíbrio entre dor e estimulação.
Como se não fosse o
bastante, Von Trier ainda encaixa certeiramente uma faceta feminista em sua
obra: estaríamos realmente chocados com as ações de Joe, caso ela fosse um
homem? Afinal, o abandono de filhos, inúmeros parceiros sexuais e o vício é
algo constante no cinema norte-americano; mas quando a mulher é a protagonista?
É uma pena, entretanto, a forma infeliz e hipócrita (o que ela mais
naturalmente abominava) que o dinamarquês propõe o desfecho. Entendível a
maneira que Joe encontra de fugir de sua sexualidade, como prometido, mas a que
ponto? Ao ponto de mudar drasticamente uma personalidade moralmente complexa tão
somente para impactar um público que já estava ferido o suficiente. Algo que
nunca suspeitaríamos de Von Trier.
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