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Guardians of the Galaxy, EUA, 2014. Direção: James Gunn. Roteiro: James
Gunn e Nicole Perlman, baseado nos quadrinhos de Dan Abnett e Andy Lanning.
Elenco: Chris Pratt, Zoe Saldana, Bradley Cooper, Vin Diesel, Dave Bautista,
Lee Pace, Michael Rooker, Karen Gillan, Djimon Hounsou, John C. Reilly, Glenn
Close e Benício Del Toro. Duração: 121 min.
Quando escrevi sobre Thor: O Mundo
Sombrio havia julgado que, embora a Marvel tivesse criado uma interessante
estrutura narrativa complementar ao seu universo, a sua fraqueza residia no
temor de desvencilhar-se da suposta fórmula infalível encontrada. Assim, o
estúdio chegava a atrapalhar os horizontes possíveis dos personagens para não
perder os frutos rendidos por eles e sua alta comercialização. Guardiões da
Galáxia, por outro lado, carregando heróis desconhecidos do grande público, não
precisava se preocupar tanto em levar o prestígio e a previsibilidade de
outros filmes da companhia. Esse era o acerto da ficção-científica Serenity,
por exemplo, que abdicava completamente da sobrevivência de seus heróis ao
final do filme, já que muitos não possuíam a familiaridade com a antiga série.
A imprevisibilidade, apesar do choque, conquistava por completo. É difícil
entender, portanto, o motivo de Guardiões da Galáxia querer soar como um filme
de super-heróis tão pragmático, previsível e um pouco insosso.
Pontuando sua narrativa com esferas
dramáticas fora de contexto, como uma mãe morrendo de câncer ou um momento em
que dois personagens só se apaixonam porque é o que se espera deles, o
competente James Gunn se esforça ao máximo para indicar que todo o filme não
passa de uma grande piada. Desta forma, preocupando-se em incluir uma dança afetada
de Peter Quill para simplesmente arrancar risadas, após uma cena pesadíssima,
ou transformar uma sequência clichê em quase um exercício metalinguístico para
não parecer algo que já vimos antes. E duas sequências denunciam esse apelo: a
primeira, Peter em cima de Gamora falando sobre o altruísmo que sentiu para
salvá-la; a outra, muito mais genuína e simpática, com Rocket pensando o quão tolo
é os personagens ficando de pé para demonstrar uma suposta bravura.
Além do mais, corriqueiro no universo
Marvel, o cineasta reaproveita piadas que deram certo para não ter que se
preocupar com a profundidade da história – não que isso seja a intenção
explícita, tampouco. Groot repetindo o seu nome inúmeras vezes, uma sequência
impagável com uma perna mecânica é retomada no terceiro ato e até uma piada com Kevin Bacon chega a se repetir. Do mesmo modo, Gunn tenta criar suas
gags gráficas ou descritivas com o inesperado. Neste caso, as situações que os
personagens se envolvem são sempre insanas para justamente usufruir do cômico da surrealidade – e basta observar alguém dançando num confronto final, Rocket
desdenhando da aparência humana ou um sujeito que não entende a ironia (“Eu não
sou uma princesa”).
Não que muitos momentos não sejam
genuínos, pois os são. A cena em que Groot desativa uma bateria enquanto os
personagens discorrem sobre o plano é excepcional, bem como a citada cena dos
personagens reunidos para a missão e um comovente segundo entre Groot e Rocket
se despedindo. Contudo, é muito frustrante a fragilidade com que a fórmula da
Marvel continua conquistando o público: e qualquer um que já tenha assistido a
mais de um longa-metragem do estúdio saberá qual o exato destino de cada um
daqueles protagonistas, resultando numa experiência confortável e previsível,
nunca rendendo uma real preocupação – o que é um problema. E, neste aspecto, o
filme perde muito, da mesma forma que o covarde Homem de Ferro 3, ao ressuscitar
personagens para não perder seus rostos no decorrer da franquia.
Culminando num terceiro ato
espirituoso, mas tão precário quanto um final de episódio procedural, onde
analisamos a felicidade de cada um e as respectivas sequelas do último
trabalho, Guardiões da Galáxia é mais um demonstrativo da força que a Marvel
Studios construiu nos últimos anos – conseguindo vender qualquer coisa que
tenha seu nome.
Um comentário:
É uma história que vc ja viu dezenas de vezes antes. O filme é milimetricamente calculado pra 'soar' leve, descompromissado e descolado. A questão é que muitos, eu incluso, não vi nenhum problema nisso, ja que ele conquista é pelo clima de matiné total ripoff de Star Wars e pelos personagens mesmo.
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