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Idem, Brasil/Alemanha,
2014. Direção: Karim Ainouz. Roteiro: Felipe Bragança e Karim Ainouz.
Elenco: Wagner Moura, Clemens Schick, Jesuíta Barbosa, Savio Ygor Ramos. Duração:
106 min.
Praia do Futuro
é um filme extremamente seco. Não é um longa-metragem que se preocupa em deixar
um gosto adocicado ou tampouco um filme de autodescoberta sexual, como muitos
podem supor previamente; mas algo brutal, instável e impulsivo – assim como o
seu protagonista, Donato. Alguém que passa a vida resgatando afogados, como
ele. Para o protagonista, o mar não representa algo bonito, mas um significado
para sua própria existência: as águas demonstram um isolamento, apesar de sua
imensidão.
Sob
esta ótica, Karim Ainouz sempre sugere essas transformações ao decorrer da
narrativa, mudando a perspectiva: observe, assim sendo, a maneira como o
diretor destaca o brilho das luzes ao lado de Konrad na praia – como se ele
fosse algo diferente, algo a mais na realidade de Donato. Igualmente, o passeio
de moto se torna muito mais profundo quando o observamos como dois fugitivos de
sua própria realidade. Ambos parecem buscar a instabilidade como conforto:
Donato, o mar; Konrad, a adrenalina proporcionada por sua motocicleta. O
instante em que se encontram é marcado por sentidos, não diálogos; é quase como
se já se conhecessem. Sentem um ao outro. O sexo, da mesma forma, é brutal por
uma questão de necessidade, de desejo. Não é um conhecimento entre as duas
partes, mas de pressa. A intimidade só vem nos beijos divididos na Alemanha, no
segundo ato, quando parecemos também estar próximos de Donato e Konrad.
Da
mesma forma, o cineasta expõe com segurança a separação que existe entre eles:
se um enquadramento que aponta o instante em que os dois estão sentados num sofá
e um quadro com as águas como aspecto central os afasta, o figurino de Donato
também serve como prova da lembrança do Brasil – note, por exemplo, o apreço
pela cor azul, com seus casacos e calças jeans. É interessante, igualmente, o equilíbrio
entre o azul e o vermelho (do uniforme de salva-vidas) numa cena entre os dois –
apontando que, pelo menos naquele segundo, a ligação era fortíssima. Além do
mais, analise como o apartamento de Berlim é uma incógnita para o espectador,
como se os cômodos do lugar indicassem que a intimidade nossa (e de Donato)
fosse mínima.
É uma pena, portanto,
que Karim prolongue demais sua narrativa, fazendo com que fique a impressão que
a história poderia ser contada em pouco mais de 50 minutos: a maneira como o diretor
resgata Ayrton (com Jesuíta Barbosa sendo extremamente subaproveitado; a briga
no reencontro é cômica) ou sua insistência em planos contemplativos (além de
seus enquadramentos desfocados) são exemplos de sua insegurança com a dinâmica
estabelecida até então. Praia do Futuro
é um filme de grandes ideias, e bastante frio na forma com que lida com o
emocional de seus protagonistas – principalmente na primeira parte do filme –,
mas deixa seu atrevimento para um clímax nada condizente com suas intenções.
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