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The Devil Inside, EUA,
2012. Direção: William Brent Bell. Roteiro: William Brent Bell e
Matthew Peterman. Elenco: Fernanda Andrade, Simon Quarterman, Evan
Helmuth, Ionut Grama, Suzan Crowley e Bonnie Morgan. Duração: 83
minutos.
Consigo imaginar uma
reunião entre os envolvidos de “Filha do Mal”. Todos em um
bar, final de um expediente exaustivo, depois de uma semana longa, decidem tomar umas taças a mais. Lá pelas tantas, o mais novo do
grupo e provavelmente o que quer ser o mais descolado dali (o qual
chamaremos de Bell) levanta a hipótese daquelas pessoas gravarem um
longa-metragem com a câmera que havia acabado de ganhar de algum
familiar. Qual seria o tema? Como cada um participaria? Quanto
renderia? Como iríamos bancar? Provavelmente as perguntas começaram
a surgir no momento em que Bell sugeriu isso, mas nunca num tom
sério, aliás, suspeito que todos falavam às gargalhadas cenas que
eram pensadas ali na mesa.
Todavia, Bell foi para sua casa com a
mente martelando nas inúmeras possibilidades que seus colegas haviam
levantado até então e as engavetou em uma parte de seu cérebro. A
gota d'água veio quando o jovem diretor, e é apenas uma divagação
minha, viu pela primeira vez a trilogia "Atividade Paranormal", como
todo jovem com um sonho e uma câmera na mão, pensou: “o quanto
deve ser difícil fazer algo assim?”. A resposta, infelizmente,
veio para nós agora, em 2012, quando nos deparamos com seu filme “Filha do Mal”.
Sim, seria de se
estranhar que mesmo com os gêneros mockumentary e found footage tão
na moda ultimamente, não fosse levantada essa possibilidade pelos
jovens bêbados que se reuniram um dia para pensar em um filme no qual envolvesse pouco dinheiro, muito lucro e um gênero que a maioria do
público aprecisasse. Todavia, como falamos de um filme em que seus
envolvidos parecem desconhecer totalmente seus potenciais e seus
clichês, não julgaria essa probabilidade tão questionável assim.
Afinal, acompanhando a história de Isabella Rossi (a brasileira
Fernanda Andrade) em busca de respostas para o comportamento
“sobrenatural” de sua mãe ao matar três pessoas em 1989 durante
uma sessão de exorcismo, o roteiro escrito por William Brent
Bell e Matthew Peterman parece não ter nenhum tipo de foco aparente
para contar sua “história”.
Apenas salientando
questões minimas do roteiro, como o fato de os personagens entrarem
em certos lugares usando a câmera e como são obtidas essas
permissões (apesar de não serem inteligentes nem ao menos neste
aspecto, já que o máximo que conseguem desenvolver é: “somos da
imprensa!”), e se esquecendo de questões mais importantes que são
citadas no começo do longa, o roteiro de Bell e Peterman consegue
ser admirável por manter desde o início seu grau de qualidade –
basta observar, por exemplo, a maneira com que os dois sugerem um
debate sobre ciência e religião no primeiro ato apenas para
descartá-lo em seguida. Não só isso, ambos parecem ter um prazer
impressionante ao tentar sabotar todos que fazem parte da equipe de
seu longa-metragem, única explicação para o fato de um determinado momento o roteiro dizer que o que acontece em uma
instituição psiquiátrica não tem nada a ver com exorcismos e sim
com ciência; para noutro momento, a direção de arte retratar o quarto da
mãe da protagonista naquele local com – pasmem! - diversos
crucifixos ao seu redor.
Como se não fosse o
bastante, para Bell, um filme de terror basicamente reside em dar
sustos gratuitos sem nenhum tipo de substância a cada cinco minutos
– como se de alguma forma isso desviasse a atenção do espectador
para aquilo que está assistindo. Além disso, o diretor/roteirista
parace achar que gritos histéricos, freiras cegas e olhares
maldosos de uma criança de 4 anos são o suficientes para causar
tensão – algo que culmina em uma cena no mínimo curiosa e hilária
em que uma personagem pergunta “você está nervoso?”, apenas
para depois de uma resposta negativa saltar um cão em direção ao
grupo de personagens para os assustar.
E se poderíamos ao
menos ter pena dos atores que possivelmente não teriam lido o
roteiro antes de assinar o contrato, essa perspectiva também vai pro
espaço quando vemos suas “qualidades”. Se Andrade apenas tenta
evidenciar através de diálogos tudo o que está passando naquele
momento e os atores Simon Quarterman e Evan Helmuth não convenceriam
como padres nem as mais ingênuas vítimas de estelionato, surpreende
que Suzan Crowley não esteja se divertindo por protagonizar momentos tão
involuntariamente cômicos no decorrer do filme.
Contudo, em seu final,
seria injusto não direcionar toda a falta de qualidade de “Filha
do Mal” para seus reais criadores, Bell e Peterman. Querendo ser
tão absurdos quanto seu comunicado no começo do filme (“o
vaticano não apoiou esse filme, nem ajudou em sua execução”),
ambos são ao menos fiéis a sua imaturidade em cada cena do longa. Uma pena, portanto, que quando certo personagem pergunta
"por que você está fazendo isso, esse documentário?", a
resposta não tenha sido realmente a honesta: “estou fazendo isso por
dinheiro, somente por ele!”.
3 comentários:
Se você tiver levado mesmo 19 minutos pra escrever esse texto, ainda assim está em grande vantagem. Afinal, os roteiristas não devem ter levado mais que 10 minutos pra escrever o roteiro.
Lembro que na época, fiz questão de escrever sobre o filme, justamente porque a distribuidora o escondeu da imprensa. Viu até o fim dos créditos? Tem um recado dos produtores. Algo do tipo: "O caso Rossi nunca foi concluído". Tipo: "não conseguimos inventar um final bom, então contente-se com a 'verdade' de que o caso permaneceu em aberto".
Ah é, meus caros? VSF, isso sim!
Eu desisti de publicar alguma coisa dessa bomba, ia até gravar um vídeo dele, mas, bem, você resumiu bem a minha indignação.
Lembro-me (infelizmente, tenho essa memória) de que nem respeitar as regras do pseudo-documentário o filme consegue.
inveja pura inveja que filme voces ja produziram
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