The Awakening, Inglaterra, 2011. Direção: Nick Murphy. Roteiro: Nick Murphy e Stephen Volk. Elenco: Rebecca Hall, Dominic West, Imelda Staunton, John Shrapnel e Isaac-Hempstead Wright. Duração: 107 minutos.
No fundo, “O Despertar” tem uma idéia parecida com a do igualmente fraco “O Último Exorcismo”: explorar um duelo entre o sobrenatural e o ceticismo, mas que no final sempre acaba remetendo ao primeiro caso e na transformação do protagonista por presenciar algo assustador. Ou seja, não apenas parecido em sua idéia com o filme de Daniel Stamm, o filme dirigido por Nick Murphy nos apresenta não só uma trama extremamente previsível e comum, como também dá para ela um desenvolvimento que certamente deixaria Rob Zombie com orgulho.
Escrito pelo próprio Murphy, em parceria com Stephen Volk, a história gira em torno de Florence Cathcart (Rebecca Hall), a nossa protagonista cética, que até o final do filme será a mais nova personagem fragilizada diante de uma situação que ela não poderá entender. Assim, Florence acaba aceitando o pedido de Robert Mallory para visitar um internato que está sendo tomado por visões fantasmagóricas. Logo, como sabemos, a protagonista finalmente começa a entrar em choque com suas crenças quando fatos inexplicáveis e sobrenaturais começam a ser freqüentes no local.
Trazendo o aspecto frio e a postura de sua personagem principal com suficiente qualidade, Murphy acerta ao focalizar a superioridade de Florence em frente aos demais colegas em cena e é sempre beneficiado pela desenvoltura de Hall nas cenas – observe como Mallory apresenta o caso do internato e a maneira receosa como o personagem senta, num nervosismo constante; enquanto Florence é focalizada de trás, numa postura imponente, só com um cigarro sendo levantado por sua mão direita (numa clara citação da superioridade cética da personagem).
Além disso, o figurino também é eficiente ao deixar as vestes de Hall sempre mais masculinizadas (ternos, paletós, sapatos, sobretudo), salientando o clima machista em que a protagonista está envolvida. Da mesma forma, a primeira aparição de Florence confrontando com o ceticismo as “maracutaias” e o charlatanismo constantes nos ambientes que a personagem investiga traz a promessa de um grande filme, mas que nunca é cumprida.
Em contrapartida, a trilha de Daniel Pemberton não se limita a apenas ser comum, como também sempre surge deslocada– oferecendo apenas um exercício de paciência para o espectador. Note, por exemplo, a cena em que são mostradas as fotos em que o garoto aparece e a maneira como a foto por si só daria muita tensão na cena, mas como é infelizmente sabotada pela trilha que acha que dar tons mais graves e altíssimos é o suficiente para proporcionar bons sustos.
Do mesmo modo, a direção de Murphy, a partir do segundo ato, torna-se tão insegura quanto Mallory na primeira visita para Florence, ao nunca ser decidido ao que irá dar atenção em cada quadro e pela dificuldade que o diretor tem de nunca deixar sua câmera estática. Ao mesmo tempo, a incerteza de Murphy é evidenciada na cena em tenta explorar um dos cômodos e conduz sua câmera levemente e sem pressa até que de maneira brusca faz um corte seco e sem objetivo.
E é criando sua personagem de maneira imponente, inteligente e levemente sarcástica que Rebecca Hall surge como a grande escolha do elenco, ao compor Florence de maneira admirável e se apegar aos mínimos detalhes (como suas posições firmes e seguras diante dos homens). Além disso, a protagonista consegue articular seus momentos de inteligência e ceticismo com a tensão e medo que passa a desenvolver no segundo ato – só sendo prejudicada pontualmente pelo roteiro de Murphy e Volk ao ser tomada como a mulher frágil que necessita da ajuda do “homem mais forte”.
Por fim, ainda que tenha um primeiro ato interessante e que realmente leve a sério o debate entre ceticismo e sobrenatural (mesmo que nunca seja aprofundado), “O Despertar” segue o mesmo rumo desorientado de filmes como “O Último Exorcismo” e desvia-se de caminhos atraentes que já foram percorridos por obras como “1408” ou “O Exorcismo de Emily Rose”. Infelizmente, Murphy parece acreditar que sua trama já é inteligentíssima só por dar indícios de seu potencial, mesmo que no final sempre acabemos ofendidos com diálogos e situações, como: "Você devia se preocupar com os vivos, não com os mortos" (completamente fora de contexto) ou quando alguém sai da água para puxar a protagonista.
Curiosamente, o título acaba sendo um pouco irônico, já que nunca há um despertar de criatividade no longa e somos sempre “agraciados” com uma total falta de imaginação. Basta notarmos que a conclusão de sua citação inicial, além de desnecessária, poderia facilmente ser utilizada em um show de stand-up. É uma pena, destarte, que “O Despertar” não tenha sido vendido como comédia. Seria menos frustrante.
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