14 de março de 2011

Analisando o Oscar: Melhor Diretor

Na categoria de direção fomos pegos de surpresa por uma vitória quase que absurda de Hooper. Foi a categorias com mais diferenças entre os realizadores: um diretor que priorizou o convencionalismo, outro que produziu um retrato de uma geração, dois que melhoraram algo que já era ótimo, outro que tem uma volta triunfante em um filme que tem suas singularidades em um gênero que já tentou de tudo e um diretor que já nos havia oferecido quatro filmes primorosos e agora chega a perfeição.

Minha rápida análise dos indicados a melhor direção:



5 – Tom Hooper por O Discurso do Rei


"Não deveria estar aqui".


Tom Hooper é um diretor com muito potencial, porém foi premiado no momento errado de sua carreira – algo que trouxe muita raiva para sua pessoa e futura filmografia. O que se mostra uma pena, levando em conta que O Discurso do Rei é um filme no mínimo interessante, tanto do ponto de vista técnico quanto do narrativo. Desde seu filme “Maldito Futebol Clube”, Hooper prioriza uma vertente narrativa, a qual trará o poderoso clímax final, mas nem por isso se priva de mostrar outras vertentes ou outros transtornos durantes seus longas. Hooper se mostra um diretor centrado no óbvio e no convencional, mas que exerce a função de forma extremamente precisa. Além de claro, mostrar-se um excelente preparador de elenco ao nos proporcionar atuações singulares de seus atores. Michael Sheen, Colin Firth e Geoffrey Rush são exemplos escancarados de que o diretor sabe preparar um elenco vencedor, mas que não se permite fugir muito da idéia central. Em O Discurso do Rei, o trabalho de câmera de Hooper não chama atenção em muitas cenas, contando mais com o trabalho do diretor de fotografia Danny Cohen nas cenas em que focaliza com precisão o microfone em que o rei fará os discursos, mostrando justamente que a história se passará em função de um único objeto. Na cena seguinte quando o personagem de Firth irá fazer um discurso para centenas de pessoas, mais uma vez a câmera focaliza o microfone deixando o público desfocado, algo que reforça a sensação de náusea do protagonista em discursar para a multidão. Hooper não é um charlatão, muito menos um diretor que será esquecido daqui a alguns anos, não, ele é apenas um diretor que se beneficiou pela forte campanha da companhia Weinstein, algo que poderia favorecer qualquer outro.



4 – David Fincher por A Rede Social

Quando me darão o Oscar?


David Fincher é o diretor de Alien 3, Se7en, Vidas em Jogo, Clube da Luta, O Quarto do Pânico, Zodíaco, O Curioso Caso de Benjamin Button e agora Rede Social. Só por ter dirigido Clube da Luta, Fincher deveria receber menção honrosa em todas as premiações do globo, incluindo Miss Universo. Fincher é um diretor com um estilo de abordagem singular e que prioriza um roteiro que por muito foge do convencional. É exatamente o motivo de “A Rede Social” funcionar. O diretor consegue criar um fluxo narrativo invejável ao mostrar cada dialogo ou cada aspecto emocional do protagonista e das pessoas que fizeram parte desse projeto que trouxe a maior rede social da internet e a mais rentável do mundo. A passagem de câmera de Fincher funciona perfeitamente com os diálogos rápidos e pertinentes de Sorkin e também com a brilhante montagem de Kirk Baxter e Angus Wall. Em Rede Social, o diretor acerta mais uma vez, criando um paralelo entre poder e solidão – mostrado na devastadora cena final em que o criador da maior rede social do mundo espera a confirmação de uma única pessoa. Fincher conseguiu mais uma vez!



3 – Ethan Coen e Joel Coen por Bravura Indômita

"Já ganhamos isso aí."


Bravura Indômita é apenas a prova irrefutável do talento dos Coen em construção de diálogos e condução de histórias. É interessante quando levamos à nossa mente imagens, diálogos e cenas que foram passadas em qualquer filme dos irmãos Coen. Sempre bem construídos, os diálogos conseguem ter o tempo correto em cada cena passada em tela, o que acaba ajudando o timing dos atores e a construção de seus personagens. Veja, por exemplo, a magnífica cena do interrogatório. A cena começa com a personagem entrando no ambiente meio receosa do que irá ver e começa a fazer uma aproximação devagar até ver por completo o personagem de Bridges. A câmera, nessa cena, começa mostrando a parte de trás das vestes formais das pessoas presentes no interrogatório, mostrando sinais de que o personagem de Cogburn estaria sendo cercado por essas pessoas. Bridges só vai ganhando forma aos poucos, conforme a personagem de Steinfeld vai se aproximando. Todas as cenas que os Coen proporcionam são sutis, plásticas e com uma genial sátira de seu ambiente ou de seus próprios personagens. Guiar o espectador apenas do olhar da personagem de Steinfeld é de uma genialidade assombrosa. Todas as cenas têm algum significado que se não for mostrado de imediato, será mostrado ao final. E é quando a nossa linda protagonista pergunta para Cogburn “Você não vai enterrar ele?” e o personagem de Bridges responde que “O chão está congelado. Se quiser um enterro digno tem que morrer no verão”, aí que sabemos: vimos um filme dos Coen em que uma única frase pode revelar tudo.



2 – David O´Russel por O Vencedor

"Estarei de volta nos próximos anos"


O’russel tem o pior trabalho dos cinco diretores, construir algo único de um tema abordado inúmeras vezes e é exatamente isso que o diretor consegue e é exatamente esse o porquê de estar em segundo lugar da minha lista dos melhores indicados ao Oscar. O diretor simplesmente investe no tema família e tudo que essa “instituição” pode causar em um único esporte, desde os momentos de glória aos momentos desastrosos de um lutador. O que gera um negócio familiar? Essas respostas são as que O’russel quer demonstrar para o espectador no decorrer do longa, para isso o diretor aborda sua narrativa sempre de forma circular e próxima de seus personagens, com o intuito de demonstrar o clima íntimo e familiar dos envolvidos. E se o personagem de Whalbergh está sempre deslocado de seus familiares essa é uma decisão acertada não só de seu ator, mas do diretor que é preciso em mostrar esses momentos. O’Russel também prioriza sua maravilhosa trilha sonora e investe nas músicas cantadas pelo seu maravilhoso elenco. Músicas que entram em total sintonia com o momento que os protagonistas estão passando. Se Bale canta para sua mãe no carro “I Started a Joke”, evidenciando seus erros e que os dois entendem a situação em que se encontram, a mesma análise pode ser feita da entrada para a última luta de Micky e na música “Here I Go Again”, mostrando que mais uma vez aquela família está lá desacreditada e contra tudo e todos. O’russel é inteligente e cumpre bem sua proposta. O Vencedor é uma aula de cinema.



1 – Darren Aronofsky por Cisne Negro

Perfeito!


Darren Aronofsky é um diretor que consegue nos colocar em um ambiente claustrofóbico, inseguro, inquietante e perversamente assustador em todas as suas obras. Todos os seus desfechos são intrigantes e conseguem mexer com cada milímetro de nossa extensão cerebral. Talvez pudéssemos julgar o diretor e o próprio estúdio ao entregar o filme logo em sua sinopse já permitindo o espectador saber o que a protagonista tem de errado e se aquilo tudo é real ou não passa de um transtorno psicótico. Poderíamos culpar se não fosse mostrado o que vimos na tela. Aronofsky começa a fazer um jogo dos sete erros com o espectador e consegue criar algo singular. Em cada aumento de nota do genial Clint Mansell nossas inseguranças e medos aumentam, conseguindo dar ainda mais tensão à obra. Começando o longa com a câmera na mão, Aronofsky investe num clima quase que de perseguição à sua protagonista. Em todo o lugar, a personagem parece ser perseguida por algo e a tensa respiração que ouvimos ou o batimento cardíaco (note que é da própria protagonista) só faz aumentar mais os nossos medos. A genialidade de Aronofsky vai desde o visual único como na perfeição que é a cena final até cada enquadramento ou “brincadeira” que o diretor proporciona em tela para descobrirmos quem é quem. Veja, por exemplo, a cena da balada onde, através de uma fotografia avermelhada, conseguimos visualizar uma das faces de Nina querendo desprender-se de seu corpo. Aliás, o cisne negro também é visualizado nessa cena e por último uma face assustada e presa é vista de relance num enquadramento final – mostrando um fundo todo preto (vazio) e sua face avermelhada e densa. Outro retrato impactante é o “desprendimento” de Lily quando Nina chega a casa no final do segundo ato e para na metade do espelho. O mesmo espelho que serve para mostrar Nina separada (note a divisória do espelho) acaba mostrando Lily se desprendendo do corpo de Nina e dirigindo-se ao quarto. Da mesma forma é quando vemos Nina indo para sua cena final e sua imagem não reflete no espelho em que ela passa. Todas as cenas são cuidadosamente planejadas e o “jogo” de Aronofsky funciona de forma perfeita chegando ao limite cinematográfico na melhor cena que já assisti nas telas de um cinema ao mostrar Nina se transformando em Cisne Negro. E se Tarantino, através do personagem de Brad Pitt, brinca ao final de Bastardos Inglórios dizendo que havia criado sua obra-prima; Aronofsky também brinca com seu longa-metragem ao final, em um dos diálogos mais simples e absolutos que o cinema já presenciou: “Foi perfeito, eu cheguei à perfeição!”

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