4 de setembro de 2012

O Ditador


The Dictator, EUA, 2012. Direção: Larry Charles. Roteiro: Sacha Baron Cohen, Alec Berg, David Mandel e Jeff Schaffer. Elenco: Sacha Baron Cohen, Ben Kingsley, Anna Faris, Jason Mantzoukas, Chris Elliot, John C. Reilly. Duração: 83 minutos.

Depois de seus últimos filmes, já há como observar que Sasha Baron Cohen é constantemente sabotado pelo mesmo fator que é sua maior qualidade: o exagero. Se em Borat, o abuso constante era sempre preciso e nunca soava como algo extremamente forçado; em Bruno, esse quesito já não era mais uma novidade. Contudo, em “O Ditador” Cohen volta à boa forma em uma trama que, ainda que tenha diversos problemas em seu percurso no excesso do ator, consegue criar sequências hilárias e impensáveis, gerando uma obra que alterna entre tola e marcante.


Escrito por Alec Berg, David Mandel e Jeff Schaffer, além do próprio Cohen, a história acompanha o ditador Aladeen e sua ida para os EUA para discursar na ONU sobre o programa nuclear que seu país está desenvolvendo. Entretanto, Aladeen é sequestrado de seu hotel e uma conspiração para retirá-lo do poder e estabelecer a democracia de seu povo é desencadeada. O ditador, portanto, alia-se com uma antiga desavença para recuperar sua identidade e retomar seu trono; ao passo que faz uma inimaginável amizade com uma ativista


Estabelecendo desde o primeiro minuto o politicamente incorreto gritante que se tornou a marca dessa parceria, Larry Charles sempre trata de explorar o absurdo de cenas como o nascimento de um bebê com barba ou uma mulher morrendo em um parto, sufocada. Além disso, o diretor busca enaltecer (mas não consegue) a graça de cenas grotescas, como: o beijo nas axilas, as brincadeiras com o formato das armas nucleares ou na exploração sexual de atores de Hollywood, que são partes da parede de troféus de Aladeen. E, mesmo que certas decisões tomadas no primeiro ato consigam ter um potencial crítico, fica claro que os atores (incluindo o próprio Cohen) não conseguem encontrar o timing desejável – basta observar que mesmo as cenas em que o ditador aparece numa curiosa competição de atletismo ou jogando em seu castelo soam deslocadas.

 
Em contrapartida, chega a impressionar o quanto os problemas que o longa-metragem mantinha até então ecoam imperceptíveis quando os atores acertam no timing e as situações em que o ditador se envolve tornam-se hilárias. Assim, diálogos como “20 dólares por uma internet e eu que sou acusado de criminoso?” ou a situação que passa no bar em que é odiado ou as conversas no helicóptero afirmam o potencial que o filme tinha, mas ainda não havia conseguido encontrar – e as cenas em que mostram Aladeen no trabalho (principalmente os tapas em clientes provocadores e o sequestro da família de um fiscal) são as melhores do longa-metragem.

Ao mesmo tempo, o filme também acerta no tom e subverte as expectativas da previsibilidade que parecia estar surgindo. E há de se destacar a cena em que Aladeen ameaça pular de uma ponte, mas é convencido pelo amigo a ser o melhor ditador que o mundo já viu ou o intenso discurso sobre democracia e ditadura que faz no final da narrativa (“já imaginaram fraudar eleições? Mentir sobre Guerras? E mídias controladas por apenas uma família?”).

 
Pois, mesmo que o filme falhe em encontrar uma abordagem mais profunda, limitando-se a brincar superficialmente com o tema e investir numa história de amor improvável e desinteressante; no final, até o timing que não era encontrado antes ganha muito nas cenas mais excessivas (como na discussão acerca dos meninos de 14 anos, no parto ou na constante brincadeira com uma cabeça de um morto). No final, uma coisa é certa: Cohen precisa aprender a se conter mais nos seus maneirismos e exageros, pois –se já é aceitável agora –, quando conseguir, poderá se tornar um dos melhores atores de comédia de sua geração.