![]() |
![]() |
Idem,
EUA, 2014. Direção: Ramin Bahrani. Roteiro: Ramin Bahrani e Amir
Naderi. Elenco: Andrew Garfield, Michael Shannon, Laura Dern, Clancy
Brown, Tim Guinee, Noah Lomax. Duração: 112 minutos.
No seu excelente Capitalismo –
Uma História de Amor, Michael Moore indicava algumas das artimanhas
que os grandes conglomerados bancários faziam para continuar
inflacionando o lucro e especulando – inclusive se aproveitando da
classe média, que assumiam novas hipotecas com a promessa de
dinheiro fácil e rápido. A longo prazo, o resultado foi a luta das
pessoas na justiça para ficar com seus imóveis, cujo os bancos
passavam a reivindicar. 99 Homes, de Ramin Bahrani, estende a
discussão da ganância levantada por filmes como Wall Street, usando
a moralidade, a lei e a humanidade como ganchos para chegar até
aonde quer chegar: a facilidade de se corromper, numa crise.
Inserindo-nos na perspectiva do
“easy money”, que passa a traçar a vida do personagem de Andrew
Garfield, o diretor flerta com as sequelas familiares produzidas pela
crise imobiliaria nos Estados Unidos, ao mesmo tempo que evidencia a
dificuldade em conseguir emprego, o que prepara o terreno para as
facilidades oferecidas por Rick Carver. Até onde você iria pelo
dinheiro? “Até a recuperação de sua casa”, Nash pensa. Mas
essa nunca acaba sendo a realidade, algo refletido nos piores
momentos de seu trabalho: o primeiro despejo de um casal e o despejo
de um idoso.
Bahrani confia na instabilidade
criada, e que gera solidez as camadas de seu roteiro. Se suas frases
mostram o desprendimento no mundo dos negócios (“Você não confia
em mim? Você me contratou, eu não tenho escolha” e “Fodam-se os
sonhos. Por mais 100 casas!” são bons exemplos), o diretor
concentra no personagem de um soberbo Michael Shannon o espectro do
cortejo e da ambição. Ao mesmo tempo em que seu personagem aperta a
mão de um morador, ele o apunhá-la com outra, reprimindo um desdém
e vergonha insultantes.
Quase reprisando o papel de Michael
Douglas, em Wall Street, o monólogo sobre escolhas, fugas, a falsa
preocupação com a lei e de que a América não foi construída por
perdedores (já que seria a “terra dos vencedores”, feita por
eles e para eles), Shannon é a válvula de 99 Homes. “Eu sou
apenas o representante”, diz ele, nem olhando nos olhos de quem
está perdendo tudo, quando despeja famílias de suas casas.
Na luta entre a burocracia e a
humanidade, resta para Andrew Garfield ser o rosto da empatia, após
passear pelos dois mundos. É um pena, portanto, que a limitação de
sua transformação seja tão imensa, fazendo com apenas o roteiro
possa denunciar o passo a passo que o leva até o clímax final.
Porque, ainda que a alternância
entre raiva, tristeza e semblante cosntantemente fechado não
auxiliem o trabalho de Garfield, o trabalho de Bahrani é suficiente
para ressaltar o quanto um imóvel pode ser gigante quando não há
mais com quem dividi-lo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário