6 de setembro de 2012

O Legado Bourne


The Bourne Legacy, EUA, 2012. Direção: Tony Gilroy. Roteiro: Tony e Dan Gilroy. Elenco: Jeremy Renner, Rachel Weisz, Edward Norton, Scott Glenn, Stacy Keach, Donna Murphy, Michael Chernus, Corey Stoll. Duração: 135 minutos.

Não seria exagero afirmar que a trilogia Bourne figura entra as mais importantes do cinema de ação nos últimos anos. Com um ator extremamente carismático, competente e situações que não julgavam a inteligência de seu público, os primeiros exemplares da trilogia conseguiram manter um espectador fiel aos contornos e extensões que aquela trama iria percorrer – o que culminou nos excepcionais (e ligeiramente pretensiosos) capítulos dirigidos por Greengrass. É uma pena, portanto, que o “legado” do agente não tenha sido explorado da melhor forma possível e o que observamos nesse recomeço seja uma trama sem inspiração, insípida e inconsequente.

Escrito e dirigido pelo promissor Tony Gilroy (que aqui adverte uma total incapacidade para dirigir um longa dessa magnitude), também roteirista dos outros três filmes, a trama gira em torno de Aaron Cross – um dos agentes que se submeteu ao mesmo projeto de recrutamento de Jason Bourne, um programa conhecido como Treadstone. Depois de um vídeo que abalaria por completo todo o projeto realizado até então que envolvia esses super agentes, pessoas envolvidas no governo começam uma queima de arquivo para proteger seus interesses; porém, não contavam que mais uma vez uma dessas pessoas sobrevivesse e pusesse todo o esquema a perder.

Mostrando uma direção extremamente insegura desde os primeiros momentos da narrativa, Gilroy parece apostar que apenas mudar de uma ação para outra durante o longa seria o suficiente para trazer algum tipo de dinâmica ou ritmo. Do mesmo modo, o diretor aplica flashbacks constantes e deslocados – observe, por exemplo, quando é mostrado como o personagem de Norton conheceu Cross e seu acréscimo para a trama: nada. O diretor também transparece sua completa inexperiência nas tramas de ação ao apostar nos convencionais cortes rápidos, trazendo sequências incompreensíveis; e há de se ressaltar que a estúpida “homenagem” feita ao filme Exterminador do Futuro 2, em determinado momento, não apenas consegue destoar completamente da trama que era apresentada até ali, como também soa extremamente desapropriada.

Como se não fosse o bastante, o diretor/roteirista também não parece saber para onde encaminhar sua história e demonstra sua fragilidade ao tentar transmitir de forma desconcertante a compaixão de Aaron pela vida no primeiro ato. Além disso, busca continuamente diálogos expositivos tentando taxar cada um de seus personagens – e a apresentação de um vilão estereotipado feita no segundo ato, somente para trazer algum tipo de clímax para uma história que não saía do lugar, é lamentável.

E se por um lado Matt Damon trazia uma complexidade para um personagem que transitava entre momentos frios e de indulgência, o personagem de Jeremy Renner nunca consegue soar no mínimo carismático ou intrigante – fazendo com que o filme torne-se um exercício de paciência. Rachel Weisz, ao mesmo tempo, também surge como alguém totalmente dispensável para a trama ao não conseguir transmitir nenhum tipo de empatia ou química com Aaron e, sua importância para o projeto ser praticamente nula, como a própria gosta de salientar.

Prolongando-se demais e contando com um terceiro ato que prejudica ainda mais o futuro da franquia no cinema, ao seu final, O Legado Bourne soa apenas como uma desinteressante trama super-agente-inteligente-explosivo e um filme extremamente embaraçoso ao que os longas de Greengrass haviam acarretado até aqui. E não há como não achar curioso e irônico quando a Dra. Shearing afirma numa situação que queria que eles estivessem perdidos; porque, afinal, nada conseguiria ser mais pertinente: eles estavam.

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