16 de outubro de 2012

Entidade, A



Sinister, EUA, 2012. Direção: Scott Derrickson. Roteiro: Scott Derrickson e C. Robert Cargill. Elenco: Ethan Hawke, Juliet Rylance, Fred Dalton Thompson, James Ransone, Michael Hall D'Addario, Clare Foley. Duração: 110 min.

A Entidade se move basicamente pela ideia de que o arrepio é tão importante quanto os sustos. Dessa forma, Scott Derrickson tenta criar uma trama que, ao mesmo tempo, em que instiga o espectador a querer saber mais sobre o mistério, assusta-o tanto quanto o protagonista neste percurso. Assim sendo, o diretor encontra substância não apenas na atmosfera, mas em como desenvolve essa parcela de sustos – mesmo que falhe durante alguns momentos ao mostrar o pragmatismo do gênero em abundância.

Escrito pelo próprio Derrickson (que também já havia mostrado talento em Emily Rose), em parceria com o estreante C. Robert Cargill, a história gira em torno do escritor Ellison Oswalt que teve seus quinze minutos de fama há muito tempo com uma espécie de “A Sangue Frio” moderno e tenta encontrar em um novo caso o seu próximo best-seller. Porém, o que o jovem escritor encontra na casa em que se muda é algo muito mais aterrorizante do que apenas uma nova cena de crime.

Alternando entre o burocrático e o atraente, o diretor aborda cada um de seus planos como se tentasse achar o ritmo certo em pontos chaves da trama: algo que acaba sabotando um pouco a pretensão do projeto. Não que o diretor não saiba fazer o básico do gênero, oferecendo uma boa profundidade de campo em corredores escuros ou realizando cortes secos na aparição de certos espíritos, mas não consegue ser seguro o suficiente para saber qual o caminho que deve percorrer.

Aliás, uma das palavras chaves do projeto é a falta de atrevimento de seu realizador. Derrickson, por exemplo, insiste, nos momentos mais chocantes da narrativa, a desviar a atenção da cena em questão (principalmente as cenas envolvendo snuff film) para ressaltar sua técnica atrás das câmeras. Não que isso apareça de forma errônea, pois o simbolismo da cena em questão (notamos as mortes no reflexo dos óculos do escritor, como se olhássemos do ponto de vista dele) é extremamente coerente e interessante, apenas peca um pouco na falta de ousadia.

Entretanto, quando o diretor acerta no ponto que procura e no mistério envolvendo as supostas aparições, o filme ganha ares mais clássicos. A resolução do mistério por si só já soaria interessantíssima, apenas por descobrirmos o modus operandi do “serial killer” e os responsáveis pelas mortes registradas em vídeo, ainda que mais uma vez o longa pudesse trilhar por um caminho menos didático. Além disso, Derrickson consegue demonstrar em seus personagens o sofrimento da família visto na pele do pai (e, mais uma vez, tem que se aplaudir a resolução em que simplesmente decidem ir embora do local) e oferece certa profundidade ao evidenciar os problemas que Ellison enfrenta com o desaparecimento de sua fama passada e seu problema com a bebida.

Finalmente, o diretor outra vez ensaia uma luta ciência x demônios ao mostrar novamente a possessão como o principal ponto do filme, algo que já tinha abordado com sucesso em O Exorcismo de Emily Rose. E se mostra um pouco mais à vontade na direção (a elipse com Hawke no sofá ou a incrível cena em que as crianças perseguem o personagem pela casa demonstram isso), mesmo que ainda passe certa insegurança pela falsa familiaridade com o gênero. Mesmo assim, A Entidade consegue êxito em levar ao espectador a sentir o desconforto que tanto necessita e nesse meio tempo ainda versa uma profundidade não tão comum a esse tipo de cinema.

Um comentário:

Márcio Sallem disse...

Engraçado a maneira como as "estrelas" enganam: eu gostei marginalmente do filme e dei as mesmas três estrelas que você, que gostou bastante.

Enfim, curioso você mencionar a elipse do sofá, pois pensei em encaixá-la no texto mas não achei espaço para comentar sobre a montagem. Em relação à resolução do mistério, senti a mesma decepção de quando assisti a Sobrenatural (que acho muito melhor). Acho cômodo demais que os terrores atuais tenham a obrigação de explicar pormenorizadamente os seus vilões ao invés de manter o espectador na sufocante insegurança.

Considero fraca a explicação ao estilo "Imagens do Além" e preferiria que não soubéssemos o porquê da entidade estar perseguido o cara. Pois no fundo isso é o que menos importa, ao menos no contexto da narrativa.

By the way, ótimo texto meu amigo!