27 de julho de 2011

Capitão América: O Primeiro Vingador (2011)


Um dos pouquíssimos problemas de Homem de Ferro 2 era a péssima abordagem de tentar transformar todos os diálogos de seu protagonista em piadas. Porém, mesmo que Justin Theroux construísse diálogos prontos insistentemente e com um constante abuso de clichês, a presença marcante de Downey Jr. apagava quase que por completo os erros que o projeto apresentava. Infelizmente, em outros heróis, as mesmas situações desastrosas e climas infantis (presente em Hulk, Homem Aranha e em Quarteto Fantástico) são incansavelmente explorados como se fosse algum tipo de estilo dos personagens da companhia. Ainda mais problemático é o fato de que a maioria das adaptações de heróis do mundo Marvel transformou-se quase que exclusivamente em produto “pré-Vingadores”. Algo que mesmo que soasse interessante em seu principio, acabou sendo uma ótima desculpa para não aprofundar-se em seus personagens, procurar roteiros rasos e sempre deixar uma cena em seu final indicando que tal personagem iria retornar no projeto futuro. Se em Thor, as piadas não conseguiam sobrepor-se ao bom ritmo do filme e ao carisma e talento do seu ator principal, em Capitão América tudo se une para sabotar o filme e o personagem em que se baseiam.


Escrito por Christopher Markus e Stephen McFeely (os mesmos roteiristas dos péssimos Crônicas de Nárnia), baseado nos personagens criados por Joe Simon e Jack Kirby, o filme conta a história de Steve Rogers (Chris Evans) que está tentando a todo custa alista-se no exercito americano para servir o país na segunda grande guerra – motivo por qual aceita ser voluntário em uma série de experiências que visam criar o supersoldado americano. No princípio, Rogers é usado como uma celebridade do exército, porém um plano nazista faz com que Rogers entre em ação e finalmente assuma a alcunha de Capitão América...



Quem não  gostaria de dançar com ela?

Construindo diálogos referenciais e engessados durante toda a narrativa, os roteiristas Markus e McFeely sabem exatamente o caminho que devem percorrer com o personagem desde o começo de sua narrativa. Utilizando diálogos pré-fabricados e mergulhados em clichês, frases como “Não gosto de crueldades”, “Não quero mudar a guerra, quero dominar o mundo”, ou em situações em que as famosas piadas prontas sempre utilizadas no universo Marvel entram em ação, “Dêem um sanduíche para aquele garoto”, “Precisarei adiar aquela dança” ou “Essa é uma péssima hora para ir ao banheiro?” são constantes durante a projeção. Ainda mais desconcertante é ver Stanley Tucci sempre disparando frases de auto-ajuda, além de um clímax patético apontando para o coração do protagonista.


Se um grande ponto interessante da direção de Branagh era o recurso do Slow Motion usado de forma pontual e perfeita em Thor, Joe Johnston investe no recurso em quase todas as cenas de batalha – o que torna-se completamente desnecessário e mais um exercício de estilo do diretor do que qualquer outra coisa. Johnston ainda explora um clima infantil pavoroso ao criar seqüências do herói entrando em fortalezas de segurança pela porta da frente por meio de caminhões inimigos. As cenas em que Johnston filma a ação do lado de fora explorando apenas os sons dos murros do protagonista nos inimigos remete ao clima de seriados dos anos 60, por exemplo.


Em contrapartida, Capitão América consegue ser tecnicamente excelente. A fotografia de Shelly Johnson é muito competente ao retratar em principio o ar gélido do filme, passando por tons mais densos na Noruega e finalmente explorando muito bem o azul na narrativa (a cena em que os personagens vão à mostra tecnológica é um grande exemplo).


Criando Steve Rogers como um rapaz tolo, ingênuo e completamente hipócrita, Chris Evans mostra-se inseguro o tempo todo em um papel que não combina em nada com o limitado ator. E se em cenas como um forçado caso amoroso com a Agente Carter que apenas ressalta a virgindade e pureza daquele “garoto”, Evans aparece completamente perdido; o ator nunca consegue ter imponência nas cenas de batalha e só consegue sair-se bem apenas nas cenas cômicas (algo que lembra muito a franquia fracassada de Quarteto Fantástico). Ainda, Hugo Weaving surge mergulhado em clichês e com frases “vilanescas” de efeito a todo o momento, Dominic Cooper é uma versão cretina de Downey Jr. e Hayley Atwell limita-se a ser gostosa. Ao passo que Tommy Lee Jones é o único ao destoar dos demais com um timing perfeito.


Sendo previsível durante toda sua narrativa e chegando a um clímax desastroso, Capitão América até começa com certo charme e potencial, mas joga fora ao tentar transformar sua história em uma grande piada. Ainda que tenha referencias interessantes ao universo de Thor, Vingadores, Homem de Ferro e que entregue cenas interessantíssimas do ponto de vista temático no universo Marvel (o destino do Caveira Vermelha é ótimo e o porquê de Stark ter o escudo do Capitão América no primeiro Homem de Ferro ), Capitão América até funcionaria bem como algum tipo de paródia do personagem – algo que os quadrinhos e apresentação em shows parecem só colaborar –, mas infelizmente leva-se a sério e é no mínimo irônico que um ator saído de uma franquia fracassada pela falta de qualidade venha se aventurar em outra. O resultado, ouso dizer, será o mesmo.


(2 estrelas em 5)

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