Dr. Seuss’ The Lorax, EUA, 2012. Direção: Chris Renaud e Kyle Balda. Roteiro: Ken Daurio e Cinco Paul, baseado no livro de Dr. Seuss. Elenco: Danny DeVito, Ed Helms, Zac Efron, Taylor Swift, Betty White e Rob Riggle. Duração: 86 minutos.
Tentando se desvencilhar da onda de animações adultas que tomou de assalto as telas, a proposta de Lorax é até interessante: conscientizar as crianças a ações melhores para mudar a maneira como enxergamos a natureza e o que estamos fazendo para impedir ações que a destrói. Entretanto, o grande problema do longa acaba sendo, justamente, unir essa abordagem infantil com uma pretensão gigantesca que tenta abraçar o máximo que consegue (poluição, desmatamento, falta de água, etc) – transformando o que era para ser uma trama mágica e sem grandes pretensões em algo tolo e caricatural.
Escrito por Ken Daurio e Cinco Paul (responsáveis por coisas como “Meu Papai é Noel 2” e “Jimmy Bolha”), baseado no livro de Dr. Seuss, a trama gira em torno do pequeno Ted que embarca numa “aventura” para encontrar uma trúfula (uma espécie de árvore de algodão doce) para finalmente conquistar a garota de seus sonhos. Para encontrá-la, porém, Ted tem que sair dos arredores de sua cidade para ouvir a história de Once-Ler e descobrir como chegar até a sonhada trúfula.
Portanto, apenas pela sinopse, já podemos notar que ficaremos durante 80% do filme escutando atentamente a história de Once-Ler e seus arrependimentos, para no último minuto o mesmo entregar algo crucial para o desenrolar do terceiro ato. Assim, o roteiro não tenta fugir das convencionais histórias infantis com lição de moral, algo que é igualmente ressaltado pela direção de Renaud e Balda – note, por exemplo, como os diretores insistem em dar closes nas reações vilanescas de O’Hare e no momento que a câmera se afasta para mostrar uma cachoeira imponente.
Também sem inspiração se mostram os diálogos feitos pela dupla Daurio e Paul que até sugerem que o filme será levado numa poesia constante, mas que passa a ser usada apenas pontualmente, algo que só cabe para salientar a falta de talento dos roteiristas até em coisas mais simples. Porém, mesmo quando usadas, as poesias sempre surgem sem nenhum pingo de honestidade ou criatividade, mas apenas como palavras aleatórias que conseguiram formar uma rima, como: “O que querem cabeças de melão? Estou em reunião!” ou “A menos que não se importe de montão, nada vai melhorar, não vai não!”.
Não satisfeitos de não serem nem adequados em sua trama infantil, os roteiristas passam a querer abordar temas mais sérios e pertinentes, mas que sempre são mostrados de maneira tão infantil que qualquer criança com mais de seis anos trataria de forma mais séria. Assim, frases como: “É que eu não sabia que alguém ainda se importava com árvores” ou “Vamos começar mudando nossas atitudes” ou, ainda, “Por que está interessado em árvores e não está jogando videogames como qualquer garoto normal?” se tornam recorrentes na trama.
Em contrapartida, a magia que os diretores tentam explorar no começo do longa é suficientemente eficiente ao trazer canções coreografadas num mundo utópico, brincadeiras que nunca causam nenhum grave acidente ou um paraíso em que peixes cantam e também podem viver na terra – aliás, um dos melhores momentos do longa, no qual vemos neves de marshmallows e árvores coloridas que parecem ser de algodão doce. Além disso, os peixes são o melhor alivio cômico do filme ao trazer os temas de Missão Impossível, por exemplo, ou quando assoviam uma canção fúnebre.
É, portanto, uma pena que a idéia de Lorax fique apenas no potencial e se saia muito pior que um semelhante seu, Happy Feet 2, em trazer o mais puro clima infantil as telas. Afundando no roteiro pretensioso de Daurio e Paul, o filme acaba se saindo terrível em sua abordagem para assuntos importantes como poluição ou na tentativa de criticar a tal capitalização do ar que é sugerida na narrativa. Desta forma, Lorax talvez seja uma prova que, por vezes, certos roteiristas têm que realmente deixar a trama para adultos.
Um comentário:
Pessoas desavisadas podem vir aqui e alfinetar: "Faltou falar sobre o Lorax, o protagonista do filme".
Eu respondo a elas: não faltou não! Ele é completamente irrelevante e dispensável. Aliás, esse pôster que você colocou na postagem é muito mais honesto do que aquele que estão usando oficialmente na divulgação, no qual o Lorax ocupa sozinho metade do cartaz!
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