30 de julho de 2012

O Que Esperar Quando Você Está Esperando



What to Expect When You’re Expecting, EUA, 2012. Direção: Kirk Jones. Roteiro: Shauna Crosse e Heather Hach, baseado no livro de Heidi Murkoff. Elenco: Cameron Diaz, Jennifer Lopez, Elizabeth Banks, Chace Crawford, Brooklyn Decker, Ben Falcone, Anna Kendrick, Matthew Morrison, Dennis Quaid, Chris Rock, Rodrigo Santoro, Joe Manganiello, Rob Huebel, Thomas Lennon, Amir Talai e Rebel Wilson. Duração: 110 minutos.

De certa forma, O Que Esperar Quando Você Está Esperando cumpre adequadamente seu papel: existir. Sim, porque sem desenvolvimento algum, sem proposta alguma e sem qualquer levantamento reflexivo ou qualquer tipo de pergunta – não há como condená-lo por não fornecer as respostas, já que as perguntas não estão lá. Deste modo, o filme do novato Kirk Jones se preocupa apenas em apresentar seus personagens, relacioná-los, mas em nenhum momento mostrar quem realmente são aquelas pessoas, criando uma narrativa insossa, vazia e lamentavelmente insuportável.

Escrito por Shauna Cross e Heather Hach, baseado no livro de Heidi Murkoff, a história gira em torno de uma série de casais que passam a ter que viver a experiência de um parto e suas consequências. E mesmo que isso nunca aconteça na narrativa, o filme tenta explorar diferentes tipos de gravidez e como elas interferem na vida de seus personagens. Assim, há a garota que engravida cedo demais, o rapaz que não está pronto para ser pai, o casal que espera um milagre, o coroa que é casado com uma garota linda de 20 e poucos anos, além dos pais com filhos que se encontram para trocar experiências conjugais desagradáveis.

Não conseguindo em nenhum momento criar personagens complexos ou tridimensionais e preocupando-se somente com o humor barato, Jones parece apenas querer transformar nossa experiência em algo agradável com seu trabalho burocrático; porém, não alcançando nem isso, chega ao cúmulo de recorrer ao slow motion para cenas em que personagens são apresentados ou em cenas dramáticas mais intensas. Além disso, a montagem de Michael Berenbaum se interessa apenas em criar fusões curiosas e sem significados, tornando-se um exercício de paciência.

Do mesmo modo, o roteiro de Cross e Hach acredita que referenciar filmes de forma aleatória forma uma narrativa atraente, disparando a todo o momento coisas como “ah, você fala de Amor, Sublime Amor” ou “Nós adoramos Purple Rain”. Como se não fosse o bastante, ambos (talvez se dando conta de que não estava funcionando) começam a buscar o humor exacerbadamente absurdo, algo que culmina nas cenas desastrosas envolvendo citações a peitos a cada segundo – como se apenas a palavra provocasse alguma graça – e nas cenas envolvendo vômitos.

Aliás, o diretor não consegue perceber que suas gags visuais nunca são dignas ou elegantes, soando, inclusive, lamentáveis quando utilizam as ações de uma criança de pouco mais de três anos para provocar risos ou na “brincadeira” com uma banana e uma rosquinha em determinado contexto. Também não se atrevendo a ser mais profundo ou corajoso (observe que o sexo do bebê de um dos casais não é nem revelado), o filme acaba se tornando apenas uma espécie de stand-up filmado – com piadas envolvendo órgãos genitais, casamentos, filhos e, obviamente, sexo.

Nesta perspectiva, o personagem de Chris Rock surge como o mais espirituoso do grupo de atores ao se adaptar a situação e conseguir algo que o restante do elenco não consegue: timing. Assim, as melhores piadas do longa-metragem parecem ser as dele: “De vez em quando, eu olho o preço da faculdade em meu carro e choro” ou “Ele parece mais o Rourke da vida real, mesmo!”. Jennifer Lopez, por outro lado, limita-se a usar o corpo para tentar desviar a atenção de sua incapacidade dramática na narrativa – algo que chega ao cúmulo quando o diretor a focaliza numa posição comprometedora atrás de uma cadeira ou o seu trabalho “principal” que nasce apenas como uma desculpa para colocar a atriz de biquíni. E, enquanto o restante do elenco não traz nenhum tipo de acréscimo ou decréscimo, os roteiristas tentam criar uma ligação entre todos eles que nunca é esclarecida ou curiosa.

Limitando-se apenas a durar quase duas horas sem aprofundar algo ou estabelecer algum tipo de conceito, o filme acaba não funcionando nem como um manual de autoajuda para gestantes – já que em determinado momento do filme a história diz que a gestação é algo que destrói sua vida e noutro diz que é um pequeno milagre. Contudo, mesmo assim, ao final do longa-metragem não poderíamos deixar de sair com duas perguntas na cabeça: primeiro, por que virou moda fazer piadas com a dança dos famosos; e, segundo, por que continuamos insistindo em filmes assim?

Um comentário:

Márcio Sallem disse...

Suportamos essa tragédia, não? Boa a crítica meu amigo, "O que esperar" é uma experiência vazia, chata, sem graça, romance ou drama (mesmo quando tem algum - o aborto - o roteiro é ofensivo ao impô-lo à menos preparada para ser mãe, como se dissesse "não se preocupe, outras gestações virão com mais calma e dentro de um casamento equilibrado"). Ou a hemorragia durante um dos partos que só serve para aproximar pai e filho? Bah, filme ruim.