The
Rise of the Guardians, EUA, 2012. Direção: Peter Ramsey.
Roteiro: David Lindsay-Abaire, baseado no livro de William Joyce.
Vozes: Alec Baldwin, Hugh Jackman, Isla Fisher, Chris Pine, Jude Law.
Duração: 97 min.
Uma das
maiores qualidades em termos de experiência que a animação pode
nos oferecer é o regresso, mesmo que por alguns instantes, para a
nossa infância. Aquele momento que parece nos fazer respirar a mesma
história que move aqueles personagens e entender cada ação tomada
por seus protagonistas, mesmo que soe completamente inverossímil. A
aventura que somente aquele conto de fadas contado por nossos pais
parece alcançar. E tanto faz quais são os personagens que farão
parte desse retorno ao passado: pode ser tanto um desconhecido Lorax (que não obteve êxito), a desconhecida princesa Merida (que é
maior que seu próprio filme) ou vir na forma de uma união entre
vários personagens conhecidos apenas em nossos sonhos mais infantis.
A Origem dos Guardiões se move basicamente por essa última
cartilha, resgatando-nos aos tempos mágicos em que tudo parecia
possível apenas acreditando em algo e ao mesmo tempo nos divertindo
com personagens tão simpáticos quanto os desenvolvidos na
narrativa.
E mesmo
que conte com figuras desconhecidas pelo público brasileiro, como
Jack Frost ou Sandman, o roteiro de David Lindsay-Abaire, baseado no
livro de William Joyce, sai-se muitíssimo bem na tarefa de
apresentá-los de forma orgânica e natural durante todo o percurso.
Além disso, o roteirista consegue dar uma importância tão grande
para os dois personagens quanto os mais conhecidos fada do dente,
coelho da páscoa e papai noel, além do bicho papão. O roteiro
também age bem em conseguir intercalar sua mensagem com diálogos
nada burocráticos ou tediosos (além de ter um belo timing - “Quem
é Jack Frost? É só uma expressão. Ei!”).
Do mesmo
modo, o diretor Peter Ramsey é certeiro ao dosar a ação da trama
em conjunto com os conflitos internos de seus personagens, mesmo que
falhe em alguns momentos. Desde sua primeira aparição, por exemplo,
Jack Frost mostra-se uma figura absolutamente fascinante e solitária
– e a forma como é construída as suas ações com as crianças e,
ao mesmo tempo, sua invisibilidade perante a descrença delas é
adequadamente profunda. Assim, pontuando essa particularidade do
protagonista e salientando a busca de seu cerne, o filme consegue ter
uma solidez ao seu final mostrando como chegamos até ali.
Contudo,
mais do que um filme emocional, a aventura conduzida por Ramsey é um
estimulante e divertido entretenimento guiado por figuras
simpaticíssimas. Administrando o ritmo eficientemente e criando
ótimas sequências – pessoalmente, minhas favoritas são a da
aurora boreal, a homenagem a Jurassic Park e a entrega de presentes
–, as batalhas são suficientemente empolgantes e as diferentes
ambientações são sempre bem coordenadas. A trilha sonora de
Desplat, por exemplo, pontua bem o momento mágico que a trama está
situada para depois dar lugar ao pesadelo fornecido pelo “bicho
papão”.
E, mesmo
que soe piegas em alguns momentos, a verdade é que A Origem dos
Guardiões acaba se revelando a melhor animação lançada em 2012.
Está longe de ser perfeito, mas é um filme encantador e que assume
o papel que outros do gênero apenas tentaram esse ano.
Um comentário:
Andrey,
Você deixa bem nítido que a animação te tocou e transpareceu sinceridade. Gostaria de compartilhar a sua opinião, pois só acho um trabalho correto que troca uma boa história por um ritmo frenético e sequências de ação uma atrás da outra.
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