30 de junho de 2011

Transformers: O Lado Oculto da Lua (2011):


Todos fogem do desastre criado por Michael Bay!!
 Logo no final da sessão de “Transformers: O Lado Oculto da Lua” lembrei de um aprendizado que tive durante minha relação com o cinema e o que sempre passei adiante: cada pessoa deve ter sua própria experiência cinematográfica não importando o que será. Em outras palavras, críticos de cinema não devem servir de termômetro para o espectador decidir se deve ir ou não assistir uma obra cinematográfica. Porém é inevitável que Transformers quase me obrigue a fugir dessa regra e desejar que meus leitores/espectadores não se submetam a tortura machista, ensurdecedora e as explosões sonoras que Michael Bay coloca durante mais de 2 horas em seu novo “filme” – isso mesmo, entre aspas porque não é algo que mereça tal alcunha.



Escrito por Ehren Kruger (o mesmo imbecil por trás de “Transformers: A Vingança dos Derrotados” e “A Chave Mestra”), o filme mais uma vez nos mostra os Autobots, liderados por Optimus Prime (Peter Cullen), que participam de missões secretas ao lado dos humanos e tentam exterminar os Decepticons existentes no planeta. Até que uma grande conspiração dos humanos com algo ocorrido no lado oculto da Lua é descoberta por Optimus. Trata-se da queda de uma espaçonave vinda de Cyberton, comandada por Sentinel Prime (Leonard Nimoy), que desencadeou a corrida espacial entre Estados Unidos e União Soviética na década de 60. Os Autobots resolvem ir à Lua para resgatar o antigo líder, além das cápsulas que ainda estão no local.

Não parando de mover sua câmera por um segundo sequer é notável que Michael Bay consiga manter movimento até em cenas que deveriam ser as mais dramáticas do longa. O diretor investe de forma exaustiva em travellings circulares (contei 15 até cansar de anotá-los) e em zooms de aproximação para não deixar o espectador respirar por um minuto sequer; além de usar o slow motion de forma ainda mais intensa que em seus primeiros filmes. Note, por exemplo, cenas em que os soldados americanos caminham em direção da câmera como heróis que acabaram de vencer uma batalha, quando temos as cenas de batalhas entre as máquinas ou quando simplesmente temos closes em Rosie Huntington-Whiteley com sua maquiagem intocável, lábios semicerrados, cabelos sempre ao vento e com a batalha ocorrendo ao seu redor.


Aliás, a visão machista de Bay em colocar a mulher apenas como objeto sexual e frágil sempre sendo guiada pelo personagem de LaBeouf é ainda mais explorada no último filma da trilogia. Incapaz de raciocinar sozinha, Carly nunca tem o mínimo de desenvolvimento de personagem e fica impossível acreditar no amor de Sam pela personagem e seu desespero a tê-la de volta. Bay ainda faz questão de colocar a personagem, assim como sua maquiagem, sempre intocável e sua apresentação é no mínimo constrangedora ao pegar a personagem subindo seminua pelas escadas de seu apartamento para acordar um desempregado Sam.


Sempre apresentando seus personagens com uma aula de estereótipos, Bay é no mínimo hilário a apresentar cada situação em seu 1º ato. Cenas como uma sala de troféus em uma loja de automóveis, um dos Autobots chamado “Q” fornecendo armas e acessórios para os humanos ou as entrevistas de emprego de Sam são constrangedoras. Ainda mais interessante é assistir o roteiro de Kruger simplesmente esquecer-se de finalizar suas subtramas (imperdoável considerando as mais de duas horas de filme). Note que a trama de Carly saindo do apartamento de Sam por esse ter voltado a entrar na guerra contra os Deceptions nunca é concluída ou até coisas mais simples como a simples tentativa de atingir uma das cápsulas com um míssil direcionado que é completamente perdida quando o prédio começa a ruir.


Em contrapartida é interessante vermos algumas mortes de humanos para trazer um pouco mais de realidade a trama de uma Chicago completamente destruída, portanto são comuns planos em que um ou outro humano é completamente dizimado por um Decepticon ou vermos pessoas fugindo das máquinas. Ainda, os quinze minutos iniciais também funcionam muito bem, apesar da montagem nunca decidir-se se usará ou não tipos de imagens de arquivo, ao retratar a chegada do homem a lua com o reconhecimento da nave e indo ao encontro de inúmeras teorias ufólogas que a perda de comunicação da Apollo 11 foi proposital por os integrantes da Apollo terem achado algo que não deveriam.


Criando um personagem mesquinho, unilateral e que nem de longe lembra o jovem interessante e carismático do primeiro filme, Shia LaBeouf faz uma das atuações mais patéticas de sua carreira ao limitar-se a gritar o tempo todo demonstrando sua aflição ou angustia por não estar salvando o mundo – o que mostra seu personagem mais como um adolescente mimado do que como um protagonista de filme de ação. Ainda pior é a presença de Rosie Huntington-Whiteley (sim, recuso-me a falar atuação!) que consegue a proeza de o espectador sentir falta de Megan Fox que ao menos nos primeiros filmes passava muito mais “personalidade” e química com LaBeouf. É patética a tentativa do roteiro – provavelmente por ordens de um frustrado Bay – citar a personagem de Fox no começo do filme na tentativa de criticar a atriz não ter aceitado participar desse 3º longa. Falas como “Ela era má, não gostamos dela!” não só diz muito da personalidade infantil dos envolvidos na obra como é no mínimo doloroso e patético para o espectador ouvir tais falácias.

Utilizando a mesma narração em off dos dois primeiros filmes no começo e final do longa-metragem, Bay apela para o patriotismo sempre presente em suas obras de forma ainda mais repugnante ao apresentar suas tendências republicanas – com as situações dos “grandes inimigos da América” (Rússia, Irã, etc.), chegando ao cúmulo de mostrar Megatron no deserto com uma bandana na cabeça – e tentar exercícios estéticos deprimentes como a narração em primeira pessoa dentro do capacete de um soldado em Chernobyl. Se no primeiro filme da trilogia Transformers tínhamos um filme descompromissado e naturalmente divertido, ainda que falho; os dois últimos filmes são grotescos e patéticos equívocos cinematográficos que só continuam por gerar sempre dinheiros por seus espetaculares efeitos especiais e reunir mulheres lindas e máquinas. E no alto da previsibilidade de Bay e dos estúdios sabemos que ainda podemos esperar mais um filme dos robôs em breve. Em certa situação do filme o personagem, para tornar a situação ainda mais heróica, diz o seguinte: “só temos uma única bala”. Encaixa-se perfeitamente para definirmos a trilogia, só que aparentemente demos três balas para Bay e infelizmente duas delas foram disparadas contra nós.


(1 estrela em 5)

1 de junho de 2011

X-men: Primeira Classe (EUA, 2011):

Vaughn acerta de novo!
Em quatro produções sobre os mutantes da Marvel fomos entregues a todos os tipos de tramas e ações, com diferentes personagens, diferentes qualidades e diferentes propostas de seus diretores. Em 2000 fomos apresentados por Brian Singer ao universo mutante em que o preconceito e a evolução moviam toda a temática do filme explorando principalmente o anti-herói do universo X-men: Wolverine. A ação de Singer continuou em uma qualidade impressionante no 2º filme dos mutantes em que vemos uma primorosa seqüência inicial com Noturno invadindo a casa branca, mas um padrão de qualidade que não consegue manter-se durante toda a narrativa. Se Singer, mesmo que completamente equivocado em sua adaptação e seus personagens que pareciam sair do péssimo desenho “X-men: evolution”, ainda conseguiu fornecer um filme cinematograficamente aceitável como um todo, Ratner veio para dar fim à trilogia de uma forma tão nonsense e inaceitável quanto o último Homem-Aranha. E se Gavin Hood acabou com qualquer chance de vermos uma obra-prima protagonizada por esses personagens, é o genial Matthew Vaughn quem mais se aproxima disso e nos proporciona não só um dos melhores filmes de 2011 até o momento, como um filme que consegue unir e melhorar tudo o que os seus antecessores possuíam.



Escrito por Ashley Miller, Zack Stentz, Jane Goldman e Matthew Vaughn, o quinto filme dos mutantes se passa nos anos 60 quando Charles Xavier (James McAvoy), recém formado, começa a trabalhar junto com a CIA para realizar pesquisas sobre mutação genética e Erik Lehnsherr (Michael Fassbender), filho de judeus que foram assassinados pelos nazistas durante a 2ª Guerra Mundial, está em busca de vingança contra os responsáveis pela morte de seus pais. Os dois unem forças contra Sebastian Shaw (Kevin Bacon) que tem como objetivo a terceira guerra mundial.


Contando com uma competente fotografia de John Mathieson (conhecido por trabalhar junto com Ridley Scott em obras como Robin Hood e Gladiador), o filme é bastante competente ao transmitir cada ambiente da narrativa em diferentes cores. Tem-se um tom quase mecânico nas ambientações do submarino e quando vemos o clube do inferno pela primeira vez somos tomados pelas cores vermelhas, pretas e lareiras no local remetendo ao clima de inferno que o nome cita (algo que a direção de arte é brilhante em retratar).


Igualmente interessante é a montagem de Lee Smith e Eddie Hamilton (os gênios de The Dark Knight e Kick-Ass, respectivamente) em abordar de forma eficiente momentos históricos da época em que o filme se passa e colocar uma ou outra cena retratando marchas de exercito ou a “iminente” guerra que se aproxima. O filme ganha uma montagem ainda melhor em seu segundo ato nas cenas de treinamentos dos mutantes em passagens rápidas por cada treino, dando ritmo a narrativa, e tem seu ápice nas cenas em que Charles e Erik começam o processo de recrutamento apresentando os personagens que farão parte da trama – com destaque a uma hilária participação especial em um bar.


Ainda assim o filme não é apenas uma façanha técnica. Abordando os mesmos elementos em que os filmes de Singer haviam sido bem sucedidos (mutação, preconceito, aceitação diante da sociedade), o filme ainda investe em uma particularidade interessantíssima e que havia sido pouco explorada em outros filmes e é importantíssima no universo: amizade. Desde seu começo, Vaughn investe nesse aspecto explorando a relação de Mística e Xavier, por exemplo, e da própria relação Erik/Charles. É emocionante vermos em uma cena Charles dizendo que sabe tudo sobre Erik e o mutante responder “se você já esteve em minha cabeça, sabe que sou uma pessoa que não irá deixá-lo entrar outra vez” e logo depois somos tocados com a cena em que Erik literalmente deixa Charles entrar em suas memórias – solidificando a amizade dos dois. Talvez seja o momento mais memorável (com o perdão do trocadilho) da franquia!


A solidão dos personagens desse mundo é quase que um ponto de partida para o diretor e é explorado sutilmente em quase todas as cenas mutantes. Um bom exemplo é a cena dos mutantes em uma sala da CIA brincando e mostrando seus poderes por finalmente estarem entre iguais e poderem ser eles mesmos. É notável a sensibilidade do roteiro e direção de atores nessas cenas, assim como no choro caloroso de Charles e Erik, ou, em uma das cenas iniciais em que Xavier diz para Raven “você nunca mais precisará se esconder”.


Vaughn ainda é genial nos enquadramentos que cria para retratar as relações mostradas. Note, por exemplo, um plano soberbo em que vemos o diretor movimentando-se de forma circular (para mostrar o vínculo quase que familiar dos dois) entre Erik e Charles sentados em uma escada separados por um tabuleiro de xadrez e o capitólio no fundo servindo como uma divisão entre os dois – algo que aborda brilhantemente o futuro dos dois: lados opostos (Magneto na direita e Xavier na esquerda!). Analogia política perfeita, diga-se de passagem. Note também, como as peças do tabuleiro tem as mesmas peças fora de jogo, mostrando igualdade entre os dois.


Outra cena magnífica é proporcionada logo no inicio do longa quando vemos Erik frente a frente com Sebastian e sua mãe sendo ameaçada para Erik mover uma moeda. Não apenas a soberba seqüência que veremos também no clímax final é maravilhosa e para ser admirada, como também o enquadramento que Vaughn fornece ao retratar não apenas Sebastian e Erik frente a frente, mas também o fundo daquela sala como uma sala de torturas e experimentos. É fascinante também que a mutação e a genética sejam tratadas apenas como coisas impensáveis. Tanto que são hilárias as cenas em que Xavier utiliza como técnicas de sedução o controle da mente e cita mutações como fatores de beleza (um exemplo é a cena dos olhos, um de cada cor!).


Criando um personagem que foge daquela figura quase que divina que é o famoso professor X, James McAvoy é excelente em retratar essa mudança no personagem e se temos no começo do filme um personagem utilizando seu poder da mente como sedução em jovens mulheres, logo, isso é mudado para ajudar outros mutantes a poderem encontrar a si próprios dentro de suas memórias. Pode-se notar também o cruzar de pernas do personagem que diferente de Erik passa mais serenidade e paciência.


Investindo em toda a frieza de seu personagem e o sofrimento de vida que passou, Michael Fassbender faz a melhor atuação do ano. Articulando momentos de vingança como a arrebatadora cena na Argentina (que timing, diga-se de passagem!) e cenas emocionalmente marcantes como os embates psicológicos com Xavier. O ator é maravilhoso ao mostrar cada nuance de seu personagem e chega a ser assustador a expressão de seu olhar no clímax final com Shaw e a moeda. Ao passo que apesar dos outros excelentes atores não terem grandes momentos para explorarem seus personagens é inegável que estejam igualmente interessantes no longa.


Contando com referenciais interessantíssimos do universo (Agente Stryker, Clube do Inferno, Cérebro, A Cura, etc.), o filme une o que The Dark Knight havia conseguido há três anos atrás: ação, aprofundamento e mensagens pertinentes e significativas. Vaughn coloca em tela o que queríamos ver em outros filmes e não tivemos oportunidades por preciosismos de um ou outro diretor. Mesmo que ainda seja marcado por alguns equívocos como a transformação de fera e sua hulckanização, palavra que um colega havia usado brilhantemente, ou que Ciclope e Tempestade não apareçam (apesar de mostrar os dois na primeira vez que o cérebro é usado – note o garoto de óculos escuro com luva de beisebol e a garota de cabelo branco), Vaughn nos presenteia com uma das melhores adaptações de quadrinhos e projeta quase um filme de fã para fã. Em determinado momento, numa das inúmeras cenas em que um tabuleiro de xadrez separa os dois amigos, as peças para serem usadas no jogo estão cada vez mais escassas e cada passo tem que ser dado da melhor estratégia possível. Outra brilhante analogia, que possivelmente só eu irei fazer nesse caso, para Singer X Vaughn. Nesse caso, preciso dizer quem ganhou?


(5 estrelas em 5)