Não fui, na infância,
como os outros
e nunca vi como outros
viam.
Minhas paixões eu não
podia
tirar de fonte igual à
deles;
e era outra a origem da
tristeza,
e era outro o canto,
que acordava
o coração para a
alegria.
Tudo o que amei, amei
só.
Assim, na minha
infância, na alba
da tormentosa vida,
ergueu-se,
no bem, no mal, de cada
abismo,
a encadear-me, o meu
mistério...
Edgar Allan Poe, Só.
Crimson Peak, EUA, 2015. Direção: Guillermo del
Toro. Roteiro: Guillermo del Toro, Matthew Robbins. Elenco: Mia Wasikowska,
Jessica Chastain, Tom Hiddleston, Charlie Hunnam, Jim Beaver. Duração: 119 min.
"Duas pequenas borboletas
pousam numa lamparina, que aos poucos perde sua intensa luz natural e parece
ser sugada por elas". O trecho anterior poderia ser o princípio de uma
história trágica de Edgar Allan Poe, mas não o é. É o início de uma bela
metáfora cultivada por Guillermo del Toro em sua narrativa, A Colina Escarlate, onde o espectro mais
vital de uma família, vinculado à radiante forma de Mia Wasikowska, torna-se
atormentado por dois imagos (se nos permitirmos continuar na metáfora), os
quais passam a se alimentar de sua juventude, "pureza virgem",
dinheiro e solidão.
Na figura de Thomas
Sharpe, o novo, o atraente, o mistério que chega na vida de Edith, tal como um
poema de Poe, Hiddleston transforma-se na figura gótica sedutora de um
estrangeiro que ludibria uma pequena cidadezinha e o tesouro de uma das
principais famílias da região. É o Christopher Lee de Guillermo del Toro, cuja
dualidade no olhar denota um constante conflito entre franqueza e parcimônia. Suas
tentativas desesperadas de consolar uma cada vez mais vítima, Edith, tornam-se
uma tentativa de rendição que não já é mais possível. Thomas, afinal, também é uma vítima.
Desta forma, num
cruzamento incrível entre Hammer e Hitchcock, del Toro usa o "prometido"
ao seu favor. Criando uma obra de pistas/recompensas que é sábia não só em
administrar cada individualidade, como também guarda o inesperado em seus
personagens. E se os fantasmas surgem como lembranças ou mensageiros, o
cineasta brinca com o terror que eles produzem em nós, não importando a natureza
da mensagem. Observe a maneira com que os enquadramentos no corredor são feitos
pelo mexicano e como ele nunca deixa de entregar o que ele quer - neste sentido,
caso um fantasma seja avistado, ele irá aparecer; não importa se isso servirá
ou não como susto na trama.
Igualmente, caso del
Toro buscasse homenagens impassíveis ao terror clássico, Dr. Alan McMichael
nasceria com o único intuito de servir como âncora para a frágil Edith Cushing
(Cushing!), que seria salva no último minuto pelo seu cavalheiro sem armadura; correto? Errado. E é aí que a narrativa do mexicano se torna ímpar. Ao começar
pela natureza feminista de sua obra, que já é denunciada na maneira dispare
como Edith Cushing é vista na sociedade, quase independente, algo que inclusive
irá despertar a atenção e amor de Thomas, que acaba se lembrando da própria
irmã. Em poucos minutos, Edith é renegada por um livro
"masculinizado" para a época, é tratada com desdém pelas mulheres por
seu estilo inusitado de não estar à procura de um marido e nunca se deixa
influenciar pelo charme do doutor Alan. Ela constrói seu próprio caminho para
chegar até a mansão da Colina.
Lucille, interpretada
soberbamente por Jessica Chastain, é a única que percebe a força de Edith. A
luta final entre as duas não serve apenas como um clímax esperado, mas como um
duelo entre antagonistas, paradoxos de uma mesma figura. Cushing x Lee, de
outra época. As mulheres são a força de del Toro e é com elas que chegamos às
revelações do castelo. Da estrada de sangue que nos conduz até ele - analise,
aliás, as marcas no chão que a carruagem passa.
Não à toa, a única
nudez permitida no filme é a de Thomas. Uma figura que se rendeu pra
sexualidade há muito tempo. E vive por ela. Assim como morrerá.
2 comentários:
Gosto muito Charlie Hunnam e Colina Eacarlate sua atuação é majestosa, adorei o seu papel no filme. Eu também vi isso em Rei Arthur a lenda da espada esta impecável no filme. Ele sempre surpreende com os seus papeis, pois se mete de cabeça nas suas atuações e contagia profundamente a todos com as suas emoções. Seguramente o êxito de filmes com Charlie Hunnam deve-se a sua atuação não é forçada em absoluto. Suas expressões faciais, movimentos, a maneira como chora, ri, ama, tudo parece puramente genuíno. Rei Arthur É uma produção espetacular. Parece que este filme é um dos melhores que o diretor Guy Ritchie dirigiu.
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