26 de outubro de 2012

As Vantagens de Ser Invisível

The Perks of Being a Wallflower, EUA, 2012. Direção: Stephen Chbosky. Roteiro: Stephen Chbosky, baseado em seu próprio romance. Elenco: Logan Lerman, Emma Watson, Ezra Miller, Mae Whitman, Paul Rudd, Dylan McDermott, Kate Walsh, Nina Dobrev e Melanie Lynskey. Duração: 103 min.

As Vantagens de Ser Invisível se move basicamente pela cartilha de um filme “indie”, uma vez que temos: o adolescente solitário, problemático, mas inteligentíssimo (e que apesar de saber mais do que qualquer garoto de sua idade – pasmem! – começa a adquirir livros apenas perto do fim do colegial); um dos rapazes mais descolados da escola, que necessariamente será excêntrico; a garota rebelde que tem um interior muito mais humano; o professor de inglês que é um escritor genial incompreendido; e, obviamente, a amiga interessantíssima que será o interesse romântico do protagonista, mas só se apaixona pelos caras errados. Visto dessa forma, pode parecer que o filme é levado ao lugar comum do gênero e que não tem nenhum tipo de qualidade; todavia, no final da narrativa, As Vantagens de Ser Invisível se mostra muito mais complexo do que aparentava ser e consegue nos aproximar tanto de seu trio principal, que terminamos a narrativa com um leve sentimento de perda.


E isso poderia ser completamente perdido no roteiro escrito por Stephen Chbosky, baseado em seu próprio romance, que aborda o solitário Charlie (Lerman) na tentativa de apenas sobreviver ao seu período escolar depois da morte de seu melhor amigo. Afinal, Charlie não difere de muitos garotos de sua idade: sofre um constante bullying, é dono de uma timidez inflexível e a única pessoa que quer sua amizade é o professor que vê potencial no jovem rapaz. Mas Lerman continuamente soa de forma muito natural e verossímil, como se estivéssemos vendo um documentário sobre a vida de um futuro escritor ou algo do tipo. E mesmo que algumas decisões tentem o tornar um rapaz desajeitado e tolo, como muitos personagens do gênero são, por diálogos risíveis (“Por que as pessoas certas se apaixonam pelas pessoas erradas?”), Logan Lerman demonstra uma maturidade muito grande ao lidar com uma complexidade acentuada no clímax e a qual não esperávamos.

Da mesma forma, o carisma, simpatia e talento de Emma Watson e, principalmente, Ezra Miller surgem extremamente beneficentes ao longa-metragem, trazendo um entrosamento ímpar aos personagens e que nos faz sentir ainda mais íntimos daqueles momentos vividos por eles. Seja em um curioso jogo de verdade/consequência, numa troca de presentes ou em momentos mais emocionais, como na visita de Sam e Patrick para Charlie.


Assim, contando com a química de seu elenco, o diretor obtém tempo e disposição para planos bem executados (como aqueles em que insistem em apresentar o protagonista sozinho no meio de uma multidão e depois expõem o trio da mesma forma) e para uma coesão narrativa deveras surpreendente. Aliás, mesmo que os flashes e alucinações soem meio deslocados na trama, não há como negar que, ao final da narrativa, eles se mostram muito mais do que necessário. E pare nesse trecho se você ainda não viu o filme. (Por exemplo, a maneira como Chbosky não escancara o abuso sexual sofrido durante a infância pela tão “amada” e lembrada tia, demonstra-se não apenas uma decisão certíssima, como também curiosa na forma como é desencadeada – durante um ato sexual, algo que a própria psicologia discorre. Igualmente, a cena em que Patrick e Charlie vão dar um passeio e o primeiro acaba beijando o amigo em um momento de desamparo, mostra-se muito madura pela forma como é desenvolvida e pela própria reação de Charlie ao não retribuir o beijo, mas entender o amigo ao mesmo tempo). Pode-se retomar a leitura a partir do próximo parágrafo.


Ainda que falhe por exagerar demais em certos pontos – destacando alguns estereótipos e alguns diálogos (“Eu me sinto infinito”) –, As Vantagens de Ser Invisível é uma grata e adorável surpresa que conta com inspirados e promissores protagonistas. Um percurso tão encantador quanto um passeio de carro ao som de David Bowie.

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