10 de março de 2014

Nebraska

Idem, EUA, 2013. Direção: Alexander Payne. Roteiro: Bob Nelson. Elenco: Bruce Dern, Will Forte, June Squibb, Bob Odenkirk, Stacy Keach, Mary Louise Wilson, Rance Howard, Tim Driscoll, Devin Ratray. Duração: 115 min.

Pode parecer clichê, e é, mas, de alguma forma, sempre estamos buscando algo para preencher o vazio que possuímos em nossas vidas. Ansiando por algo que atice nossa curiosidade: um relacionamento, uma novidade, uma nova paixão ou, neste caso, um bilhete premiado. Não à toa, Woody Grant nos é apresentado caminhando em nossa direção, como se fugisse de tudo aquilo que o espera em sua tediosa rotina e viesse até nós buscar um direcionamento, mesmo que não seja propriamente isso. Ele sabe aonde quer ir: Nebraska, onde uma placa ressalta quando chegamos à cidade – “the good life”. A promessa de felicidade para alguém que tanto a procura, ainda que não saiba disso.

E esse é o grande segredo da excelência de Alexander Payne: tramas simples que geram grandes autoavaliações. Há vida e sensibilidade em suas obras – seja ao redor de uma viagem, um novo relacionamento, uma descoberta ou uma nova etapa. São personagens que sempre passam por alguma transformação. Entretanto, em Nebraska, diferente de Os Descendentes, ele não é permissivo com a narrativa ou apenas se guia pela química dos protagonistas, é complementador ao roteiro de Nelson. Acrescenta, embora seja bastante paciente. Do mesmo modo, Payne acredita no que está mostrando, o que volta a combinar o seu conhecido cinismo pessimista com uma sensibilidade envolvente: o que Woody faria com um milhão? Compraria uma nova caminhonete. O diretor aproveita o cansaço e rancor de seu protagonista para expor o texto de Nelson da forma mais interessante possível, ao mesmo tempo em que os diálogos funcionam (a sequência em Rushmore é ótima), Payne nunca se apressa, deixa os personagens chegarem ao cômodo e traz substância para cada situação.

Nesta perspectiva, a visita de Woody e David aos familiares que moram em Hawthorne não serve apenas para criar desavenças entre os personagens, mas como um retrato pertinente ao que seria a vida de Woody se vivesse nas redondezas ou estivesse em casa. O irmão é símbolo do que ele está fugindo: a vida melancólica e tediosa, onde nada de grande coisa acontece e as pontuais conversas sobre a nova crise econômica aparecem durante um círculo ao redor da televisão. Não que a economia importe para aquelas pessoas, pois elas apenas se limitam a falar sobre carros, velocidade e cervejas. O anúncio de um milionário na cidadezinha, portanto, muda completamente o cotidiano. E se o design de produção de Dennis Washington é comum (Hawthorne é eficientemente isolada, mas lembra uma grande maquete) e a montagem faz uso de sobreposição a todo instante, a trilha de Mark Orton emprega muitíssimo bem violão e violinos para passar a melancolia de toda aquela etapa. Da mesma forma, a fotografia de Phedon Papamichael, colaborador costumaz de Payne, é perfeita ao exibir traços melancólicos envolvendo paisagens belas – como se o mais lindo da vida também possuísse ares inalcançáveis e tristonhos.

Mantendo o seu olhar simples, exausto e, ao mesmo tempo, tristonho por ser inerte ao que a vida faz com ele, Bruce Dern é a alma de Nebraska. Sensível e bem intencionado, mas ao mesmo tempo complexamente desamoroso, o ator ostenta um timing invejável (“alguns deles estão mortos!”), além de ter uma força dramática impressionante em querer deixar a sua marca em um mundo que já o vê como um zumbi. Já June Squibb tem a cena do filme em sua série de provocações no cemitério, enquanto desenterra o passado dos Grants.

Payne, por fim, é o oposto da antipatia dos filmes de Noah Baumbach. Em Nebraska, a vida sem cor de Woody é o foco de suas intenções. Criando uma coesão interessante, quando o retorno à velha vida se faz necessário, o diretor termina sua nova obra deixando a sincera mensagem: a vida é assim – espere o seu milhão, mas fique contente com seu chapéu.  


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