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Ouija: Origin of Evil. EUA, 2016. Direção: Mike
Flanagan. Roteiro: Mike Flanagan e Jeff Howard. Elenco: Elizabeth Reaser, Lulu
Wilson, Annalise Basso e Henry Thomas. Duração: 1h39min.
Mike Flanagan é um dos
cineastas mais prolixos do terror atual. Só em 2016, o diretor lançou
comercialmente Hush: A Morte Ouve, O Sono da Morte e, este, Ouija: Origem do
Mal. Neste seu universo, portanto, algumas particularidades já começam a ficar ressaltadas:
uma ingenuidade característica, o passado retornando em função de algum mal e
as nossos próprios medos como fio condutores de sua tensão.
Em O Sono da Morte, os
pesadelos literais de Cody; Hush: A Morte Ouve, uma deficiente auditiva que
vive isolada é acuada por um serial killer que se aproveita de sua situação
para mexer com o seu psicológico; O Espelho envolve as cicatrizes familiares de
dois irmãos enlutados que não conseguem esconder o passado e é justamente esse
passado que os assombrará; Absentia traz a ausência do marido e os medos de
suas protagonistas, igualmente, como a chave de ignição; e, finalmente, Ouija:
Origem do Mal, capta na figura de uma família que sente a ausência do pai uma
ironia fina sobre extrair o máximo da ingenuidade alheia.
Porque a principal
vítima de Ouija é, claro, a pequena Doris, que representa a ingenuidade daquela
família sobre o oculto. Não é a mãe gananciosa ou a irmã egoísta que passam a
ser atormentadas e sugadas por espíritos aproveitadores. É Doris, a única que
desconhece segredos da vida. Ela é a mais suscetível a algo desconhecido.
Desperta curiosidade o por que da mãe gananciosa, que vive em função da memória
do marido para ganhar dinheiro de outras pessoas que sofrem com a perda de
parentes próximos, ou da irmã egoísta, não serem as principais afetadas. Todas
são, claro, mas não desde o princípio. A forma de entrar na família provém da
figura mais carente de apego: a criança. Isso é ressaltado de forma brilhante
quando você assiste ao destino de cada uma delas, como deveria ser: a mãe
encontrando a companhia final do marido, a menina sendo a primeira a dar a mão
ao pai, a irmã egoísta vivendo solitariamente.
Neste aspecto, a trama
espiritual de Flanagan eleva Ouija a um patamar mais interessante, ao utilizar
o tabuleiro Ouija apenas como um efeito narrativo, não como protagonista.
Entretanto, como de costume, a redundância do seu cineasta acaba tornando a
previsibilidade das ações e de sua própria tensão como o grande mal de sua
narrativa. Se por um lado, ele não esconde suas semelhanças com Invocação do
Mal na construção da importância do vínculo familiar e na sua batalha entre
ceticismo e sobrenatural, é bem evidente que Flanagan ainda não conseguiu achar
o ponto certo entre a sua tensão e a complexidade de seus personagens. Assim, a
retórica incomoda por nunca se aprofundar mais naquelas pessoas, apenas
deixá-las preparadas para seus respectivos destinos que acontecerão num
terceiro ato extremamente intenso e forçado.
Dentro dessa
previsibilidade, Flanagan não consegue construir armadilhas o suficiente para
deixar o espectador coagido ou tenso. Ouija Origem do Mal ingressa na sua
filmografia, portanto, como o esperado: com a personalidade de seu diretor, mas
com os erros que vêm com ela.
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