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Idem, Inglaterra/Holanda/França/EUA, 2017. Direção: Christopher Nolan. Roteiro: Christopher Nolan. Elenco: Aneurin
Barnard, James D'Arcy, Harry Styles, Fionn Whitehead, Barry Keoghan, Mark
Rylance, Jack Lowden, Cillian Murphy, Tom Hardy e Kenneth Branagh. Duração:
1h46min.
"Christopher
Nolan é um cineasta que procura a catarse". A expressão não é minha, é do
colega Márcio Sallem. Este pensamento é um espelho de uma filmografia mais
racional do que emocional de Nolan, onde, na ânsia de sempre provocar grandes
momentos cinematográficos, o diretor "agride" o espectador
visualmente nos inserindo, geralmente, nas suas tramas. Transportando-nos para
seus mundos, uma perseguição de Leonard, em Amnésia, para a curiosidade insana
de O Grande Truque são completamente destoantes, portanto, pois são mundos
divergentes. A Origem, mais ainda.
É
quando Nolan pretende criar algo mais emocional em seus filmes que ele encontra
problemas. Interestelar é o maior exemplo, ao experimentarmos um completo
afastamento de calor humano por tratar o longa-metragem quase como um documento
científico e, vez ou outra, criando clichês melodramáticos (que não funcionam)
na espera de criar um lembrete para o espectador de que ele está assistindo a
algo envolvente e sentimental. Esse é um pouco do erro de Dunkirk, quando o
inglês insiste em diálogos pavorosos quanto o isolamento daquelas pessoas nas
areias de Dunkirk:
–
Dá para vê-la daqui!
–
O quê?
–
A nossa casa!
Quando
a carga emocional de Batman – O Cavaleiro das Trevas atingia um ápice, por
exemplo, jamais era pelo teor melodramático com que Nolan retratava Gotham. Era
pela racionalidade e aleatoriedade daquele mundo, onde vivíamos tempo o
bastante com seus personagens, até o momento em que eles não precisavam dizer
mais nada. E é exatamente nesta aleatoriedade da vida, na qual os soldados
caminham por uma rua deserta antes de virarem alvos ou num torpedo vindo em
direção a um navio, que o diretor demonstra que administrar o caos através de
sua lente é a sua maior virtude como cineasta. Se Mel Gibson preferia tratar o
choque da guerra como uma vocação no seu prazer pela carne, Nolan é um
observador paciente e aleatório. Para o inglês, não existem inimigos numa
guerra. Apenas sobreviventes. Analise, por exemplo, como nenhum alemão é visto
durante o filme, apenas sombras e o cano de uma arma.
Como
saber quem é o inimigo? Nolan chega a demonstrar uma morte ocasional de um
garoto num barco, evidenciando sequelas da guerra de uma maneira bem casual.
Essa observação garante também uma cena icônica de Dunkirk, onde os soldados
correm cada um para um lado, sem organização e acuados, quando ouvem os sons de
aviões inimigos chegando. Não existe mais coordenação e alinhamento. Existem
pessoas tentando escapar. Da forma que conseguirem. Desta forma, Nolan consegue
nos familiarizar com um ambiente de guerra diferente de outros, por não se
tratar de lados, mas de resistência. Outra cena fatídica de Dunkirk é na areia,
quando o soldado apenas se protege do barulho das explosões, enquanto os
colegas são mortos, um a um, por disparos de canhão.
E
é necessário destacar o trabalho de som genial que é feito pela equipe de
Dunkirk. O exemplo mais gritante é a primeira cena do longa-metragem, onde
podemos ouvir o cuidado dos técnicos em registrar cada emissão – o passo, os
papeis tocando nos casacos dos soldados, uma janela sendo aberta – até chegar
nos tiros rasantes que causam desorientação completa no espectador e nos
personagens. Quando um deles consegue correr em direção a praia, os barulhos
das balas são sutilmente trocadas pela batida de coração do personagem, como se
ele estivesse conseguindo fugir daquela zona de guerra.
É
exatamente nas poucas palavras que Nolan domina seu filme. Como já havia
mostrado em A Origem, que também foi editado por Lee Smith, o cineasta consegue
construir pontes eficientes entre vários paralelos. Assim, um tentando sair de
uma janela de um avião enquanto o outro tenta entrar em outra ambientação ou
diferentes situações envolvendo inundação nos demonstra a habilidade de Smith
em capturar as intenções de Nolan. E minha transição favorita talvez seja
aquela em que um personagem diz que não consegue enxergar e somos transportados
para um aviador com pouca visibilidade no voo.
Following,
Amnésia, Insônia, O Grande Truque, Batman Begins, Batman: O Cavaleiro das
Trevas, Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, A Origem, Interestelar e,
agora, Dunkirk. Com mais acertos do que erros, Nolan vai se tornando um dos
cineastas mais relevantes da atualidade.
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