O fim da jornada! |
Felizmente, em 2007, o desconhecido diretor David Yates entrava na direção do quinto filme, "Harry Potter e a Ordem da Fênix", voltando ao mesmo mundo trágico criado por Cuarón, mas com uma drástica e brilhante mudança: o contexto político. Mostrando todo o amadurecimento de seus protagonistas e espelhando-se em um terror psicológico, político, ditatorial e xenofóbico, Yates havia chegado ao seu ápice na primeira parte de Harry Potter e as Relíquias da Morte ao retratar de maneira clara a filosofia de sangues-puros como nazista. Referências de “Mágica é poder”, os cartazes publicitários da idéia com cores pretas e vermelhas (inspiradas na suástica), entre outros. David Yates era brilhante ao conseguir proporcionar um sentimentalismo comovente em meio à melancolia. Algo que é curiosamente deixado de lado no capitulo final da saga. Afinal, Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2 é frio, cruel e contemplativo.
Escrito por Steve Kloves (roteirista de 7 dos 8 filmes da saga), no capítulo final da saga, Harry Potter segue em buscas das horcruxes e a batalha final está cada vez mais próxima. Harry Potter precisa se apresentar para fazer o seu último sacrifício, enquanto o confronto final com Lorde Voldemort se aproxima.
Criando um elo com a primeira parte do filme e explorando um tom contemplativo, Yates é no mínimo interessante ao trazer cenas que não precisam ser explicadas a cada 5 minutos e o mais importante: conta com total apoio do roteiro de Kloves em diálogos rápidos, contidos e frios. Algo que a primeira cena do longa já mostra claramente em um diálogo excelente entre Harry e um duende. As referencias do universo, por exemplo, conseguem aparecer na tela a todo o momento sem precisar ser lembradas. Note o dragão de Gringotes, a Penseira, as magias, situações de outros filmes que retornam, entre outros. Yates parece ter certeza de que seu publico já está acostumado com aquele universo e que tempo é algo precioso e não deve ser perdido. No entanto é admirável que a montagem de Mark Day encarregue-se disso ao mostrar flashes das relíquias e ao retratar brilhantemente quando Harry entra na mente de Voldemort ou vice-versa.
Aliás, na parte técnica Harry Potter é formidável. Desde a direção de arte impressionante (note as ruínas do Beco Diagonal e de Hogwarts, que nem de longe lembra os ambientes mágicos e aventureiros dos primeiros filmes) até a fabulosa fotografia dessaturada. Igualmente emblemática e impecável é a trilha sonora de Desplat – que faz seu melhor trabalho na saga. A trilha alterna desde momentos emocionantes como a defesa ao castelo, passando pela famosa trilha de Williams mais melancólica, até chegar ao epílogo em que a mesma trilha de Williams começa a ganhar quase que uma sobrevida (remetendo a volta por cima dos personagens e do mundo mágico). O som do filme também é impecável ao retratar a dor na cicatriz de Harry e o clima magnético em meio a gritos e terror quando Voldemort entra na cabeça dos bruxos para dar seus avisos.
Sempre apresentando seus personagens de forma comovente, mas nem por isso sentimental (note a cena em que Rony e Hermione simbolizam o amor entre ruínas), Yates também é genial na concepção de seus planos. Cenas como a marcha dos alunos filmada de cima, as cenas de batalhas de Hogwarts brilhantemente precisas e a fuga de Gringotes são bons exemplos da excelência do diretor. Ainda mais interessante é assistir o roteiro de Kloves conseguir fechar todas as subtramas criadas e que traz uma constante tensão na batalha final e se os personagens conseguirão destruir as horcruxes a tempo.
Em contrapartida, a temática espírita que o filme começa a desenvolver em seu terceiro ato pode e deverá incomodar muita gente por mostrar, em uma fotografia que abusa do branco, Harry e Dumbledore quase como filho e Criador, Harry falando com mortos e a famosa luz do fim do túnel sendo demonstrada em uma estação de trem. Ainda assim, a cena é maravilhosamente construída e admirável. Note quando Dumbledore some para deixar as decisões para Harry, sabendo que o aprendiz tomará a certa. Vale também ressaltar os impecáveis efeitos especiais que mostram de forma incrível quando os personagens “desaparatam”, as batalhas e as magias (destaque para o Expecto Patronum conjurado pelo irmão de Dumbledore).
Destacando-se no excelente elenco, Matthew Lewis desenvolve Neville de uma forma impressionante tornando-se um dos lideres da “resistência” a Voldemort e longe de ser o garotinho indefeso dos primeiros filmes. Já Helena Bonham Carter é igualmente fascinante ao retratar com estranha doçura a sua própria personagem quando Hermione toma a poção polissuco. Note o olhar meio assustado e choroso da atriz quando se passa por Hermione. Ao passo que Alan Rickman rouba a cena, chegando ao ápice em seu clímax.
Sendo corajoso em toda narrativa, Yates ainda demonstra ser inteligente ao mostrar os reflexos da guerra em seu final e o destino que os personagens sofreram na tela de uma maneira única. Harry caminhando entre os mortos e feridos no desfecho é fascinante. "Harry Potter e as Relíquias da Morte" mostra-se o melhor filme da saga e fecha com chave de ouro uma saga de dez anos. É, portanto interessantíssimo e nostálgico David Yates fechar a saga com o epilogo e fazer seu clima de despedida da série por meio de Harry e Cia acenando para o trem que parte em direção a Hogwarts. Infelizmente, um trem que parte pela última vez.
(5 estrelas em 5)
Um comentário:
Atrasada, lendo o último livro da saga, não me contive ao ler a crítica ao filme... Pelo jeito serão diversas as surpresas e conclusivos os defechos das tramas desenroladas ao longo da saga. O negócio é esperar o fim.
Postar um comentário