17 de junho de 2015

Poltergeist: O Fenômeno

Poltergeist, Canadá /EUA, 2015. Diretor: Gil Kenan. Roteiro: David Lindsay-Abaire, baseado na história desenvolvida por Steven Spielberg. Elenco: Sam Rockwell, Rosemarie DeWitt, Kennedi Clements, Saxon Sharbino, Kyle Catlett, Jane Adams, Susan Heyward, Jared Harris. Duração: 93 minutos.   
 
O fenômeno de Poltergeist na década de 80, com o perdão do trocadilho, explica-se pela difusão de grande parte da temática "macabramente açucarada" dos anos 80. Afinal, não há muitas novidades no filme de Tobe “Spielberg” Hooper (e não há como não brincar com a mão pesada do produtor, neste caso). As inovações são escassas porque a época em que o original está inserido não é de inovação, mas de popularização. Não é surpreendente, portanto, que seu remake não tenha grandes novidades, pois não é o que se espera, certamente; o problema é sua total falta de comprometimento com a trama ou "autenticidade" dramática, algo que faz com que a obra se torne extremamente pedestre e gratuita.
Se a família Freeling era legítima por nos inserir de forma tão genuína na trama, onde podíamos sentir cada novo ato de repressão contra seus personagens - desde um brinquedo infantil atormentando uma criança até as "assustadoras" vibrações das árvores e sons de trovão -; aqui, no remake, a atenção superficial que o diretor possui com seus personagens fica escancarado: a adolescente rebelde, cujo papel na trama é quase inexistente, o menino assustado que despertará dúvidas quanto ao seu julgamento do que é ilusão ou não, além dos pais inexpressivos. Sam Rockwell, por exemplo, difere do pai criado por Craig T. Nelson que foi envolvido numa conspiração que desconhecia e faz tudo para proteger sua família. Eric Bowen é um desempregado que faz de tudo para conseguir voltar a se sustentar, e por consequência ser o pai e marido que sua família espera dele. O seu jeito brincalhão não funciona, contrariando-o e fazendo com que soe exatamente como alguém desesperado por atenção.
E isso não é algo bem sucedido por ator ou roteiro. Rockwell parece (pela primeira vez num papel, pelo que me lembre) desconfortável. Entra no piloto automático que o filme estabelece. O mesmo pode se dizer de Jared Harris, que, ao contrário da personagem Beatrice Straight, soa como um charlatão de quinta categoria - não fugindo nada do estereótipo tão ironizado por David Tennant no remake do regular A Hora do Espanto, o filme que Poltergeist mais parece se inspirar. Em compensação, criando sequências diabólicas risíveis (como aquela em que as árvores entram no quarto do garoto), o filme carece da graça, encanto ou tensão do original. Observe, por exemplo, o primeiro contato dos paranormais com a família: o roteiro tenta jogar uma desconfiança que nunca é aprofundada (se aquilo é ou não é uma fraude) e uma cadeira voando num quarto não possui o mesmo impacto do quarto magnético anterior.
Na verdade, Poltergeist não funcionaria nem como um exemplar de gênero "scary housed", já que ele se autoironiza quando deveria ser dramático: e não dá para defender a sequência "espirituosa" da família fugindo ao entrar noutra casa parecida. É um produto arbitrário feito para lucrar com um nome conhecido. Ausente de qualquer emoção ou tensão, é um filme que certamente assombrará Gil Kenan pelos próximos meses. Mas pelos motivos errados.