29 de fevereiro de 2016

Steve Jobs

Idem. Direção: Danny Boyle. Roteiro: Aaron Sorkin, baseado no livro de Walter Isaacson. Elenco: Michael Fassbender, Kate Winslet, Seth Rogen, Jeff Daniels, Michael Stuhlbarg, Katherine Whaterston, Perla Haney-Jardine. Duração: 122 minutos. 

"Think different" - é o slogan que o iMac sugere atrás de um atormentado Steve Jobs discutindo com Woz  sobre dar crédito aos músicos da orquestra que o conduziram até o palco que ele está pronto para comandar novamente. Nos bastidores e nos holofotes, o roteiro de Sorkin nos entrega a obra biográfica definitiva para compreendermos a mente por trás da Apple.

Ao contrário do que os fãs da empresa poderiam pensar, o seu messias da tecnologia é uma pessoa humana,  quase maldosa, se não fosse tão indiferente a tudo. E é num trabalho de gênio que Michael Fassbender expressa as angústias que corroem o interior de Jobs de uma forma inesquecível: nesta perspectiva, o relacionamento com sua filha é o fio condutor mais forte do longa-metragem, que denuncia o afastamento da paternidade como um ponto primordial para entender a figura contraversa do biografado. Afinal, Steve Jobs foi abandonado quando era criança, segurou-se nos seus "filhos" tecnológicos, colocou o nome de sua filha num de seus produtos, relacionou-se apenas com o futuro, em suas projeções. O presente era esquecido.

É compreensível, portanto, que o atraso de uma de suas apresentações seja um ponto decisivo no relacionamento com Lisa, que tem uma relação ambígua com seu pai. Se no começo, ela apenas desenha uma possibilidade para Jobs, ela lhe dá seu santo graal, no fim: ao estimulá-lo a produzir o Ipod e, futuramente, o Iphone. "Dá para ser talentoso e decente, ao mesmo tempo; uma coisa não anula a outra", fala Waz, durante uma discussão; uma sentença que dita todo o ritmo da obra.

No design de produção, o amadurecimento da persona pública de Jobs também é muito bem evidenciado: observe que se num primeiro momento, o cabelo comprido e juvenil lhe dá um ar de frescor revolucionário, na apresentação de 1984, e o paletó lhe parece deslocado; o seu smoking na segunda, em NeXt, com seu figurino de modelo e maestro, bem posicionado numa estrutura colossal, digna de palácio, reflete seu egocentrismo maior, a crença que sua imagem precisa ser reverenciada; enquanto, no fim, ele aparece com seu conhecido traje mais clean, com suas calça jeans e camiseta preta. Sua figura está transformada.

Existe uma frase no documentário de Alex Gibney sobre Steve Jobs, chamado de The Man in the Machine, que é perfeita: "a tristeza da alma expressada na beleza das coisas". Noutra desconstrução de um mito, como já havia feito no fabuloso A Rede Social, Aaron Sorkin acerta novamente ao evidenciar esse estigma. 

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