6 de agosto de 2014

Guardiões da Galáxia

Guardians of the Galaxy, EUA, 2014. Direção: James Gunn. Roteiro: James Gunn e Nicole Perlman, baseado nos quadrinhos de Dan Abnett e Andy Lanning. Elenco: Chris Pratt, Zoe Saldana, Bradley Cooper, Vin Diesel, Dave Bautista, Lee Pace, Michael Rooker, Karen Gillan, Djimon Hounsou, John C. Reilly, Glenn Close e Benício Del Toro. Duração: 121 min.

Quando escrevi sobre Thor: O Mundo Sombrio havia julgado que, embora a Marvel tivesse criado uma interessante estrutura narrativa complementar ao seu universo, a sua fraqueza residia no temor de desvencilhar-se da suposta fórmula infalível encontrada. Assim, o estúdio chegava a atrapalhar os horizontes possíveis dos personagens para não perder os frutos rendidos por eles e sua alta comercialização. Guardiões da Galáxia, por outro lado, carregando heróis desconhecidos do grande público, não precisava se preocupar tanto em levar o prestígio e a previsibilidade de outros filmes da companhia. Esse era o acerto da ficção-científica Serenity, por exemplo, que abdicava completamente da sobrevivência de seus heróis ao final do filme, já que muitos não possuíam a familiaridade com a antiga série. A imprevisibilidade, apesar do choque, conquistava por completo. É difícil entender, portanto, o motivo de Guardiões da Galáxia querer soar como um filme de super-heróis tão pragmático, previsível e um pouco insosso.

Pontuando sua narrativa com esferas dramáticas fora de contexto, como uma mãe morrendo de câncer ou um momento em que dois personagens só se apaixonam porque é o que se espera deles, o competente James Gunn se esforça ao máximo para indicar que todo o filme não passa de uma grande piada. Desta forma, preocupando-se em incluir uma dança afetada de Peter Quill para simplesmente arrancar risadas, após uma cena pesadíssima, ou transformar uma sequência clichê em quase um exercício metalinguístico para não parecer algo que já vimos antes. E duas sequências denunciam esse apelo: a primeira, Peter em cima de Gamora falando sobre o altruísmo que sentiu para salvá-la; a outra, muito mais genuína e simpática, com Rocket pensando o quão tolo é os personagens ficando de pé para demonstrar uma suposta bravura.

Além do mais, corriqueiro no universo Marvel, o cineasta reaproveita piadas que deram certo para não ter que se preocupar com a profundidade da história – não que isso seja a intenção explícita, tampouco. Groot repetindo o seu nome inúmeras vezes, uma sequência impagável com uma perna mecânica é retomada no terceiro ato e até uma piada com Kevin Bacon chega a se repetir. Do mesmo modo, Gunn tenta criar suas gags gráficas ou descritivas com o inesperado. Neste caso, as situações que os personagens se envolvem são sempre insanas para justamente usufruir do cômico da surrealidade – e basta observar alguém dançando num confronto final, Rocket desdenhando da aparência humana ou um sujeito que não entende a ironia (“Eu não sou uma princesa”).

Não que muitos momentos não sejam genuínos, pois os são. A cena em que Groot desativa uma bateria enquanto os personagens discorrem sobre o plano é excepcional, bem como a citada cena dos personagens reunidos para a missão e um comovente segundo entre Groot e Rocket se despedindo. Contudo, é muito frustrante a fragilidade com que a fórmula da Marvel continua conquistando o público: e qualquer um que já tenha assistido a mais de um longa-metragem do estúdio saberá qual o exato destino de cada um daqueles protagonistas, resultando numa experiência confortável e previsível, nunca rendendo uma real preocupação – o que é um problema. E, neste aspecto, o filme perde muito, da mesma forma que o covarde Homem de Ferro 3, ao ressuscitar personagens para não perder seus rostos no decorrer da franquia.  

Culminando num terceiro ato espirituoso, mas tão precário quanto um final de episódio procedural, onde analisamos a felicidade de cada um e as respectivas sequelas do último trabalho, Guardiões da Galáxia é mais um demonstrativo da força que a Marvel Studios construiu nos últimos anos – conseguindo vender qualquer coisa que tenha seu nome.


Um comentário:

Marcio Santos disse...

É uma história que vc ja viu dezenas de vezes antes. O filme é milimetricamente calculado pra 'soar' leve, descompromissado e descolado. A questão é que muitos, eu incluso, não vi nenhum problema nisso, ja que ele conquista é pelo clima de matiné total ripoff de Star Wars e pelos personagens mesmo.