30 de novembro de 2012

Origem dos Guardiões, A

The Rise of the Guardians, EUA, 2012. Direção: Peter Ramsey. Roteiro: David Lindsay-Abaire, baseado no livro de William Joyce. Vozes: Alec Baldwin, Hugh Jackman, Isla Fisher, Chris Pine, Jude Law. Duração: 97 min.

Uma das maiores qualidades em termos de experiência que a animação pode nos oferecer é o regresso, mesmo que por alguns instantes, para a nossa infância. Aquele momento que parece nos fazer respirar a mesma história que move aqueles personagens e entender cada ação tomada por seus protagonistas, mesmo que soe completamente inverossímil. A aventura que somente aquele conto de fadas contado por nossos pais parece alcançar. E tanto faz quais são os personagens que farão parte desse retorno ao passado: pode ser tanto um desconhecido Lorax (que não obteve êxito), a desconhecida princesa Merida (que é maior que seu próprio filme) ou vir na forma de uma união entre vários personagens conhecidos apenas em nossos sonhos mais infantis. A Origem dos Guardiões se move basicamente por essa última cartilha, resgatando-nos aos tempos mágicos em que tudo parecia possível apenas acreditando em algo e ao mesmo tempo nos divertindo com personagens tão simpáticos quanto os desenvolvidos na narrativa.

E mesmo que conte com figuras desconhecidas pelo público brasileiro, como Jack Frost ou Sandman, o roteiro de David Lindsay-Abaire, baseado no livro de William Joyce, sai-se muitíssimo bem na tarefa de apresentá-los de forma orgânica e natural durante todo o percurso. Além disso, o roteirista consegue dar uma importância tão grande para os dois personagens quanto os mais conhecidos fada do dente, coelho da páscoa e papai noel, além do bicho papão. O roteiro também age bem em conseguir intercalar sua mensagem com diálogos nada burocráticos ou tediosos (além de ter um belo timing - “Quem é Jack Frost? É só uma expressão. Ei!”).

Do mesmo modo, o diretor Peter Ramsey é certeiro ao dosar a ação da trama em conjunto com os conflitos internos de seus personagens, mesmo que falhe em alguns momentos. Desde sua primeira aparição, por exemplo, Jack Frost mostra-se uma figura absolutamente fascinante e solitária – e a forma como é construída as suas ações com as crianças e, ao mesmo tempo, sua invisibilidade perante a descrença delas é adequadamente profunda. Assim, pontuando essa particularidade do protagonista e salientando a busca de seu cerne, o filme consegue ter uma solidez ao seu final mostrando como chegamos até ali.

Contudo, mais do que um filme emocional, a aventura conduzida por Ramsey é um estimulante e divertido entretenimento guiado por figuras simpaticíssimas. Administrando o ritmo eficientemente e criando ótimas sequências – pessoalmente, minhas favoritas são a da aurora boreal, a homenagem a Jurassic Park e a entrega de presentes –, as batalhas são suficientemente empolgantes e as diferentes ambientações são sempre bem coordenadas. A trilha sonora de Desplat, por exemplo, pontua bem o momento mágico que a trama está situada para depois dar lugar ao pesadelo fornecido pelo “bicho papão”.

E, mesmo que soe piegas em alguns momentos, a verdade é que A Origem dos Guardiões acaba se revelando a melhor animação lançada em 2012. Está longe de ser perfeito, mas é um filme encantador e que assume o papel que outros do gênero apenas tentaram esse ano.

Um comentário:

Márcio Sallem disse...

Andrey,
Você deixa bem nítido que a animação te tocou e transpareceu sinceridade. Gostaria de compartilhar a sua opinião, pois só acho um trabalho correto que troca uma boa história por um ritmo frenético e sequências de ação uma atrás da outra.