Idem, EUA, 2015. Direção: Cary Joji
Fukunaga. Roteiro: Cary Joji Fukunaga, baseado no livro de Uzodinma Iweala.
Elenco: Abraham Attah, Idris Elba, Emmanuel Affadzi, Ama Abebrese, Francis
Weddey, Emmanuel Nii Adom Quaye. Duração: 137 minutos.
Numa das cenas mais
emblemáticas de Beasts of no Nation, o
Comandante inicia um cântico com seu combatentes para durante a dança
pré-guerra poder ouvir o coração deles batendo, esperando pelo momento da
batalha. Na guerra física e mental
proposta por Cary Joji Fukunaga, as crianças e a juventude são as principais baixas
dentro da realidade mortal que elas passaram a fazer parte.
A figura escolhida para
dar vida à trajetória de uma criança da ingenuidade para a vingança é Agu, que
vivia em uma comunidade dizimada pela guerra civil. É a voz do filme,
literalmente - aliás, talvez o único problema, ao criar um conflito entre a
brutalidade evidenciada e a filosofia existencialista da narração. A narração
de Agu está lá para protegê-lo, não fazer com que o espectador o julgue. Ele
procura entender o que está fazendo, quais as ramificações e o que ela está
perdendo neste percurso. Soa prejudicial, já que compreendemos os limites que a
criança chega ou a abordagem que ela toma.
Desta forma, quando
Fukunaga é mais sutil, o filme igualmente ganha uma solidez muito maior. Um dos
melhores enfoques do diretor, por exemplo, é a liderança d'O Comandante e seu
relacionamento com Agu e Strika. Afinal, o personagem é a figura perdida na
vida daquelas crianças, o pai que elas não possuem mais. É o elo de ligação
delas entre a guerra e a vingança. Quem os ensina a ser como são.
Nesta perspectiva, a
voz do imenso Idris Elba intercala entre simpatia e austeridade, fazendo com
que o choque seja muito maior na cena em que se aproveita da fragilidade de Agu,
fazendo com que, antes, este acredite que só quer o seu bem e que guarde
segredo. Na mesma linha, a voz do Comandante sendo constante no primeiro
assassinato de Agu ("Eles mataram seu pai") é reveladora, pois
evidencia a extrema influência da figura paterna naquele crime que assistimos.
De tal modo, quando nos
deparamos com mísseis tomando os céus, aos olhos daquelas crianças de vigia,
compreendemos que no mundo delas, não importa o que aconteça, não há mais
estrelas cadentes ou fogos de artifício. Apenas guerra.
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