Left
Behind, EUA, 2014. Direção: Vic Armstrong. Roteiro: Paul
Lalonde e John Patus, baseado no bestseller de Jerry B. Jenkins e Tim
LaHaye. Elenco: Nicolas Cage, Chad Michael Murray, Lea Thompson,
Nicky Welan, Cassi Thompson. Duração: 110 min.
Não
duvidaria que na construção dos personagens para o filme, os
roteiristas Paul Lalonde e John Patus não tenham começado uma
reunião com uma piada ofensiva relacionada a estereótipos, algo como: “ei,
um anão, um negro, um obeso, uma drogada, um muçulmano e um casal
de idosos entram num avião, aí...”. Pois, ainda que a ideia seja vender uma forçada diversidade, ambos nunca deixam de ressaltar
o preconceito com cada uma daquelas pessoas: o anão usado apenas
para recurso cômico, o muçulmano para ser acusado de terrorista, a
mãe que irá perder o controle, o geek que dirá todas as teorias
conspiratórias possíveis, assim por diante. E é particularmente
insultante a presença do seguidor do islã tão somente para indicar
que a religião católica é a única forma de ser “arrebatado”.
Claro que
o filme nunca esconde sua atmosfera religiosa, embora busque se
disfarçar de obra inteligente e crítica, quando centraliza suas
atenções em debates extremamente superficiais entre fanáticos e
jovens que parecem ter virado ateus depois de ouvir um programa de
rádio. Basta observar, por exemplo, a constrangedora cena em que uma
hostil Chloe interrompe uma conversa de maneira bem mal educada para
brigar com uma crente ou as citações bíblicas que dariam razões
ao apocalipse, como as guerras ou a ação do homem. Aparentemente,
aliás, Lalonde e Patus reaproveitam diálogos de outros exemplares
da franquia (também escrito por eles), quando decidem embarcar
sentimentalmente nos rompantes agressivos de seus personagens (“Deus
é a razão por ele não estar aqui agora!”).
É igualmente desastrosa a tentativa do roteiro em extrair graça dos
personagens díspares visualizados na primeira classe, que Lalonde e
Patus apontam serem os únicos que devemos prestar a atenção, já que
não haveria tempo para nos preocupar com os outros 200 passageiros.
Qual a graça de um anão sendo jogado porta a fora, assim sendo, é
algo que só os roteiristas poderiam dar explicações. Ou de como uma
arma veio parar dentro do avião não ser importante.
A direção de Armstrong, além disso, respalda esse conceito trágico
do roteiro ao criar gags dignas de comédias pastelonas dos anos
60 (e o casal de idosos confuso é uma indicação clara). Da mesma
forma, o menino assistindo escondido a uma discussão entre uma mãe
e filha ou uma corrida em slow motion enquanto barris pegam fogo
conseguem ser sequências cômicas. Sem contar o arrebatamento
espalhafatosamente visual: uma fumaça saindo das roupas de um menino
é impagável. Ao mesmo tempo, a trilha sonora de Jack Lenz é
extraordinariamente tola ao dar tons melosos desde o princípio
(sublinhando a festa surpresa que o pai faltará, a filha que
resolverá tudo, os sorrisos), além de ser impossível controlar a
risada quando Lenz sugere uma concepção quase erótica, após o
personagem de Cage tirar a aliança – digna de um cine privé.
Falhando em coisas básicas e possuindo erros de continuidade
grotescos (um ônibus caindo horas depois só para gerar uma comoção
para Chloe), a maior tensão que O Apocalipse consegue gerar é a de
uma possível continuação. E não há nada mais assustador que os
três protagonistas afastados da multidão exclamando que isso é
apenas o início.
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