Idem, EUA, 2012. Direção: Jane Lipsitz e Dan Cutforth. Elenco: Katy Perry, Russel Brand, Justin Bieber,
Rihanna, Shannon Woodward, Adele, Jessie J, Rachael Markarian, Mia Moretti,
Lucas Kerr, Glen Ballard, David Daniel Hudson, Johnny Wujek. Duração: 93 minutos.
Tanto Never Say Never, do cantor Justin
Bieber, quanto Part of Me, da cantora
Katy Perry, conseguem ser documentários surpreendentes por fugir de uma
abordagem apenas marqueteira (ainda que esteja lá) e explorar os bastidores do
estrelato. E se o documentário do garoto canadense julgava mais importante
ressaltar as consequências da vida do astro teen nos olhos de quem o cercava;
em Katy Perry: Part of me, temos uma
cantora segura de seu carisma e talento nos revelando um lado cativante e
humano, não fugindo de alguns previsíveis julgamentos e mostrando – mesmo que
superficialmente – o preço da fama.
Dirigido pela dupla
Jane Lipsitz e Dan Cutforth, em sua segunda parceria, o filme acompanha a
trajetória da cantora pop Katy Perry em sua turnê California Gurls. Assim, o
documentário aborda não só os shows em si, mas os dramas pessoais da cantora
nesses exaustivos 365 dias, além de apresentar rapidamente o início de carreira
da artista.
Estabelecendo os fãs da
cantora como os maiores líderes da jornada realizada por Perry até então, é
curiosa a coesão com que a dupla de diretores aborda essa visão, mostrando
também o quanto a artista influencia na vida dessas pessoas e como elas passam
a executar suas músicas com sentimento. Além disso, as palavras de Perry surgem
bem colocadas neste primeiro momento por justamente demonstrar esse espírito (“eu quero ser uma líder”) e encontram forte ressonância quando
a cantora convida os fãs para o palco, numa demonstração profunda de carinho
por aquelas pessoas.
Do mesmo modo, o
documentário foge um pouco do padrão convencional ao desmistificar a figura de
ícone pop representada por Perry na indústria musical atual (note ela passando
desodorante antes do show ou na exclamação “estou nervosa”) e aposta
em cenas extremamente intensas emocionalmente e as quais a própria cantora se
autoavalia. Aliás, é interessante observar como em determinado momento nos
damos conta de que algumas escolhas de Perry são justificáveis pelo fato de ela
se portar ainda como uma adolescente, para logo depois a própria dizer: “Pareço ter 16 anos e ajo como se tivesse 16 anos!”.
Nesta análise, a forte
influência do cristianismo em sua família acaba se tornando a explicação mais
óbvia e interessante do longa-metragem. E, mesmo que os diretores nunca tentem
oferecer uma profundidade maior nas músicas atuais de Perry, que nascem como
frutos de uma infância extremamente conservadora e reprimida, estão no
contexto. Ao mesmo tempo, o filme também ensaia uma crítica à própria indústria
quando aborda as primeiras tentativas de sucesso de Katy e mostra como o sucesso
só foi possível devido ao modelo construído nela (“Lugar de material
poético é no fundo da gaveta!”), porém nunca se mostra tão corajoso.
Em contrapartida, o
documentário também acomoda uma grande parcela de erros, principalmente no
primeiro ato, quando os diretores julgam muito mais importante mostrar Perry
como uma criatura especial e política – chegando a mostrar a descartável cena
em que a cantora toca na barriga de uma gestante ou na visita a avó que é
totalmente sem propósito. A dupla de diretores, ainda, se mostra sem qualquer
inspiração quando volta a usar as redes sociais da mesma forma que fora
utilizada em Never Say Never – filme
que curiosamente foi produzido pelos dois.
E se os erros residem
quando Katy Perry é mostrada de forma caricatural, criando quase um personagem
fictício, são nos momentos humanos que o documentário ganha tons mais
interessantes e vivos. Neste ponto de vista, usar o romance da artista como
pano de fundo para desencadear o momento mais comovente do longa-metragem – o
show em São Paulo – se mostra uma atitude corretíssima e que se torna ainda
mais atraente quando percebemos que ela não era esperada pelos envolvidos.
Aliás, não se pode deixar de citar a competente e eficiente transição que os
montadores fazem entre músicas e depoimentos, colaborando para o momento em que
a artista canta The One That Got Away
e que ecoa uma sentimentalidade ímpar. Além do mais, o romance entre Katy e
Russel é sempre orientado de forma linear – observe, por exemplo, que se temos
Katy cantando E.T. quando está
apaixonada, ela muda o tom quando canta Not
Like The Movies, antes de chegar ao momento do show no Brasil.
E mesmo com suas falhas
nítidas e pontuais, Katy Perry: Part of Me se sai muito mais do que algo feito apenas
para obter lucro para a artista. Compartilhamos as emoções da cantora em
determinados momentos e nos sentimos íntimos de sua jornada no final do
longa-metragem. Perry com seu carisma nos leva para um lugar que não é
exclusivo para fãs e com isso, quem sabe, talvez acabe fazendo novos.
2 comentários:
Como virei um KatyCat nos últimos dias (devo estar cantarolando uma música dela nesse instante, sem querer), sou obrigado a corrigí-lo: o nome da turnê é California Dreams.
Porra, nem acredito que sei disse sem sequer ter usado em meu próprio texto.
Aliás, pegamos em pontos semelhantes, mas como publiquei depois, as acusações de plágio recairiam sobre mim. Hahahahahaha
Quando li "Pareço ter 16 anos e ajo como se tivesse 16 anos!", lembrei na hora que ela fala isso mesmo e fiquei em dúvida se ela falava a frase que eu mencionei. E lembrei que ela fala as duas mesmo, ou seja, ela realmente enfatiza essa infantilidade que sabe que tem.
Muito bom o seu texto Andrey.
O detalhe do desodorante foi algo que deixei anotado, mas acabou não surgindo no "corte final" da crítica.
Agora temos um ponto de discordância fundamental: eu gostei mais da abordagem de Katy Perry, a personagem, do que do ser humano. A meu ver, fica fácil se relacionar com aquela cantora amalucada, exibida e carismática, mas não com a mulher detrás da maquiagem.
Há bons momentos, sim, mas acho que as entrevistas parciais não acrescentam muita coisa (exceto quando conseguimos relacionar sua rebeldia com a proibição imposta pelos pais religiosos; ou o olhar de desdém e tristeza ao vestido de noiva da irmã).
Mas, é um bom filme (e surpreendente), passei a olhá-la diferentemente e, mesmo que não tenha virado KatyCat como o Eduardo, não mudo mais a rádio nas suas músicas (não mudava antes hahaha, foi só uma frase de efeito).
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