22 de novembro de 2011

Happy Feet 2: O Pinguim (Austrália, 2011)

Diria Freddy Mercury: "Watching some good friends..."



Happy Feet 2 é muito parecido, de certa forma, com “Rio” de Carlos Saldanha. A diferença é que enquanto na obra do brasileiro a dança era no Rio de Janeiro e o ar de urgência era a compra e venda de espécimes em extinção; no filme dos pingüins dançantes temos a dança na Antártica e a urgência do filme, de primeiro momento, parece ser o derretimento das geleiras e as conseqüências para a família dos pingüins imperadores. De primeiro momento, porque o que se desenvolve a partir do segundo ato é uma trama competente, sem cair nas armadilhas melodramáticas em que pisa e com um arco dramático bem construído sem precisar se render a obviedades.

Escrito e dirigido por George Miller (Mad Max e Happy Feet), a trama gira em torno de Mano (protagonista do primeiro filme) e seu filho, Erik, que busca compreensão no sentido de dançar (dúvidas dos próprios espectadores, aliás) e parte para a “terra” natal de Ramon. Enquanto procura o filho, Mano se vê diante do derretimento das geleiras que ocasionam no isolamento de dezenas de pingüins e precisará contar com a ajuda de todos que cruzarem seu caminho...

Estabelecendo uma subtrama divertida e interessante logo no inicio do longa, Miller acerta em cheio na história de Will e Bill, dois camarões que também estão tentando encontrar sentido na vida e buscando entender sua situação na cadeia alimentar. O roteiro não tarda em explorar a trama divertida dos dois e que conseqüentemente geram as melhores piadas do filme, criando uma espécie de road-movie de camarões. “Um passo para um crio, um grande passo para os invertebrados sem medula” ou “Vamos subir na cadeia alimentar e comer algo que tem rosto” ou até mesmo “Onde você está? Aqui na sua frente, não me reconhece? Claro que não, somos todos iguais” fazem parte desse humor inteligente de Miller.  

Em contrapartida, o diretor parece gostar mais de travellings circulares que o Michael Bay. Contei uns 10, antes de parar a contagem. Ainda assim, os planos são bem feitos – com geralmente o diretor mostrando planos mais abertos para mostrar os pingüins dançando e planos mais fechados quando explora o cardume dos camarões, por exemplo. Outro tom assertivo do diretor é explorar sutilmente a questão de homem X religião. É interessantíssimo quando vemos Mano salvar um elefante marinho com seu poder de raciocínio/coragem e vemos o pequeno Erik pensando que tudo aquilo foi capaz apenas com sua fé (ou força do pensamento, dito pelo personagem Sven – que parece ter saído do livro O Segredo). Assim como o tom certeiro que o diretor trata o derretimento das geleiras. Sempre de longe e de forma sutil, não girando o filme em torno apenas desse problema.

A parte técnica de Happy Feet, como era de se esperar, também é competente. Ficando apenas a fotografia dos Davids, Dulac e Peers, como deslocada ao conferir sempre uma fotografia em PB nas cenas que deveriam ser mais tensas, como se só por estar em preto e branco já trouxesse o ar de perigo que a cena requeria.

Happy Feet 2, aliás, acaba só tendo grandes prejuízos em sua construção melodramática, soando forçada quando seus personagens começam a cantar gospel em tom de melancolia e de esperança (principalmente nas patéticas cenas em que Erik canta para os Elefantes marinhos e Gloria canta para seu filho) – algo que é totalmente ao contrario da sutileza preservada pelo filme até então. Assim como frases prontas como “Às vezes temos que recuar para depois seguir em frente”.

Encerrando com um espetáculo visual, Happy Feet 2 sustenta-se por conta própria e sem ser formulaico e depender do original. O resultado, apesar das falhas, consegue ser no mínimo satisfatório – desde cenas como a dos humanos indo ao encontro dos pingüins isolados depois de ver um dos pingüins dançando ao som de We Are The Champions até a fantástica cena final (fechando a subtrama dos camarões e proporcionando um desfecho incrível ao som de Under Pressure). E mesmo as falhas são esquecidas quando nos damos conta que, no final, Happy Feet 2 acaba sendo um filme em que pingüins dançam e cantam Queen. Sim, pingüins dançando e cantando Queen. Precisa mais?

(3 estrelas em 5) 

Um comentário:

Eduardo Monteiro disse...

O filme é bacana mesmo. Também pensei na questão de O Segredo, e fiquei feliz que a bobagem não fosse levada adiante. E Will e Bill são realmente bem divertidos. A fala que mais gosto é a do testamento, quando um deles diz que quer deixar tudo para a própria imaginação.

Só fiquei triste por não ter tido o curta musical do Pip-Piu e do Frajola, que disseram que viria junto do filme (pelo menos nos Estados Unidos). A piada após os créditos finais perde um pouco a graça sem ter tido o curta antes. Espero que não tenha sido só na cabine de imprensa em Belo Horizonte que o curta tenha ficado de fora.!

Grande abraço.