22 Jump Street, EUA,
2014. Direção: Phil Lord e Christopher Miller. Roteiro: Michael Bacall,
Oren Uziel, baseado numa história de Bacall e Johan Hill e na série de TV criada por Patrick Hasburgh
e Stephen J. Cannell. Elenco: Jonah Hill, Channing Tatum, Peter Stormare,
Wyatt Russell, Amber Stevens, Jillian Bell e Ice Cube. Duração: 112 min.
Existe uma
lógica na comédia atual que indica que, desvirtuando-se completamente do tom
sério e explorando o surrealismo que o gênero pode proporcionar, é muito mais
fácil o longa-metragem funcionar. "Já que não nos levamos a sério, vocês também
não podem". E julgo que o sucesso de filmes como Guardiões da Galáxia seja
exatamente este: o puro entretenimento, sem qualquer grande objetivo dramático.
É arriscado, porém, filmes que estabeleçam nessa lógica seu único recurso. Todavia, felizmente, não é o caso do simpático Anjos da Lei 2, que abraça o clima
despretensioso de maneira envolvente e divertida, fazendo com que isso,
inclusive, ofusque as repetições do filme anterior.
Brincando
com sua própria concepção narrativa, afinal, ao iniciar com uma prévia do outro
filme, assumindo-se esquecível, a narrativa de Lord e Miller sempre investe na
caricatura de seus personagens e na metalinguagem: uma obra em construção com o
nome de "23 Jump Street" ou o "dobramos o orçamento sem motivo algum" são bons exemplos. Da
mesma forma, a dupla retoma a fórmula do primeiro filme, mas acrescenta o
nosso conhecimento acerca dos protagonistas: assim, uma apresentação de poesia
fica muito mais divertida, pois já compartilhamos com Jenko outras experiências
improvisadas por Schmidt. Aliando, igualmente, gags que funcionam muitíssimo
bem durante a narrativa: e duas das melhores são as incongruências de alguém
que soa preconceituoso tentando ser politicamente correto (um "(...) ele é
negro e já passou por muita coisa" fora de hora ou "Nem ligaria se
ela fosse branca" são indicações) e, claro, o relacionamento de Schmidt
com a filha do capitão. A sequência que se passa num jantar de pais na
faculdade é impagável.
Por outro
lado, o roteiro de Bacall e Uziel é confortável demais (e desnecessário) ao
tocar novamente na discrepância física e afetuosa de algo já resolvido no filme
anterior, fazendo com que o filme pareça uma simples repetição. Ainda que
funcione em alguns momentos, principalmente nos split screens e no instante em
que decidem tomar rumos diferentes ("Devíamos investigar pessoas
diferentes" / "Uma investigação aberta, é isso o que você
quer?"), não deixa o relacionamento dos dois personagens avançar mais que
dois centímetros. Sem contar os diálogos explicativos do primeiro ato.
O mesmo para a montagem de Keith Brachmann e David Rennie, que, embora acertem na transição entre as realidades opostas dos protagonistas na faculdade, pecam no exagero: a apresentação do que eles trazem ao dormitório é um exemplo. Mas nem mesmo as danças. as aulas sem inspiração ou a previsibilidade dos pontos de virada tiram de Anjos da Lei 2 seu apelo cômico. Pelo contrário, os diretores Lord e Miller conseguem ironizar o esperado tiro de quitação ou zombar Jenko procurando dentro do bolso de Schmidt uma granada. Não deixando de citar uma agradável homenagem à Corrida Maluca.
O mesmo para a montagem de Keith Brachmann e David Rennie, que, embora acertem na transição entre as realidades opostas dos protagonistas na faculdade, pecam no exagero: a apresentação do que eles trazem ao dormitório é um exemplo. Mas nem mesmo as danças. as aulas sem inspiração ou a previsibilidade dos pontos de virada tiram de Anjos da Lei 2 seu apelo cômico. Pelo contrário, os diretores Lord e Miller conseguem ironizar o esperado tiro de quitação ou zombar Jenko procurando dentro do bolso de Schmidt uma granada. Não deixando de citar uma agradável homenagem à Corrida Maluca.
No fim,
apesar de seus problemas, Anjos da Lei 2 constrói uma obra suficientemente
inteligente para explorar sua abordagem ridícula (no bom sentido da palavra).
Seja num encontro entre os dois protagonistas num campo aberto e dúbio - um
vestido de policial e outro com uma bola de futebol americano, à frente de
bandeiras americanas - ou nos bem humorados créditos finais, a obra consegue
compreender e executar sua intenção; tornando-se, por conseqüência, um dos
bons exemplares da comédia de 2014.
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