29 de setembro de 2014

Livrai-nos do Mal

Deliver Us from Evil, EUA, 2014. Direção: Scott Derrickson. Roteiro: Derrickson e Paul Harris Boardman, baseado no livro de Ralph Sarchie e Lisa Collier Cool. Elenco: Eric Bana, Édgar Ramírez, Olivia Munn, Joel McHale, Chris Coy, Sean Harris, Mike Houston, Lulu Wilson, Scott Johnsen. Duração: 118 min.

Livrai-nos do Mal é um longa-metragem que já mereceria créditos por inverter a trama de uma maneira envolvente e instigante: a perspectiva da polícia quanto aos casos sobrenaturais. Envolvida num cenário de assassinatos e depravação, afinal, qual seria a visão policial quando se envolvesse numa manifestação demoníaca ou se deparasse com um mal primário? Desta forma, a batalha entre o ceticismo e o sobrenatural retorna às lentes do interessante Scott Derrickson, o qual, embora traga o comodismo e sustos que não acrescentam nada à obra, utiliza mais uma vez o drama de seus personagens como cenário para suas intenções.

Iniciando a narrativa num ambiente de guerra, onde a morte é algo esperado, e criando um paralelo excelente com a força policial que age no Bronx, Derrickson alcança um tom muito mais de thriller do que propriamente algo assustador. Orientando-se por casos que levam o espectador ao caso principal (numa série de coincidências decepcionantes), o cineasta sempre procura deixar seu filme nas penumbras, como se fosse indicado ao diretor usar uma contraluz constante, salientando o mundo em que o protagonista vive no seu cotidiano. Afinal, é o lado policial que nos intriga em Livrai-nos do Mal: atendendo os chamados, embarcamos na visão de Sarchie e Butler acerca do que o sobrenatural significa na trama - assim, o timing de McHale é sutil e agradável para oferecer o equilíbrio entre as duas realidades ("Você acha que ela é solteira?"), principalmente no assovio homenageando Família Adams.

Entretanto, sendo superficial na maneira com que lida com o ceticismo, depositando as expectativas por sustos em cenas despropositais e formulaicas (um encanamento, um cachorro que late, piano que toca sozinho ou um gato que sairá do armário), a obra falha em se sustentar até o clímax. Ainda que a homenagem a Seven seja simpática (a tatuagem no pescoço e a dupla intencional de agentes), o argumento dos amigos marines pintores que encontram numa gruta uma entidade demoníaca é demasiadamente exagerado. E só não soa pior, pois Derrickson é eficiente no pequeno tributo ao O Exorcista, como indica a própria cena na gruta, o vento que traz o mal e, claro, o clímax do filme.

Além disso, é notável algumas ideias que o diretor tenta aproveitar aqui e ali, como: um gato aberto e crucificado, a lanterna em primeira pessoa na escuridão de uma casa, o travelling no manicômio e, o meu favorito, a analogia entre a entrada na gruta com a entrada num corredor que dará ao porão - o primeiro contato. Sem contar a ótima (e assustadora) sequência que vai de uma coruja observando a casa do agente para o confronto direto com a filha.

Dedicando-se a um fim convencional, todavia, com uma entrega absoluta ao sobrenatural e o destino da família, Derrickson novamente versa com momentos brilhantes, mas que são freados por algumas indecisões e falta de coragem. Buscando soluções caricatas para objetificar o por quê Sarchie tem seus pressentimentos e a razão de ninguém dormir sozinho numa casa, o cineasta peca em não aproveitar o próprio formato de forma mais sólida. Rende ótimas sequências, como a do exorcismo numa delegacia com alguém ao fundo não acreditando no que se passa em sua frente ou a do uso da música do The Doors, mas a execução é muito mais curiosa do que concreta. 


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