Interstellar, EUA, 2014. Direção: Christopher Nolan. Roteiro: Jonathan e Christopher
Nolan. Elenco: Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Wes Bentley, Jessica Chastain,
Casey Affleck, Topher Grace, John Lithgow, Michael Caine, Mackenzie Foy.
Duração: 169 min.
Ao final da sessão da
nova obra de Christopher Nolan, Interestelar, pode-se reclamar da mesma
atmosfera que David Fincher tentou criar no discutível O Curioso Caso de
Benjamin Button: sabotar a racionalidade da obra, ao se entregar diretamente ao
melodrama. Algo que culmina num longa-metragem que é um apanhado de inúmeros filmes
de ficção liquidificados, com seus condimentos, em uma estrutura sem muita inspiração.
É uma missão
complicada, claro, conciliar o drama familiar vivido pelos personagens com o
aspecto social enxergado na missão de sobrevivência – e, desta forma, a
tentativa de Nolan em criar fragilidades emocionais que suscitarão no clímax do
filme só não são mais caricatas que os diálogos reflexivamente nulos, como
quando Anne Hathaway afirma que o amor é uma constante universal, algo que
poderia certamente lembrar o roteiro de Lindelof em Prometheus.
Abordando um cenário
apocalíptico, onde a terra está afetada por ondas de poeiras que debilitam as
plantações e a profissão mais bem quista acaba virando a de fazendeiro-agricultor,
o personagem de Matthew McConaughey, Nolan embarca no mesmo caminho que outros
tantos diretores se aventuraram esse ano e com o mesmo êxito: o argumento é
mais interessante que seu desenvolvimento.
Desta forma, o
primeiro ato extremamente maçante e explicativo apenas serve para indicar o
relacionamento entre pai e filha e almejar um drama intenso que não existirá em
instante algum, principalmente pela jornada futurista vivida por Chastain e seu
orgulho quase que mimado. Ao mesmo tempo, a fragilidade na composição dos
personagens femininos é novamente denunciada na figura de Murph, que chega a
dizer que todo o trabalho foi de seu pai, ela só foi o instrumento de sua
inteligência. É igualmente engraçado perceber que o relacionamento
interfamiliar é inexistente, quando num específico reencontro ninguém troca
nenhum tipo de aceno.
Por outro lado, as
homenagens de Interestelar são no mínimo curiosas: o relacionamento paternal de
Contato, as cápsulas e o computador de 2001, além da abordagem "howardiana"
com os sacrifícios humanos e uma sequência que poderia remeter ao filme Alien -
O Oitavo Passageiro. Mas sem muito aprofundamento ou coragem, especificamente
na maneira com que Nolan lida com o surgimento do personagem do Doutor Mann (!!),
ainda que exiba tensão numa luta corporal.
Nem mesmo um grande
espetáculo visual a narrativa de Nolan consegue ser desta vez, priorizando sempre
uma fórmula dramática que não combina com a pretensão. Esquecendo a
brilhante cena em que finalmente a teoria das cordas é alcançada de forma
ímpar (numa das melhores sequências da filmografia do cineasta) e o formato da
nave espacial lembrar as engrenagens de um relógio (eles mexem com tempo,
afinal), a entrada no buraco de minhoca é previsível e nada imaginativa, bem
como a fotografia parece reaproveitar filtros de Inception (o planeta "residido"
por Mann, por exemplo).
Numa linha tênue entre
piegas, constrangedor, sentimental e exótico, Interestelar sofre especialmente
pelo medo de seu realizador em criar mundos científicos que personagens não
precisam explicar cada detalhe e arquitetar tragédias dramáticas para estabelecer
vínculo emocional com o espectador. Com isto, instantes inegavelmente
comoventes (como o que Dr. Mann chora ao reencontrar um humano em sua frente)
nascem aprisionados pela estrutura. Acaba se transformando numa calamidade, a
qual nem o script seria capaz de imaginar.
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