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Idem. Direção: Affonso Uchoa. Roteiro: Affonso Uchoa. Com: Aristides de Souza, Eldo Rodrigues, Mauricio Chagas, Wederson Patrício, Adilson Cordeiro. Duração: 95 minutos.
Próximo de suas vozes, do barulho da
enxada e suor, o contato com os jovens da periferia de Contagem, em Minas
Gerais, é imediato. Quase que escondidos, num primeiro momento, em suas casas,
os meninos representam um Brasil desconhecido para muitos. Mantendo a câmera
sempre próxima de Neguinho, Juninho, Eldo, Adilson e Menor, Affonso Uchoa expõe
a parte enclausurada da nossa sociedade com o pouco que possuem: o máximo de
pessoas num lugar apertado, comendo em pé e ligados nas coisas mais simples.
Um
dos personagens mais fascinantes do drama documental, Neguinho, brinca de
“arminha” com um cabide rosa, enquanto veste uma camiseta do circuito cultural
Banco do Brasil. Da mesma forma, ele usa um espeto como uma espada, numa
brincadeira. Para o jovem daquela periferia, a violência é vista como uma coisa
normal, quase ingênua. O ambiente denunciado por Uchoa, sob esta ótica, surge
constantemente palpável, onde a música é uma das poucas coisas que mantém a
atenção dos moleques e fazem eles serem mais criativos, assim como, ainda que
os pais não sejam presentes (e observe como são raras as vezes em que uma mãe é
vista), um dos garotos se esconde ao usar crack, com receio da reação dos
outros.
É
muito bem estudada, aliás, as relações entre os garotos e a maneira como se
desenvolvem durante a projeção. Desta forma, a brincadeira de Neguinho usando o
cabide como uma arma é trocada por uma arma real – mais adiante. Seguindo os
passos dos garotos e estabelecendo um clímax coeso, o diretor usa o próprio
Juninho para dar voz para sua aflição final: “Tudo tem que mudar”, assina o
jovem. É um recado importante.
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