Deliver Us from
Evil, EUA, 2014. Direção: Scott Derrickson.
Roteiro: Derrickson e Paul Harris Boardman, baseado no livro de Ralph Sarchie e
Lisa Collier Cool. Elenco: Eric Bana, Édgar Ramírez, Olivia Munn, Joel
McHale, Chris Coy, Sean Harris, Mike Houston, Lulu Wilson, Scott Johnsen. Duração:
118 min.
Livrai-nos do Mal é um longa-metragem que já mereceria créditos
por inverter a trama de uma maneira envolvente e instigante: a perspectiva da
polícia quanto aos casos sobrenaturais. Envolvida num cenário de assassinatos e
depravação, afinal, qual seria a visão policial quando se envolvesse numa
manifestação demoníaca ou se deparasse com um mal primário? Desta forma, a
batalha entre o ceticismo e o sobrenatural retorna às lentes do interessante
Scott Derrickson, o qual, embora traga o comodismo e sustos que não acrescentam
nada à obra, utiliza mais uma vez o drama de seus personagens como cenário para
suas intenções.
Iniciando a narrativa num ambiente de guerra, onde a morte é algo
esperado, e criando um paralelo excelente com a força policial que age no
Bronx, Derrickson alcança um tom muito mais de thriller do que propriamente
algo assustador. Orientando-se por casos que levam o espectador ao caso
principal (numa série de coincidências decepcionantes), o cineasta sempre
procura deixar seu filme nas penumbras, como se fosse indicado ao diretor usar
uma contraluz constante, salientando o mundo em que o protagonista vive no seu
cotidiano. Afinal, é o lado policial que nos intriga em Livrai-nos do Mal: atendendo os chamados, embarcamos na visão de
Sarchie e Butler acerca do que o sobrenatural significa na trama - assim, o
timing de McHale é sutil e agradável para oferecer o equilíbrio entre as duas
realidades ("Você acha que ela é
solteira?"), principalmente no assovio homenageando Família Adams.
Entretanto, sendo superficial na maneira com que lida com o ceticismo, depositando
as expectativas por sustos em cenas despropositais e formulaicas (um
encanamento, um cachorro que late, piano que toca sozinho ou um gato que sairá
do armário), a obra falha em se sustentar até o clímax. Ainda que a homenagem a Seven seja simpática (a tatuagem no
pescoço e a dupla intencional de agentes), o argumento dos amigos marines
pintores que encontram numa gruta uma entidade demoníaca é demasiadamente
exagerado. E só não soa pior, pois Derrickson é eficiente no pequeno tributo ao O Exorcista, como indica a própria cena
na gruta, o vento que traz o mal e, claro, o clímax do filme.
Além disso, é notável algumas ideias que o diretor tenta aproveitar aqui
e ali, como: um gato aberto e crucificado, a lanterna em primeira pessoa na
escuridão de uma casa, o travelling
no manicômio e, o meu favorito, a analogia entre a entrada na gruta com a
entrada num corredor que dará ao porão - o primeiro contato. Sem contar a ótima
(e assustadora) sequência que vai de uma coruja observando a casa do agente
para o confronto direto com a filha.
Dedicando-se a um fim convencional, todavia, com uma entrega absoluta
ao sobrenatural e o destino da família, Derrickson novamente versa com momentos
brilhantes, mas que são freados por algumas indecisões e falta de coragem.
Buscando soluções caricatas para objetificar o por quê Sarchie tem seus
pressentimentos e a razão de ninguém dormir sozinho numa casa, o cineasta peca
em não aproveitar o próprio formato de forma mais sólida. Rende ótimas
sequências, como a do exorcismo numa delegacia com alguém ao fundo não
acreditando no que se passa em sua frente ou a do uso da música do The Doors,
mas a execução é muito mais curiosa do que concreta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário