4 de março de 2014

Um Conto do Destino

Winter's Tale, EUA, 2014. Direção: Akiva Goldsman. Roteiro: Akiva Goldsman, baseado no livro de Mark Helprin. Elenco: Colin Farrell, Russell Crowe, Jessica Brown Findlay, William Hurt, Jennifer Connelly, Ripley Sobo, Will Smith. Duração: 118 min.

Um Conto do Destino é basicamente como se a bíblia fosse escrita pelo escritor Nicholas Sparks. Adotando uma postura extremamente religiosa e romances que geram milagres, o primeiro trabalho de direção do roteirista Akiva Goldsman (Uma Mente Brilhante e A Luta pela Esperança) versa com um caminho que expõe a falta de costume de seu realizador. O filme, afinal, é o resultado de várias inspirações e referências de outras obras. Há instantes em que a temática espírita surge na forma como o destino é abordado, lembrando muito o ótimo A Viagem; noutro, o romance impossível entre Peter Lake (Colin Farrell) e Beverly Penn (Jessica Findlay) recorda um trabalho específico do diretor Adam Shankman; além de Akiva ensaiar o otimismo invariável do magnífico Richard Curtis, com diálogos carregados de sentimentalismo e adoração pela vida. Não o bastante, emula o olhar bíblico sobre bondade e malícia, chegando a mostrar Lúcifer junto com seu comparsa Pearly Soames – Russell Crowe e Will Smith, ambos constrangedores. Nesta perspectiva, a maneira como Lake retorna em 2014, muito similar com a imagem católica de Jesus Cristo, não é à toa. O maior problema acaba sendo a falta de domínio sobre os inúmeros temas que quer resgatar. A própria magia e milagres que aparecem aqui e ali são colocados abruptamente: um cavalo branco voador é o maior exemplo.

Akiva Goldsman brinca com flares, estimula os ares vilanescos de Pearly, mostra uma batalha entre anjos e demônios, mas sem muita explicação, investe na história do ladrão que rouba o coração de uma moça e aposta em sua mensagem. Mas se complica em como fará isso. Trazer uma falsa realidade para o tom mitológico o complica ainda mais na missão. Lúcifer lendo “Uma Breve História do Tempo”, de Stephen Hawking, por exemplo, somente denuncia a tentativa de um gracejo que não funciona. Do mesmo modo, os sintomas de tuberculose nunca são mostrados. E Beverly chega a afirmar que ter essa doença é uma benção, o que soa excessivamente incoerente. Mas há momentos belos: a foto de Peter com Beverly observada em 2014 ou uma constelação que fica no teto de uma estação, onde Peter mora e cria um contraste muito interessante sobre ele estar no caminho para se tornar uma estrela. É um filme que intenta produzir a mesma sensação de algum trabalho de Frank Capra ou Richard Curtis, mas é sempre melhor assistir ao original.

* Escrita originalmente para o Diário Catarinense

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