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Creed, EUA, 2015. Direção: Ryan Coogler. Roteiro: Ryan Coogler, Aaron
Covington, baseado nos personagens de Sylvester Stallone. Elenco: Michael B.
Jordan, Sylvester Stallone, Tessa Thompson, Phylicia Rashad, Andre Ward, Tony
Bellew, Ritchie Coster. Duração: 133 minutos.
Já na
primeira sequência de Creed, um jovem
Adônis encara Mary Anne com uma raiva incontida por passar anos pela assistência
social e orfanatos, sem rumo, julgando-a por sua estranha bondade no tom de
voz. Afinal, ele estava descrente de boas intenções numa sociedade que, para
ele, não reconhecia órfãos. Uma simbologia que se tornava ainda mais
bela, quando o garoto, ao perceber que estava diante da viúva de seu pai, descerrava
seu punho.
Essa
rigidez e descrença, entretanto, não larga um jovem que segue com o medo do
abandono. Obstinado a fazer de sua luta diária (interna, principalmente) uma
forma de vida no esporte, Donnie assemelha-se aos grandes lutadores do cinema,
como Jake LaMotta, Ali, Randy 'The Ram' Robinson e, claro, Rocky - cujo papéis
que desempenhavam no ringue eram apenas uma extensão de suas vidas pessoais.
Assim, a
figura personificada por um genial Sylvester Stallone, na atuação de sua
carreira, surge como um oposto de Donnie, no momento em que eles se encontram.
Subindo as escadas de seu restaurante com uma aparência fragilizada, com seus
óculos, e apenas retratos e seu chapéu o lembrando de seus tempos áureos, Rocky
é apenas um observador, agora. Desvinculado do ringue esportivo e pessoal.
"Eu fiquei. Todos os outros se foram, mas eu
ainda estou aqui.", diz o personagem para Donnie numa das cenas mais
emocionantes da franquia. É Donnie que o tira da aposentadoria literal, da
desistência, ao relembrar de tempos que se foram. Ambos carregam cicatrizes
diferentes. E é onde reside a força do relacionamento: o filho de um velho
amigo, um começo de uma nova vida, para quem já havia perdido todo o seu
passado. A cena em que Stallone visita os túmulos de Mickey e Adrian aponta seu
vínculo com o pouco que havia restado.
Ryan Coogler
compreende a força sentimental que possui em mãos. Intercalando sua ação de
forma íntima, quase paternal com Donnie, o diretor se apega aos planos mais
fechados, principalmente nas lutas, para denunciar a força dos socos (com uma
edição de som primorosa) e as consequências físicas: caímos juntos com o
personagem e sentimos o seu desgaste.
Da mesma forma, o diretor é sábio ao usar planos-sequência pontualmente,
inserindo-nos como espectadores dos palcos da vida de Donnie - seja numa prisão,
lutas clandestinas ou em arenas (e a forma como a tensão se encaixa na luta
final é ainda mais palpável por isso, já que entramos junto com Creed e
observamos a escuridão da entrada do oponente de seu ponto de vista). É
natural, portanto, que sua provocação seja envolvente e coesa: "você sangra também!".
A
fragilidade emocional de um Michael B. Jordan completamente entregue ao
personagem é visualizada constantemente, chegando ao ápice na prisão, quando
nem sua raiva por Rocky também "querer" abandoná-lo deixa cair uma
indesejada lágrima. É uma pena que esse espectro não seja levado em conta, ao
nos depararmos com uma montagem não condizente com a essência do drama, fazendo
com que assistamos novamente tudo aquilo que já havíamos visto, quando Donnie é
derrubado. E o motivo de se reerguer.
Nada que frustre o resultado, todavia.
Nada que frustre o resultado, todavia.
Porque, se
antes Rocky apenas subia os degraus da escada de seu restaurante e Adônis lutava clandestinamente, é numa arena e numa grande escadaria que os dois passam a
admirar uma vista promissora. De uma nova franquia, talvez.
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