Minha rápida análise dos indicados a melhor direção:
5 – Tom Hooper por O Discurso do Rei
"Não deveria estar aqui". |
Tom Hooper é um diretor com muito potencial, porém foi premiado no momento errado de sua carreira – algo que trouxe muita raiva para sua pessoa e futura filmografia. O que se mostra uma pena, levando em conta que O Discurso do Rei é um filme no mínimo interessante, tanto do ponto de vista técnico quanto do narrativo. Desde seu filme “Maldito Futebol Clube”, Hooper prioriza uma vertente narrativa, a qual trará o poderoso clímax final, mas nem por isso se priva de mostrar outras vertentes ou outros transtornos durantes seus longas. Hooper se mostra um diretor centrado no óbvio e no convencional, mas que exerce a função de forma extremamente precisa. Além de claro, mostrar-se um excelente preparador de elenco ao nos proporcionar atuações singulares de seus atores. Michael Sheen, Colin Firth e Geoffrey Rush são exemplos escancarados de que o diretor sabe preparar um elenco vencedor, mas que não se permite fugir muito da idéia central. Em O Discurso do Rei, o trabalho de câmera de Hooper não chama atenção em muitas cenas, contando mais com o trabalho do diretor de fotografia Danny Cohen nas cenas em que focaliza com precisão o microfone em que o rei fará os discursos, mostrando justamente que a história se passará em função de um único objeto. Na cena seguinte quando o personagem de Firth irá fazer um discurso para centenas de pessoas, mais uma vez a câmera focaliza o microfone deixando o público desfocado, algo que reforça a sensação de náusea do protagonista em discursar para a multidão. Hooper não é um charlatão, muito menos um diretor que será esquecido daqui a alguns anos, não, ele é apenas um diretor que se beneficiou pela forte campanha da companhia Weinstein, algo que poderia favorecer qualquer outro.
4 – David Fincher por A Rede Social
Quando me darão o Oscar? |
David Fincher é o diretor de Alien 3, Se7en, Vidas em Jogo, Clube da Luta, O Quarto do Pânico, Zodíaco, O Curioso Caso de Benjamin Button e agora Rede Social. Só por ter dirigido Clube da Luta, Fincher deveria receber menção honrosa em todas as premiações do globo, incluindo Miss Universo. Fincher é um diretor com um estilo de abordagem singular e que prioriza um roteiro que por muito foge do convencional. É exatamente o motivo de “A Rede Social” funcionar. O diretor consegue criar um fluxo narrativo invejável ao mostrar cada dialogo ou cada aspecto emocional do protagonista e das pessoas que fizeram parte desse projeto que trouxe a maior rede social da internet e a mais rentável do mundo. A passagem de câmera de Fincher funciona perfeitamente com os diálogos rápidos e pertinentes de Sorkin e também com a brilhante montagem de Kirk Baxter e Angus Wall. Em Rede Social, o diretor acerta mais uma vez, criando um paralelo entre poder e solidão – mostrado na devastadora cena final em que o criador da maior rede social do mundo espera a confirmação de uma única pessoa. Fincher conseguiu mais uma vez!
3 – Ethan Coen e Joel Coen por Bravura Indômita
"Já ganhamos isso aí." |
Bravura Indômita é apenas a prova irrefutável do talento dos Coen em construção de diálogos e condução de histórias. É interessante quando levamos à nossa mente imagens, diálogos e cenas que foram passadas em qualquer filme dos irmãos Coen. Sempre bem construídos, os diálogos conseguem ter o tempo correto em cada cena passada em tela, o que acaba ajudando o timing dos atores e a construção de seus personagens. Veja, por exemplo, a magnífica cena do interrogatório. A cena começa com a personagem entrando no ambiente meio receosa do que irá ver e começa a fazer uma aproximação devagar até ver por completo o personagem de Bridges. A câmera, nessa cena, começa mostrando a parte de trás das vestes formais das pessoas presentes no interrogatório, mostrando sinais de que o personagem de Cogburn estaria sendo cercado por essas pessoas. Bridges só vai ganhando forma aos poucos, conforme a personagem de Steinfeld vai se aproximando. Todas as cenas que os Coen proporcionam são sutis, plásticas e com uma genial sátira de seu ambiente ou de seus próprios personagens. Guiar o espectador apenas do olhar da personagem de Steinfeld é de uma genialidade assombrosa. Todas as cenas têm algum significado que se não for mostrado de imediato, será mostrado ao final. E é quando a nossa linda protagonista pergunta para Cogburn “Você não vai enterrar ele?” e o personagem de Bridges responde que “O chão está congelado. Se quiser um enterro digno tem que morrer no verão”, aí que sabemos: vimos um filme dos Coen em que uma única frase pode revelar tudo.
2 – David O´Russel por O Vencedor
"Estarei de volta nos próximos anos" |
O’russel tem o pior trabalho dos cinco diretores, construir algo único de um tema abordado inúmeras vezes e é exatamente isso que o diretor consegue e é exatamente esse o porquê de estar em segundo lugar da minha lista dos melhores indicados ao Oscar. O diretor simplesmente investe no tema família e tudo que essa “instituição” pode causar em um único esporte, desde os momentos de glória aos momentos desastrosos de um lutador. O que gera um negócio familiar? Essas respostas são as que O’russel quer demonstrar para o espectador no decorrer do longa, para isso o diretor aborda sua narrativa sempre de forma circular e próxima de seus personagens, com o intuito de demonstrar o clima íntimo e familiar dos envolvidos. E se o personagem de Whalbergh está sempre deslocado de seus familiares essa é uma decisão acertada não só de seu ator, mas do diretor que é preciso em mostrar esses momentos. O’Russel também prioriza sua maravilhosa trilha sonora e investe nas músicas cantadas pelo seu maravilhoso elenco. Músicas que entram em total sintonia com o momento que os protagonistas estão passando. Se Bale canta para sua mãe no carro “I Started a Joke”, evidenciando seus erros e que os dois entendem a situação em que se encontram, a mesma análise pode ser feita da entrada para a última luta de Micky e na música “Here I Go Again”, mostrando que mais uma vez aquela família está lá desacreditada e contra tudo e todos. O’russel é inteligente e cumpre bem sua proposta. O Vencedor é uma aula de cinema.
1 – Darren Aronofsky por Cisne Negro
Perfeito! |
Darren Aronofsky é um diretor que consegue nos colocar em um ambiente claustrofóbico, inseguro, inquietante e perversamente assustador em todas as suas obras. Todos os seus desfechos são intrigantes e conseguem mexer com cada milímetro de nossa extensão cerebral. Talvez pudéssemos julgar o diretor e o próprio estúdio ao entregar o filme logo em sua sinopse já permitindo o espectador saber o que a protagonista tem de errado e se aquilo tudo é real ou não passa de um transtorno psicótico. Poderíamos culpar se não fosse mostrado o que vimos na tela. Aronofsky começa a fazer um jogo dos sete erros com o espectador e consegue criar algo singular. Em cada aumento de nota do genial Clint Mansell nossas inseguranças e medos aumentam, conseguindo dar ainda mais tensão à obra. Começando o longa com a câmera na mão, Aronofsky investe num clima quase que de perseguição à sua protagonista. Em todo o lugar, a personagem parece ser perseguida por algo e a tensa respiração que ouvimos ou o batimento cardíaco (note que é da própria protagonista) só faz aumentar mais os nossos medos. A genialidade de Aronofsky vai desde o visual único como na perfeição que é a cena final até cada enquadramento ou “brincadeira” que o diretor proporciona em tela para descobrirmos quem é quem. Veja, por exemplo, a cena da balada onde, através de uma fotografia avermelhada, conseguimos visualizar uma das faces de Nina querendo desprender-se de seu corpo. Aliás, o cisne negro também é visualizado nessa cena e por último uma face assustada e presa é vista de relance num enquadramento final – mostrando um fundo todo preto (vazio) e sua face avermelhada e densa. Outro retrato impactante é o “desprendimento” de Lily quando Nina chega a casa no final do segundo ato e para na metade do espelho. O mesmo espelho que serve para mostrar Nina separada (note a divisória do espelho) acaba mostrando Lily se desprendendo do corpo de Nina e dirigindo-se ao quarto. Da mesma forma é quando vemos Nina indo para sua cena final e sua imagem não reflete no espelho em que ela passa. Todas as cenas são cuidadosamente planejadas e o “jogo” de Aronofsky funciona de forma perfeita chegando ao limite cinematográfico na melhor cena que já assisti nas telas de um cinema ao mostrar Nina se transformando em Cisne Negro. E se Tarantino, através do personagem de Brad Pitt, brinca ao final de Bastardos Inglórios dizendo que havia criado sua obra-prima; Aronofsky também brinca com seu longa-metragem ao final, em um dos diálogos mais simples e absolutos que o cinema já presenciou: “Foi perfeito, eu cheguei à perfeição!”
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