Idem, Brasil, 2014. Direção: Paulo
Henrique Fontanelle. Duração: 120 min.
Caso pegarmos para
comparação Loke, Dossiê Jango e Cássia Eller,
eu acredito que não conseguiríamos definir quem é Paulo Henrique Fontanelle.
Adaptando-se a cada resgate histórico que faz sobre seus protagonistas, o
diretor transmite mudanças genuínas conforme a obra é tratada – no filme sobre
o ex-presidente, por exemplo, as nossas dúvidas giravam sobre a morte de João
Goulart, enquanto em Cássia Eller somos envolvidos por uma figura que simplesmente
não conhecíamos. Não desta forma, ao menos.
Fazendo um apanhado sobre
toda a vida de Eller, numa linearidade maravilhosa, o diretor nos transporta às
fotos de Cássia e Eugênia, a fim de nos deixar mais íntimos de uma mulher que
divergia da vida para o palco, onde era seu verdadeiro lar. Repetindo a sua já
conhecida montagem dinâmica, imprimindo elegância de uma transição para outra –
como nas das fotos, a do cd acústico e, a minha favorita, de um show para uma
foto de Cássia cantando (um simbolismo belo), Fontanelle é calmo ao trazer a
vida dessa personagem para as telas, o que faz com que pareça estarmos
realmente vendo uma carreira sendo construída em tempo real.
Desta forma, a
comovente entrevista com Nando Reis fica para o final, bem como a do filho da
cantora, que influencia muitas escolhas. O cineasta não tem medo de colocar o
passado experimental da cantora, idem, onde muitos falam sobre envolvimentos
com drogas, relacionamentos abertos e uma futura depressão começando a se
instalar. Pelo contrário, Fontanelle gosta de evidenciar essas inúmeras facetas
de Cássia, que nos aproximam de sua principal: o amor pela música. Assim sendo,
o vínculo se torna mais forte a medida que vamos reconhecendo mais a
genuinidade da cantora, bem como seus momentos polêmicos. Além disso, o diretor
ainda arranja tempo para desarticular manchetes sensacionalistas sobre a morte
de Cássia Eller, em sequências politicamente engajadas que soam excelentes.
Eu me lembro que
existia uma cena antológica em Dossiê
Jango, logo no começo, que apontava para as águas pertencentes ao famoso
Rio Uruguai sendo observadas pela figura de Jango tomando chimarrão à beira do
rio, o seu único confidente. Em Cássia Eller, o microfone aponta certeiramente para a
resposta: quem era aquela mulher!?
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