28 de dezembro de 2017

RETROSPECTIVA: OS MELHORES FILMES DE 2017

 

O que houve de novo (ou de melhor) no cinema, em 2017? Não existe uma resposta categórica para isso. As afirmações para melhores filmes são máximas individuais. Não são exclamações, são reticências. Ou vírgulas, melhor. O cinema é isso, não é mesmo? Um despertar de inquietações – algumas delas, provém da razão; tantas outras, da emoção.

Aqui, eu listei alguns dos filmes que me acertaram em cheio em 2017. Espero que a vocês também.


Melhores Filmes Lançados em 2017:



  1. mãe! (mother!. EUA, 2017)

     
    Cinema não é só aquilo que se diz. Não é só o que é mostrado em tela. A arte não é evidência. É subjetiva, metafórica, aflitiva. A nova obra-prima de Aronofsky, mãe!, não fala sobre milhares de desconhecidos entrando numa casa com o aval de um homem controlador. Não. Ele utiliza essa metáfora para mergulharmos numa trama paranoica, antirreligião e, acima de tudo, ambientalista. Afinal, um título mais claro que mãe! seria possível apenas se ele viesse acompanhado por … natureza. É sobre ela que Aronofsky se debruça, julgando nosso caráter como civilização – já que somos forasteiros, que se sentem em casa, sem ligar se interferimos ou não no design imaginado para aquela casa, para aquele mundo. Assim, a figura de uma mulher para representar fisicamente a natureza é uma das melhores decisões possíveis que o diretor podia tomar, já que consegue evidenciar ainda mais a relação entre domínio/submissão e a misoginia presente nas mais diversas camadas sociais. Crítica completa.

  2. Dawson City: Frozen Time (Idem. EUA, 2016) 



    Há momentos raríssimos em que a fala é necessária em Dawson City. E um deles é logo no começo: "essa história é incrível". Era ali que o registro da voz era imprescindível para categorizar o que nós veríamos. E o assombro faz jus. DW é um filme que faz pulsar cada imagem cinematográfica como se fosse a primeira vez que assistíssemos a um filme e conhecêssemos a história do cinema.

  3. No Intenso Agora (Idem. Brasil, 2017) 

     
    João Moreira Salles consegue nos levar para uma viagem que não apenas reflete sobre o passado, como também o nosso presente e o que podemos esperar do futuro.

  4. Marjorie Prime (Idem. EUA, 2017)


    Se você pudesse enclausurar uma única memória sobre uma relação, qual seria? De que época? Quem seria? Há imagens que gostamos de individualizá-las, acredito. Uma foto ou uma recordação que guardamos só para nós. Não divulgamos aos quatro cantos cibernéticos, tampouco fazemos questão de notá-la todos os dias. É seguro o suficiente saber que essa memória só é nossa. Está lá e podemos vê-la, de vez em quando. Como se fosse a primeira vez. O filme de Michael Almereyda (do excelente O Experimento de Milgram), Marjorie Prime, traça uma intimidade que raros filmes conseguem ao suavizar a perda sem que o luto seja desafiador. São quatro personagens que dividem as memórias conosco: Jon, Tess, Walter e Marjorie. O fio da narrativa nos sugere um serviço que oferece recriações holográficas de parentes falecidos, mas a mensagem acumula o mais importante: o que realmente nos faz humanos. Crítica completa.

  5. Três Anúncios Para um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri. Inglaterra/EUA, 2017)


    Nesta tragicômica cidade amaldiçoada em Missouri, Martin McDonagh cria personagens que transitam continuamente entre a estupidez, o cinismo, a empatia e a vulnerabilidade. Humanos, acima de tudo. As resoluções de personas como Dixon, Willoughby, James, Charlie e tantos outros, demonstram que não é uma realidade fácil; pelo contrário, o tormento daquelas pessoas é quase imutável. Dolorosíssimo, Three Billboards é mais uma obra pragmática sobre uma sociedade perdida, onde as jornadas podem ser distantes, mas as conclusões se assemelham.

  6. Colossal (Idem. Canadá/Espanha/EUA/Coréia do Sul, 2016)


    A sensação depois de Colossal é a de ficar paralisado, como se um robô gigante lhe arrastasse por 200 metros, com você a mercê, nas mãos dele. Nacho Vigalondo cria uma obra que manifesta cada particularidade de sua carreira: a adoração pela ficção científica, pelo macabro, além do amor e a sensibilidade de sua obra, complementando-se com a insanidade de seus personagens. Mas, acima de tudo, manifesta a si próprio. Em uma batalha que sugere ser bem pessoal (travada na mente do diretor), entre id e ego, Jason Sudeikis (na atuação de sua carreira) leva a pior e sucumbe. É uma forma de Vigalondo de se livrar do que de pior possui em algum lugar de sua mente. O cinema na forma mais intimista possível.

  7. Brawl in Cell Block 99 (Idem. EUA, 2017)


    Muito do apego cinematográfico de Scorsese girava em torno da moral dentro de uma vida de crime brutal. Como se manter íntegro dentro de um lugar que só respira o caos e a sobrevivência a qualquer custo? Vince Vaughn ilustra essa personalidade como nenhum outro conseguiu em 2017. Alguém violento, que beira ao insano, mas jamais perde o controle sobre suas ações.

  8. The Double Lover (L'Amant double. França/Bélgica, 2017)


    Ozon ridiculariza nossa noção de observação, inquieta nossa perspectiva e consegue criar um ritual de manifestação de desejos e repressões calculadíssimo. Ante nossos espelhos, a vaidade é só uma das camadas; o maior reflexo é sempre o interno. O que vamos enxergar quando nos observamos por completo? Ou como nos associamos um ao outro? É como se Verhoeven encontrasse Aronofsky.

  9. Thelma (Idem. Noruega/França/Dinamarca/Suécia, 2017) 


    Em uma das cenas mais lindas do filme, Thelma experimenta o prazer numa alucinação despertada não pela droga, mas pela manifestação involuntária de tesão. A serpente que adentra seu corpo, como se o pecado estivesse se estabelecendo ali, a afasta do que sempre a reprimiu, a religiosidade. A descoberta de sua verdadeira identidade proposta pelo cineasta vincula o sobrenatural, sim, mas os elementos de horror da obra são cúmplices da natureza humana. Jamais ilógicos. Se Carrie, do De Palma, fosse feito nos dias atuais, suspeito que ele seria algo similar a Thelma.

  10. Let It Fall: Los Angeles 1982 – 1992 (Idem. EUA, 2017)


    Existem múltiplas tentativas de reconhecer contextos. Alguns dos melhores trabalhos documentais percorrem exatamente este caminho. OJ Made In America não era apenas uma cinebiografia poderosa sobre uma figura tridimensional. Era um retrato sobre como o racismo fez com que a conclusão fosse aquela. Na história, a coadjuvância se mostra poderosa. Para compreender momentos, é necessário olhar sempre por uma esfera maior. Assim como LA 92, Let It Fall imerge na compreensão sobre os riots americanos e, principalmente, o chocante caso filmado de Rodney King. Mas é ainda mais profundo.
Outros filmes que merecem menção (na ordem):

  1. Forma da Água, A (The Shape of Water. EUA, 2017)
  2. Corra! (Get Out. EUA, 2017)
  3. Bingo – O Rei das Manhãs (Idem. Brasil, 2017)
  4. Super Dark Times (Idem. EUA, 2017)
  5. Cura, A (A Cure for Wellsess. Alemanha/EUA, 2016)
  6. Psiconautas (Psiconautas, los niños olvidados. Espanha, 2015)
  7. Tomcat (Kater. Austria, 2016)
  8. Band Aid (Idem. EUA, 2017)
  9. Era o Hotel Cambridge (Idem. Brasil, 2016)
  10. LA 92 (Idem. EUA, 2017)
  11. Filme da Minha Vida, O (Idem. Brasil, 2017) / Pendular (Idem. Brasil, 2017)
  12. Além das Palavras (A Quiet Passion. Inglaterra/Bélgica, 2016)
  13. Bom Comportamento (Good Time. EUA, 2017)
  14. Lady Macbeth (Idem. Inglaterra, 2016)
  15. Todas Essas Noites Sem Dormir (Wszystkie nieprzespane noce. Polônia, 2016) 


Melhores Filmes Lançados no Brasil em 2017:

  1. mãe! (mother!. EUA, 2017)
  2. No Intenso Agora (Idem. Brasil, 2017)
  3. Martírio (Idem. Brasil, 2016)
  4. Marjorie Prime (Idem. EUA, 2017)
  5. Criada, A (Ah-ga-ssi. Coréia do Sul, 2016)
  6. Christine – Uma História Verdadeira (Christine. EUA, 2017)
  7. Thelma (Idem. Noruega/França/Dinamarca/Suécia, 2017)
  8. Quase 18 (The Edge of Seventeen. EUA, 2016)
  9. Brilho Eterno (Always Shine. EUA, 2016)
  10. Colossal (Idem. Canadá/Espanha/EUA/Coréia do Sul, 2016)

    Lista Completa: https://letterboxd.com/clickfilmes/list/os-melhores-filmes-lancados-no-brasil-em/


    OUTRAS LISTAS: 
     
     
    Melhores Filmes Nacionais Lançados em 2017:



    Melhores Documentários Lançados em 2017:



    Melhores Terrores Lançados em 2017:


     

    DIÁRIO COMPLETO DE 2017, NO LETTERBOXD, COM OS 688 FILMES QUE ASSISTI NO ANO:

    https://letterboxd.com/clickfilmes/films/diary/


    Aproveitem as festas. Até o ano que vem.

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