Unbroken. EUA/Japão, 2014. Direção:
Angelina Jolie. Roteiro: William
Nicholson, Richard LaGravenese e Joel e Ethan Coen, baseado na obra de Laura
Hillenbrand. Elenco: Jack O'Connell, Domhnall Gleeson, Garrett Hedlund, Jai
Courtney, Miyavi. Duração: 137 min.
Distanciando-se da veia
politizada e sensível da diretora, Invencível
é um exemplar corrido, automático e um esforço problemático de Angelina Jolie em
emular um cinema clássico hollywoodiano que, à primeira vista, escapa da
vocação demonstrada em seu primeiro filme. É preferindo soluções rasas e
artificiais, como os terríveis flashbacks, que a cineasta frustra em denunciar
uma história tocante, e cuja moral permanece uma incógnita.
Afinal, o
individualismo transformado numa adulação cristã, dificilmente, passa percebida
nos primeiros atos ou no próprio cerne de "heroísmo". Além do mais, a
indicação de sofrimento constante joga em seu desfavor, apontando para um
excesso de melodrama que interfere no tom verossímil da trama. Fica difícil,
por exemplo, ter fé (com o perdão do trocadilho) que o sofrimento de todo um
complexo tenha sido tão individual, e a necessidade que Jolie sente em
transformar Zamperini em um pária piora mais as coisas - a cena dele pedindo
para levar um soco de cada soldado é constrangedora, neste panorama.
Além disso, não dá para
deixar de ressaltar o assustador plano, que eleva o "altruísmo"
americano à última potência, na fotografia de Roger Deakins, ao conferir um tom
autoritário e vilanesco à Watanabe e, em maior escala, ao Japão. E é quase
ofensivo este plano, onde uma bandeira do país oriental tremula entre um rastro
de destruição e uma espécie de cajado militar. A fotografia do americano,
aliás, é um caso à parte. Sempre optando por tons mais quentes e um contraluz
estável, Deakins consegue empregar um mínimo de dose dramática nas cenas de
grandes esforços ou em tomadas que demonstram o nível crítico que Zamperini se
encontra: e por mais que a cena dos socos seja terrível, é inegável a aflição
que é visualizar a quantidade interminável de soldados se enfileirando; como
também a maioria das cenas no bote salva-vidas é dona de uma solidez invejável.
Com cacoetes de
principiante, porém, Jolie ainda não exerce controle completo sobre suas
intenções: assim, é notável a forma como muitas de suas cenas no primeiro ato se
desenrolam - um plano horizontal para uma aproximação de perfil. Da mesma
forma, a falta de confiança na história é visível ao preferir uma ótica mais
conservadora para contar a história, abandonando quase que por completo sua
personalidade: a montagem, nesta ótica, é frágil ao indicar quantos dias
aquelas pessoas estão lá, quando o mais correto seria experimentarmos a sensação
vivida por eles; igualmente, os flashbacks não têm fundamento algum, feitos
apenas para mostrar que aquela pessoa já foi um maratonista.
É difícil deixar o
mundo de Zamperini com uma sensação de empatia ou conhecimento, portanto. Quem
foi o homem? Uma resposta que poderá ter múltiplas versões. E, talvez, nenhuma
delas seja satisfatória.
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