5 de dezembro de 2011

Um Dia (One Day – EUA, 2011):

Dex and Em. Em and Dex.


Há alguns anos atrás se iniciou uma discussão sobre adaptações e se é mais importante um filme manter uma boa qualidade cinematográfica ou ser o mais próximo que conseguir de onde se baseia (seja livro, game ou série de TV) – a tal fidelidade. Obviamente, fico com a qualidade cinematográfica. Todavia, sempre acabamos sendo parciais quando lemos um livro e vemos sua adaptação – claro, julgamos a qualidade técnica e se o filme é bem desenvolvido, mas acabamos muitas vezes apontando grandes problemas na construção de algo e o fato de ser superficial ou não em determinado aspecto, principalmente, por já ter tido uma base no livro que lemos.   

Um Dia é um daqueles livros que fisga o leitor desde a primeira página e já o impressiona pela química do casal mostrada nas páginas do romance. O livro de Nicholls nunca surge como algo tolo, saído de um romance piegas de Nicholas Sparks, sempre surpreende pela linguagem utilizada e por possuir um aprofundamento humano maravilhoso para um livro do gênero. Infelizmente, Nicholls parece não ter a mesma qualidade como roteirista. Na versão cinematográfica de seu livro, peca no melodrama, constrói seus personagens superficialmente e só consegue sustentar-se por seus protagonistas.

Escrito por David Nicholls, também autor do livro, a história gira em torno de Dexter Mayhew e Emma Morley que se conhecem no dia 15 de julho de 1988, na noite de formatura dos dois jovens. Os dois tornam-se melhores amigos nesta noite e a história gira em torno do relacionamento de Dex e Em durante 20 anos, tendo como base sempre a data de 15 de julho.  

Sempre superficial na construção de seus personagens, Nicholls falha desde sua cena inicial a dar um dinamismo quase nulo para os dois protagonistas e de forma extremamente desinteressante – note como tudo parece ser feito sempre às pressas para ter tempo de mostrar os anos que virão a seguir.  O roteirista peca em nunca estabelecer uma química instigante entre seus personagens em suas primeiras cenas, parecendo uma relação comum e nada especial entre um homem e uma mulher, transformando toda a narrativa em algo sem aprofundamento por não parecer preocupado com a apresentação de seus personagens – possivelmente por pensar que o espectador já tivesse conhecimento prévio sobre o que veria.

Mais preocupante ainda é Nicholls não conseguir repetir diálogos inspirados entre os dois protagonistas, repetindo fórmulas arcaicas que só empobrecem ainda mais a narrativa, como quando Emma afirma: I got to know you. You cured me of you. Algo totalmente diferente de frases geniais do livro, como: "Houve uma época, não muito tempo atrás, em que todos os garotos queriam ser Che Guevara. Agora todos querem ser Hugh Hefner. Com um videogame". Aliás, o filme é tão incoerente, sem qualquer coesão dramática, que até em diálogos que se encaixavam perfeitamente no relacionamento dos dois, algo como I love you, Dex, so much. I just don't like you anymore”, soam desconexas no filme.

Em contrapartida, “Um dia” tem alguns aspectos interessantes, como a montagem do novato Barney Pilling – que consegue desenvolver a trama (a passagem de tempo, ano após ano) de forma competente e sempre de maneira interessante (seja em um notebook, seja por um calendário, a forma de passar os anos nunca cansa).

Igualmente interessantes são as atuações dos dois jovens protagonistas, Anne Hathaway e Jim Sturgess. Enquanto Hathaway concentra-se em transformar Emma em uma personagem mais autoconfiante ao passar do tempo e autodepreciativa em outros momentos, Sturgess passeia entre o carismático e o boçal de forma extremamente competente, sendo surpreendente até no alcoolismo – que apesar de extremamente forçado e rasteiro, sustenta-se pela atuação do jovem ator. Ao passo que Patricia Clarkson e Ken Stott surgem apenas como caricaturas.

Criando planos que apenas não comprometem mais do que já havia sido comprometido pelo roteiro, Lone Scherfig guia o filme quase que como uma homenagem a outros filmes falhos do gênero. Temos sempre os destinos cruéis, traições, dramas, alcoolismos, personagens mesquinhos e platonismos baratos. “Um Dia” acaba soando como nada mais que convencional e fugindo completamente da proposta do livro de Nicholls. Ao fim, o filme talvez se torne um objeto de estudo para as mesmas discussões acaloradas citadas no começo da crítica. Pensando nisto, vou propor que a principal discussão torne-se “porque não deixar o autor de um livro escrever o roteiro de um filme”.

(2 estrelas em 5)

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