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Ah-ga-ssi, Coréia do Sul, 2016.
Direção: Park Chan-Wook. Roteiro: Chan-Wook Park e Seo-Kyeong Jeong, baseado na
obra de Sarah Waters. Elenco: Min-hee Kim, Tae-ri Kim, Jung-woo Ha, Jin-woong
Jo, Hae-suk Kim, So-ri Moon. Duração: 2h24min.
Ao entrar numa
casa desconhecida, Sooke (Tae-ri Kim) começa a sentir que está sendo vigiada
pelos quadros do local em que mora Hideko (Min-hee Kim), uma herdeira que leva
uma vida pacata junto ao seu tio tirano, o qual sobrevive às custas de
histórias eróticas lidas para ricaços. Assustada com a atmosfera do casarão,
Sooke chega a despertar alguma graça quando entra no quarto de Hideko pela
primeira vez e ouve uma história sobre o fantasma da tia desta – apenas para,
depois, a herdeira pregar uma peça com um lençol branco. Ali, o que se torna
raro no filme, estamos dentro de uma visão de terceira pessoa, do lado de fora,
olhando para as duas pela janela, sem consciência particular. É somente uma
introdução.
Esse é o segredo
do genial Park Chan-Wook ao nos levar às perspectivas de Hideko e Sooke,
separadamente, a partir do segundo ato. Ao não conhecermos propriamente suas
intenções, a surpresa que seus pontos de virada causam são enormes. O sul
coreano, desta forma, pouco tenta falar sobre a invasão japonesa na Coreia do
Sul (a única cena talvez mais atrevida, nesta ótica, seja crianças marchando
logo atrás de soldados na chuva), pois ele sabe que seus personagens se
encarregarão de expor a hipocrisia daquele cenário de forma sutil.
A paixão pelo
brutal, pelo masoquismo, dos grandes ricos que se excitam com a descrição de
mulheres subjugando homens sublinham esse quadro. Park trata a masculinidade e
sua tentativa de ser viril como algo comicamente desprezível – não só dos
idosos escondendo seus membros com a mão ao ouvir uma das histórias contadas
por Hideko, como também o tio batendo na tia e na sobrinha enquanto seu pênis
fica ereto (num plano detalhe eficiente) ou em como o Conde só se preocupa em
manter seu órgão antes de seu destino inevitável.
Deste modo, o que
antes era chibata, torna-se prazer e algo que não desperta mais memória para
Hideko, na cena final, em que as duas dividem um instrumento de dor para
atingirem o orgasmo. É, ao mesmo tempo, lindíssima a forma como o cineasta
sublinha o encantamento uma pela outra: a cena mais óbvia é a da banheira, onde
cada uma de suas perspectivas são mostradas, numa forma brilhante de simular
uma tensão – no olhar e no lábio úmido.
Assim como
em Carol, Park se preocupa com a sensação de cada uma e com a
leveza da paixão em contraste com o descontrole do tesão. Um paradoxo lindo
para se filmar. E que o cineasta faz como poucos.