24 de janeiro de 2015

Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo

Foxcatcher, EUA, 2014. Direção: Bennett Miller. Roteiro: E. Max Frye e Dan Futterman. Elenco: Steve Carell, Channing Tatum, Mark Ruffalo, Sienna Miller, Vanessa Redgrave. Duração: 129 min.
Dono de um metódo que poderíamos diagnosticar como procedural, Bennett Miller é um dos diretores mais promissores da atual indústria norte-americana. No seu novo filme, Foxcatcher, o cineasta é extremamente maduro na forma como lida com cada um de seus personagens, transformando o filme não em uma narrativa de um homem só, mas de múltiplas camadas: sociais e introspectivas. 

Neste panorama, o personagem de Channing Tatum (surpreendentemente bem) é o fio condutor da tragédia. É nele que podemos observar inteiramente o declínio americano. O semblante forte, as marcas de treinamento, sua intensidade, frieza, tudo é trocado pela facilidade do poder e suas sequelas. O poster da conquista da honra e seu patriotismo, o desejo de ser reconhecido por um defensor de seu país, culmina numa cena avassaladora em que ouvimos os gritos de USA num inesperado terreno para ele.
O irmão interpretado pelo excelente Mark Ruffalo, por outro lado, reage disciplinarmente, mas depositando os votos econômicos totalmente em sua família. É o equilíbrio entre a luxuria e a extravagância de du Pont e a ingenuidade e humildade de Mark. A queda, portanto, é maior e muito mais inesperada. Enquanto isso, é John du Pont que precisamos desvendar. O seu critério misterioso no início, a influência constante e sua transformação são resultados de um homem paradoxal. Mesmo que seu nome e fortuna compre tudo, ele segue o garoto frustrado que tenta agradar sua mãe e busca arranjar alguma companhia – duas cenas são perfeitas ilustrações, aliás: a primeira, o treinamento forjado que faz com sua equipe; noutro momento, a maneira que deposita suas expectativas em Mark, tratando-o como único amigo, mas, muito mais do que isso, ancorando-se nele para vencer a “figura” de sombra. Não à toa, é exatamente depois de brigar com sua mãe, que du Pont dirige sua raiva e frustração para a sua própria figura refletida em Mark: afinal, como ele poderia achar que estava na hora de tomar decisões?!
Carrel, assim sendo, é a força dramática da narrativa. Estabelecendo o seu olhar singelamente triste, inquieto, aliado a uma aparência de imponência frágil (o que seria conflitante por natureza), o ator é perfeito em tratar todo o declínio dos du Pont. De uma criança mimada, como mostra a cena em que, triste por não ter a metralhadora que queria em seu tanque, joga os papéis no chão, emburrado, para alguém que ‘fabrica’ as opiniões positivas sobre ele: tudo é pontuado intensamente por Carell. E é emblemático o seu olhar para o documentário que fazem sobre seu espírito de liderança, quando avalia que o belo discurso de Mark num evento de gala foi fabricado por ele. É exatamente aí que seu personagem só vê uma saída: a necessidade de deixar o seu passado e sua herança para trás. Seguir o seu próprio caminho e fazer sua própria corrida. Algo precisava mudar. Claro que, infelizmente, a solução foi a mais brutal.


Nenhum comentário: