Whiplash.
EUA, 2014. Direção: Damien Chazelle. Roteiro: Damien Chazelle.
Elenco: Miles Teller, J.K. Simmons, Melissa Benoist, Paul Reiser,
Nate Lang. Duração: 107 min.
Há uma
veia temática de Aronosfky muito forte no filme de Damien Chazelle,
Whiplash, que está escancarado na pele do jovem Andrew: a entrega
absoluta em busca da perfeição. “Os suplentes limpem o sangue da
bateria, pois está na hora de começarmos”, repreende o
inesquecível Fletcher, interpretado com uma dureza avassaladora por
J.K. Simmons. Para ambos, o cineasta e o professor, não interessa o
passado, o trabalho ou a vida pessoal, mas o que você produz num
espaço curto de tempo, após uma dedicação completa. Um caminho
árduo, mas necessário – na visão deles.
Andrew é
a cobaia perfeita. O jovem prodígio que serve para denunciar uma
promessa que todos buscam encontrar, cujo dom reside na sua cobiça
por reconhecimento, manter-se na memória, ser motivo de discussão.
O próximo Buddy Rich. É quem parece compreender e complementar
Fletcher, quem o “entende”. A pessoa que pode introjetar algo
entre a relação mestre/aprendiz. Sua arrogância está lá, tão
dúbia quanto a sua paixão pela sua arte – o que nos remete a uma
sensação estranha. A situação na mesa de jantar, por exemplo, é
um bom exemplo: o garoto é claramente a vítima de um preconceito
velado com a música, mas que, em situação de defesa egocêntrica,
não parece se importar com empatia/educação; assim sendo,
transformando-se no agressor. Tanto no seu descaso com os adolescentes
titulares de um time de futebol americano (“essas serão palavras
que você nunca ouvirão na NFL” é hilário, mas cruel), como com
sua relação intransigente com a personagem de Melissa Benoist.
E é
importante o tato do roteiro com a situação, já que a maneira como
o romance se desenvolve é bastante singular: se num momento Andrew
parece finalmente estar conquistando algo, e fica confiante o
bastante para convidá-la para sair; noutro, ele se comporta como seu
próprio mestre, ao tratá-la com uma profunda indiferença.
São
rostos de uma mesma moeda, e Milles Tiller é competente o suficiente
para produzir um elo de ligação com a aspereza de J.K. Simmons, a
qual é aliada ao tom milimetricamente sensível que é pontuado por este: por vezes, no tom de voz ao falar com carinho em alguém ou no
tratamento dado aos amigos; noutras, em acordes
tristes de um piano ou no olhar recompensador, ao encontrar o que
buscava, no maravilhoso clímax.
Fletcher carrega uma honestidade brutal. Enquanto Andrew é o suprassumo da exigência para Chazelle, que chega ao ponto de mostrar o personagem abandonando um acidente de carro para ir fazer seu trabalho. Idem, é um filme onde o tempo e a singularidade são sempre importantes, e os enquadramentos aproveitam para indicar esse fato a cada instante – note os relógios que sempre os cercam.
Fletcher carrega uma honestidade brutal. Enquanto Andrew é o suprassumo da exigência para Chazelle, que chega ao ponto de mostrar o personagem abandonando um acidente de carro para ir fazer seu trabalho. Idem, é um filme onde o tempo e a singularidade são sempre importantes, e os enquadramentos aproveitam para indicar esse fato a cada instante – note os relógios que sempre os cercam.
Na
história de Chazelle, a busca pela afirmação é obtida no palco,
fruto de uma razão de viver para aquelas pessoas. À distância de
um olhar de aprovação está o limite tênue entre a entrega e a
abnegação. Um solo é o bastante. E sangue e suor são
consequências.
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