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Spotlight, EUA, 2015. Direção: Tom
McCarthy Roteiro: Josh Singer e Tom McCarthy. Elenco: Michael Keaton, Mark
Ruffalo, Rachel McAdams, Liev Schreiber, John Slattery, Brian d'Arcy James,
Stanley Tucci, Jamey Sheridan. Duração: 128 minutos.
Um dos grandes
jornalistas do século XX, Gay Talese, tem uma frase sobre Nova York que
poderíamos usar para qualquer região ou, em específico, a cidade de Boston,
Massachusetts, onde o jornal The Boston Globe está sediado. "É uma cidade
de coisas que passam despercebidas". Você tem as pequenas curiosidades, os
eternos conhecidos, amigos de infância, os alcoólatras que perambulam pelas
calçadas até achar o caminho de casa, onde suas esposas o esperam com a janta
fria. Mas há segredos que não se discutem. Conhecidos ou não. Nunca
discutidos. Não só na narrativa de Tom McCarthy, mas na essência da pauta
jornalística americana, é o fator externo que influencia no interno.
Assim, já
iniciamos a história do grupo Spotlight, coordenado pelo jornalista Walter V.
Robinson, com o espectro do futuro imprevisível das reportagens impressas:
tanto na demissão de um dos repórteres mais velhos e prestigiados do Boston
Globe e na chegada do "forasteiro" Marty Baron, que passa a investir
em pautas intocáveis, quanto um outdoor da AOL na frente do jornal. Afinal, é
hora de encarar o futuro.
Com isso, o
desenvolvimento da pauta jornalística proporcionado pelas elipses de Tom
McArdle é certeira ao conferir o apego pelos detalhes dos repórteres, algo que
é correspondido pelo uso das anotação ao invés do gravador. Tal como Todos os
Homens do Presidente, o processo investigativo dos repórteres é compreendido e
a convicção por trás do texto, do produto entregue aos leitores, evidenciada. Portanto,
McCarthy torna a discussão sobre o jornalismo mundial, não apenas local,
compreendendo a oportunidade que tem em mãos.
Constrói,
igualmente, a vida pessoal daquelas pessoas com uma sintonia invejável com a
realidade: naquela equipe de repórteres, não há espaço para romances. Os
companheiros dos personagens são coadjuvantes, o trabalho é o protagonista.
Assim, não só o detalhe da aliança no dedo de Robby é recorrente, mas também: o
relacionamento superficial de Sacha, que só compartilha refeições; Matt, que o
máximo que consegue é deixar recados/avisos para seus filhos na geladeira; e,
claro, a sugestiva separação de Mike, ao observamos seu pequeno quarto recém
decorado com pilhas de documentos.
Quando McCarthy
escolhe abraçar o macrocenário da situação que os jornalistas se envolvem, o
envolvimento passa a ser outro. Criando opostos para cada conjuntura - as figuras
que possuem controle sobre as instituições em condados americanos contra
jornalistas que cada vez mais perdem a influência que atingiram noutra época -,
o próprio papel do cardeal nesta estrutura aponta para a abordagem pastoral:
com a fragilidade de pequenas regiões, onde a simplicidade das pessoas acaba
sendo corrompida por uma pessoa pública.
Como lutar contra
uma força invisível, a fé? Com fatos. Desta forma, as mãos trêmulas de Ruffalo
na leitura da carta ou o choque da porcentagem de padres que abusavam de
crianças e o papel da igreja em abafar os crimes são sequências inesquecíveis. O
mesmo que gera as discussões sobre o que é publicável e o que não é. Porque é
ali que McCarthy se torna uma voz respeitável acerca de uma discussão sobre
jornalismo e coloca seu nome entre outras obras seminais sobre o papel da
mídia.
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