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The Little Death, Austrália, 2014. Direção: Josh Lawson. Roteiro: Josh Lawson. Elenco: Bojana Novakovic, Josh
Lawson, Damon Herriman, Ben Lawson, Patrick Brammall, Lisa McCune, Lachy
Hulme, T.J. Power, Stephanie May, Kate Mulvany, Tasneem Roc, Kate Box,
Darren Gallagher, Erin James. Duração: 96 minutos.
Extraindo
sensibilidade de sua loucura verossímil, A Pequena Morte é uma comédia
pessimista sobre os pequenos prazeres da vida. Não apenas as discussões
hilárias dos casais acerca de seus fetiches ou vontades contam com um
timing brilhante (“Nossa, mas eu sempre chego em má hora”), como também,
apresentando todos os personagens como pessoas genuínas e palpáveis, o
filme investe na comovente fragilidade do lar – além de levantar
inúmeras reflexões impressionantes para um filme tão leve.
Dividido
em quatro casos conjugais que se cruzam ao decorrer da narrativa, o
longa-metragem dirigido pelo estreante Josh Lawson é certeiro na leveza
com que explora seus temas, assim, rendendo cenas impagáveis, como a
reação de Paul ao saber que a fantasia de Maeve é ser estuprada por
alguém – e há de se aplaudir que o tom de cinismo nunca seja retraído,
ficando fácil rir de algo tão complicado como o tema proposto.
Os
diálogos em que Paul reflete que não sabe se seria um bom estuprador e o
amigo fala que isso é uma coisa boa são surpreendentes, aliás. Da mesma
forma, o caso de tesão por lágrimas que cerca a vida de Dan e Evie é
excelente: perceba que o que mais é tocante é a forma como que Evie
tenta fugir de sua fantasia por se achar doente, não a graça em tudo
aquilo; bem como a revelação de que não goza desde o dia do casamento é
algo incrivelmente honesto.
Lawson
desenvolve parábolas sobre o cotidiano, a rotina do sexo e uma forma de
lidar com nossos maiores fetishes. Mesmo quando embarca em caminhos
perigosos, como o uso da esposa ao dormir, a obra não perde seu fio
condutor em nenhum momento: o seu absurdo. As músicas, do mesmo modo,
corroboram com o tom proposto e satirizam as situações. A cena da
tentativa fabricada de um estupro na garagem e a reação do marido ao
acordar no hospital, apenas querendo saber se atendeu aos pedidos da
futura esposa é assustadoramente comovente. Como não notar o amor de
ambos, ainda que seja tão estranho? O mesmo para a relação do homem que
deseja se tornar ator e usa cenários na cama para suprir suas carências.
Mas,
talvez, o mais interessante de todos eles seja o relacionamento entre
Monica e Sam, que gira através da imagem e dos sinais. Num cenário em
que apenas a imagem pode tornar a vida aceitável para um surdo-mudo, a
forma como o diretor lida com o disque-sexo e o primeiro momento em que
os dois se apaixonam é inesquecível. E mesmo que o momento seja para
provocar o riso, note que até a vida da atendente do tele-sexo surge
para nos comprovar como, na realidade, os problemas estão em todo o
lugar.
A Pequena
Morte não é um filme esperançoso, afinal; é pessimista. As mentiras
começam a se adaptar, na sequência. E o único momento em que as nossas
vidas poderão se cruzar é numa tragédia.